O ‘homem’ é acusado de misoginia, vaidade, anti-semitismo e muitos epítetos mais. Entre a espada da crítica e a parede do Nobel que nunca ganhou (pelo menos em vida) Philip Roth é um escritor amaldiçoado, e querido por uma elite de leitores. Talvez eu esteja neste grupo, pois a heterodoxia política e cultural sempre me obrigou a ações e leituras menos evidentes ou esperadas. O romance «Deception» de 1990, editado no ano seguinte pela Bertrand em português com o título «Traições», estava escondido na minha estante, comprado em 26 de julho de 2007 na FNAC à espera de tempo e paciência para ser lido. A construção dos diálogos é exímia e prende o leitor de imediato, levando-o rapidamente para o final, sem preocupações que não seja a de contar uma boa história de amor, mesmo que invulgar, entre dois amantes que dissecam as suas e as vidas dos outros. Se toda a ficção é autobiografia, Roth é o padrão que orienta, ou por via dos nomes judeus das personagens (ele que também o era), ou pelas frases retumbantes que só dão razão ao que se disse lá acima. Como nos casos do adultério, que só pode ter um dos elementos a queixar-se de dissabores, senão não haveria tempo para viver a história (p. 44). Ou o que diz a Lolita amante que ia para a cama com ele: “imagine, eu só tinha vinte e um anos” (p. 52). O homem afinal sabia do que escrevia!