São poucos os contos surrealistas interessantes. Pelo menos conheço poucos autores, portugueses, que os tivessem escrito tão bem como Mário-Henrique Leiria (MHL). Voltar a ler os «Contos do Gin-Tonic» (edição Estampa, 6ª edição, 2007), é sempre um prazer, quando se encontra verrugas que são segredos de estado ou muçulmanos que têm gatos com nomes tão evidentes como Moshe Dayan, Moisés ou Lolita. Ao reler estes contos, por estes dias, lembrei-me da minha amiga e vizinha, em tempos, que também tinha muitos gatos em casa. O apartamento não era tão pequeno como o de Yaffa, personagem de MHL, mas talvez tivesse tantos gatos: o Lupa, que não era o general israelita, mas apenas porque era cego de um olho, a Bexiguinha, que poderia ser uma Lolita felina de Nabokov, mas o nome derivava do facto de estar sempre no sanitário. Sinceramente, os nomes fantásticos dos outros gatos não me lembro, mas não eram Mirelle ou Sargento, outros felinos gostosos e sabedores de guerra do conto de Mário-Henrique.