Com algum atraso deixo aqui a síntese, excelente, que o Joaquim Mealha produziu a partir dos contributos dos presentes na tertúlia sobre o tema em epígrafe. Entretanto, já se realizou uma nova tertúlia sobre associativismo da qual daremos nota em breve.
A súmula da conversa, realizada dia 26 de maio, em que as diferentes perspetivas e experiências, contaram para aprofundar conhecimento.
A economia local, tão pouco considerada, é a que nos ocupa, nos remunera... em círculos de proximidade satisfaz o essencial das nossas necessidades...Mas o que nos apontam como relevante é a economia exportadora que equilibra a balança comercial, dizem...
O que efetivamente hoje domina, são os mercados financeiros, a "economia de casino"...O que pensamos nós que todos os dias fazemos contas à vida?
A economia surge com a sedentarização e a produção de alimentos, a troca vai ganhando expressão com a comercialização de bens para além de cada comunidade tendo gradualmente a moeda como instrumento .
Todos recordam as grandes rotas que nos traziam do oriente sedas e especiarias e mais tarde com as “chamadas descobertas” afirmam a economia global
Economia local e global interpenetram-se…ou talvez não seja assim.
A economia global entra na economia local, mas a local dificilmente se globaliza.
Sem aprofundarmos muito a reflexão entende-se como economia local o que se produz, o que se comercializa, os serviços que se prestam por empresas locais respondendo a necessidades locias.
Mas as empresas locais podem estar a produzir, comercializar, a prestar serviços apenas com recurso a produtos e saber fazer do domínio local, ou estar completamente dependentes do que lhes chega dos mais diversos pontos do mundo, constituindo-se neste caso, como um braço da distribuição no local, dos produtos da globalização.
E apesar das novas formas de promoção e comercialização todos sabemos que os produtos de cada local, produzidos em pequena escala - uma das caraterísticas da produção local - tem enormes dificuldades em se globalizar. Também a comercialização online é dominada por gigantes da globalização.
Estamos perante dois modelos económicos distintos, com resultados distintos para a vida das pessoas.
Economia local dá-nos maior autonomia, porque estamos menos dependentes do transporte de longa distancia, dos grandes grupos que monopolizam e dominam o preço, sem preocupações sociais deslocalizam-se, exploram recursos e pessoas sem preocupações de sustentabilidade ou de natureza social.
Valorizar a produção local é promover a dinamização económica de vizinhança, porque o dinheiro circula na comunidade.
Mas a perceção e compreensão desta vantagem é algo que escapa à maioria dos cidadãos. Os produtos misturam-se, os produtos locais não são identificados, as grandes superfícies e redes da economia global jogam com essa desinformação.
Com os valores mais baixos por não ser incorporado no preço o custo do impacto ambiental por modos de produção e transporte altamente poluentes e predadores de recursos e custos sociais pela exploração de trabalhadores, as organizações da economia global, vão gradualmente eliminando a produção local esmagando-a nos preços de aquisição que decidem e controlam.
Falaram-se de algumas iniciativas que tem vindo a ser desenvolvidas, evidenciado a qualidade alimentar dos produtos locais e da economia local enquanto preservadora de técnicas e saberes, salvaguarda de territórios habitados e sustentáveis, da paisagem biodiversa - os valores e qualidade alimentar ajustada à sazonalidade da dieta mediterrânica, projetos desenvolvidos, pela In Loco e alguns Municípios – mas é preciso um esforço bem maior e a iniciativa de cidadão empenhados.
Educarmo-nos enquanto consumidores, para o bem da nossa saúde, consumirmos produtos da época pela salvaguarda ambiental e diminuição da pressão sobre recursos limitados, sermos comedidos no consumo, em particular as ditas sociedades desenvolvidas e quem detém maiores recursos económicos,.
Antes consumíamos o que havia. A geração que hoje educa passou fome, os brinquedos passavam de umas para outras crianças, éramos comedidos no vestuário.
Hoje o excesso de consumo, a pressão pela moda, pelo uso de marcas, é um sério problema pela poluição e degradação dos recursos que provoca. Os tecidos são hoje uma das grandes preocupações.
O combate ao desperdício pode e deve aproximar-nos da produção local. Os nossos problemas e desafios interpenetram-se, estão no modelo de civilização.
Os cartões de crédito tornaram-nos devedores permanentes e empurram-nos para a rede económica da globalização.
As campanhas de ajuda alimentar alimentam as grandes superfícies, não temos efetivamente respostas sociais que respondam à pessoa como um todo. Promovemos a caridade e não a solidariedade emancipatória.
Porque não se criam lojas sociais dispondo quem precisa de um cartão com um dado valor em vez da ajuda alimentar que muitas das vezes marca e avilta?
Voluntariado é muitas vezes uma panaceia para substituir trabalho necessário.
Se recuperamos os valores e a dignidade da cidadania certamente refrearemos o desejo de sucesso a todo o custo e poderemos aspirar deixar de ser consumidores endividados e submissos.