Tal como referi em post abaixo, realizou-se no passado dia 9 mais uma tertúlia no CECAL/Casa da Cultura de Loulé, desta vez dedicada ao tema: O ASSOCIATIVISMO HOJE, NUM CONTEXTO DE LIBERALISMO E INDIVIDUALISMO”. O resultado, em forma de texto, pode ser lido na súmula que o Joaquim redigiu:
O associativismo tem-se constituído como espaço de voluntariado, de partilha, de aprendizagem, de solidariedade, de liberdade e responde a necessidades e aspirações concretas de grupos de cidadãos e das comunidades…
Em 2009, no âmbito de Loulé Cidade Educadora, realizou-se a “Mostra do Movimento Associativo do Concelho de Loulé ASSOCIA´09”, afirmando-se então «O associativismo enquanto espaço de livre iniciativa dos cidadãos, que se organizam para a realização de múltiplas atividades, de âmbito cultural, desportivo, recreativo e de apoio social, tem um contributo extremamente importante na formação/educação ao longo da vida, a par da resposta às necessidades sociais e de qualidade de vida da comunidade. São os clubes que colocam em movimento milhares de atletas, na formação, na competição e na manutenção. São as associações que desenvolvem atividades nas áreas do teatro, do folclore, das bandas de música e outras formas de expressão artística que promovem a prática de jogos tradicionais, que organizam as respostas sociais a idosos, crianças e pessoas que carecem de apoio, que organizam os mais diversificados grupos com afinidades de interesses e motivações».
Em que medida este desígnio e realidade se tem alterado perante uma crescente institucionalização e face à afirmação dos valores do individualismo, e ao acentuar da competição?
O associativismo como parte da sociedade, vive em permanente mutação. Decisões políticas e eventos circunstanciais, como a legislação sobre as rendas do governo Passos Coelho ou presentemente o CoVid 19, influem na dinâmica e vitalidade do movimento associativo. Mas tanto ou mais do que esses e outros eventos, é a evolução do pensamento dominante e o evoluir social que determinam as suas formas e dinâmicas.
Assiste-se da parte dos jovens, mas não só, ao surgimento de formas inorgânicas de associativismo, em função de interesses muito precisos, até momentâneos. Constituem-se grupos informais, sem compromissos de média e longa duração, com fins muito precisos.
As associações estão obrigadas a um quadro legal que requer mais estabilidade, à definição de um “objeto de vida”.
Apesar desta divergência, poderão existir pontos de convergência que importa explorar. As necessidades de apoios, de espaços, de financiamento, aproximam muitas das vezes estes grupos inorgânicos das associações e, uma boa relação entre as partes, pode conciliar as necessidades e em proveitos de todos, consolidar iniciativas e projetos frutíferos e ações mais duradouras, e robustecer a organização associativa enquanto entidade com objetivos e missão na comunidade.
Os telemóveis e as novas tecnologias vieram roubar-nos tempo para os encontros presenciais, o debate e decisão presencial, mas o associativismo tende a adaptar-se. As associações são hoje mais pequenas, com âmbitos de atividade mais restritos e focalizados, têm profissionais a tempo inteiro ou parcial – a precariedade crescente induz a que também se encontre no associativismo soluções de remuneração, ainda que por vezes pontuais e transitórias - que asseguram os aspetos operacionais da atividade, ou desenvolvem projetos específicos, os órgãos sociais são mais equilibrados com crescente peso das mulheres.
Os associativismos ambientais, pelos direitos dos animais, de combate e reaproveitamento do desperdício alimentar mostram, entre outras, motivações mais recentes capazes de motivar para o associativismo.
Os sindicatos, os partidos, as associações empresariais são formas de associação e a par deste formato convencional têm emergido e assumido papel determinante, movimentos sociais como o foram a contestação às imposições da troika, ou a luta contra as portagens, há bem pouco tempo em Portugal.
Há, no entanto, um conjunto relevante de associações “históricas” que têm dificuldade na renovação dos seus órgãos sociais e na dinamização de atividades. Importa para estes casos, encontrar estratégias de abertura e aproveitamento de motivações que ao se conjugarem mutuamente se reforçarão. Abrir as reuniões de direção aos diferentes órgãos sociais, aos associados e colaboradores das diferentes áreas…
A este propósito falou-se de experiências da Casa da Cultura: o teatro, a escrita, o Sextas, o andebol…
É necessário superar a excessiva institucionalização, voltar eventualmente a realizar iniciativas para dirigentes e dinamizadores associativos em função da realidade presente, que capacitem e ajudem a construir respostas para os desafios do presente: articular interessados no desporto com os da cultura, do teatro com os da escrita, da música, do património material e imaterial… chamar os pais, incentivar os jovens… E colocam-se os desafios das novas tecnologias como ferramenta de trabalho, a produção de audiovisuais como elemento motivador para os mais jovens.
[Hélder, Marília, Luísa, Joaquim, Otílio, Sérgio]