Amanhã deve estar nas bancas A Voz de Loulé de 15 de Outubro. Neste número, a coluna "Contrasenso" conta com a participação de Luís Guerreiro, com um trabalho sobre Ataíde Oliveira, que pode ler aqui:
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Ataíde de Oliveira, Benemérito do Algarve
Quem o assim apelidou, entre outros encómios, foi o grande Mestre e sábio Leite de Vasconcelos nos primeiros anos do séc. XX. Francisco Xavier de Ataíde Oliveira morreu em Loulé, em 20 de Novembro de 1915, portanto, há exactamente noventa anos. Foi um notável investigador, escritor, jornalista e sobretudo um grande monografista. Pode-se discutir o estilo, se era ou não um bom prosador, se as suas obras têm muitos ou poucos erros, mas ninguém pode pôr em causa a valia do seu trabalho, a dimensão do seu legado e o pioneirismo no Algarve de muitas áreas que aflorou. É evidente que as Monografias posteriores passaram a ser mais perfeitas, tendo presente que quem cultivou o género tinha outra preparação, outros domínios do saber e outras facilidades de investigação. Por exemplo Estanco Louro que escreveu uma excelente Monografia de S. Brás de Alportel tinha formação académica adequada com conhecimentos de arqueologia, etnografia e epigrafia. Ataíde Oliveira era Bacharel, formado em Teologia e Direito pela Universidade de Coimbra. Julgo que depois de receber as Ordens de Diácono e Presbítero, nunca exerceu o sacerdócio, embora fosse carinhosamente tratado por muitos louletanos por Padre Ataíde ou simplesmente por Padre pelos adversários políticos. Ataíde de Oliveira era do Partido Regenerador e um grande amigo e correligionário do grande Louletano Dr. Marçal Pacheco, político de grande prestígio, Deputado e Par do Reino . Aliás, diz-se que foi graças a esta amizade que Ataíde Oliveira ficou devendo a sua nomeação para Conservador do Registo Predial de Loulé, porque como era padre estavam-lhe interditos a ocupação de certos cargos públicos.
Ataíde Oliveira fundou o primeiro jornal que Loulé teve, em 31 de Março de 1889, “O Algarvio” e colaborou com dezenas de periódicos.
Ataíde Oliveira fundou o primeiro jornal que Loulé teve, em 31 de Março de 1889, “O Algarvio” e colaborou com dezenas de periódicos.
Da sua obra publicada em livro deixou-nos os Contos Infantis, Mouras Encantadas, Contos Tradicionais, Romanceiro do Algarve, Biografia de D. Francisco Gomes de Avelar e Memória do Bispado do Algarve e Monografias de Loulé, Algoz, Olhão, Alvor, Vila Real de Santo António, S. Bartolomeu de Messines, Paderne, Estombar, Porches, Luz de Tavira e Estói. Temos que admitir que perante uma tão vasta bibliografia, aliada à permanente actividade jornalística, numa época em que o Algarve estava praticamente isolado do resto do País, com dificuldades de acesso à Torre do Tombo, aos Arquivos Públicos e à inexistência de boas Bibliotecas, o seu labor deve ter sido extremamente difícil e extenuante. O que lhe valeu foi uma boa rede de conhecimentos pessoais, em particular os Padres das freguesias e muito especialmente o povo, guardião de tradições e saberes que não estão escritos em nenhum lado. Conta o Dr. Guerreiro Murta, que o conheceu pessoalmente, que Ataíde Oliveira convidava as pessoas mais idosas das freguesias a virem ao seu gabinete de Conservador do Registo Predial, onde mercê da sua simpatia e trato fácil, registava estórias, contos e velhas recordações, pagando aos mais pobres um pataco (40 réis) por cada lenda e conto ou por cada feixe de quadras. Foram estas pessoas a principal fonte do seu trabalho. Quando Ataíde Oliveira morreu em 1915, na terra que ele escolheu para viver ( ele era natural de Algoz- Concelho de Silves), Manuel Viegas d´Olival escreveu num jornal de Loulé, “O Primeiro de Maio”: “ O que o Algarve lhe deve, desculpai-me a franqueza é quase ignorado no Algarve. As suas obras literárias sobre o Passado e os encantos do Algarve elevaram-no à categoria mais alta dos homens de Letras do nosso País. Ataíde Oliveira trabalhou pela sua Província e por esta terra como um fanático trabalha pelo seu ideal”.
Quando em 2005, se assinalam noventa anos sobre a sua morte e no Algarve se comemora uma Capital da Cultura, com um Programa diversificado em vários domínios, entre os quais um conjunto de conferências sobre Ilustres Personalidades das Letras do Algarve, é pena que ninguém se tenha lembrado do maior Monografista do Algarve e um dos maiores regionalistas de sempre, com todo o significado que isso possa ter. É certo que uma Editora privada nos últimos anos tem vindo a reeditar a sua obra, que o Dr. Mário Lyster Franco tenha proposto em 1930 uma grande homenagem ao insigne investigador com a colocação do seu busto no Largo de S. Francisco em Loulé, mas neste ano especial nem uma palavra sobre Ataíde Oliveira, nem um Colóquio, um folhetozinho, um Workshop, uma medalha evocativa. Tenho esperança que ainda se faça qualquer coisa.
[Luís Guerreiro]
Quando em 2005, se assinalam noventa anos sobre a sua morte e no Algarve se comemora uma Capital da Cultura, com um Programa diversificado em vários domínios, entre os quais um conjunto de conferências sobre Ilustres Personalidades das Letras do Algarve, é pena que ninguém se tenha lembrado do maior Monografista do Algarve e um dos maiores regionalistas de sempre, com todo o significado que isso possa ter. É certo que uma Editora privada nos últimos anos tem vindo a reeditar a sua obra, que o Dr. Mário Lyster Franco tenha proposto em 1930 uma grande homenagem ao insigne investigador com a colocação do seu busto no Largo de S. Francisco em Loulé, mas neste ano especial nem uma palavra sobre Ataíde Oliveira, nem um Colóquio, um folhetozinho, um Workshop, uma medalha evocativa. Tenho esperança que ainda se faça qualquer coisa.
[Luís Guerreiro]
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nota: a coluna em papel é acompanhada de uma foto de Ataíde Oliveira.