Ainda longe destes escritos por aqui no blog, tempos de arrumação de ideias e de práticas, olho as notas que fui tirando, na espuma dos dias, para a «Agenda do professor 2021-2022»: i) A publicação da legislação que consagra o ‘barranquenho’ como outra das línguas de Portugal, para além do mirandês, oportunidade para perceber que já chega de patrimonialização das memórias culturais, e que o que é necessário é a prática e o desenvolvimento dessa língua; parece ser esse o espírito da coisa, mas vamos ver. ii) Um filme sobre o célebre «Jornal do Fundão», que eu lia, à socapa da censura, nos tempos livres da escola em Portimão, nas salas do Boa-Esperança, sociedade recreativa da resistência; o filme de Miguel Costa (Jornal do Fundão. O sonho e as causas, 2021, RTP2) conta, num preto e branco bem contrastado, a ideia inverosímil de António Paulouro de fundar um jornal nas Beiras, que assustou a censura e marcou um momentum cultural decisivo no interior abandonado do portugal salazarento. iii) Na crónica de Gonçalo M. Tavares, na revista do «Expresso», ficamos a conhecer o povo Latuka, do Sudão, que nomeava os meses do ano com a designação das suas práticas agrícolas e culturais: outubro era ‘sol’, fevereiro ‘cavai’ e julho ‘erva seca’; nas minhas recolhas de literatura oral, nos idos da década de 1980, nas aldeias, montes e sítios algarvios, recordo nomeações denotativas semelhantes, caso de junho como ‘tempo da ceifa’ (Aljezur) ou novembro, ‘tempo da ervilha’ (Algôs). iv) Finalmente, parece que o vice-almirante se calou de vez, com o cargo na armada; já ninguém tem paciência para ouvir militares armados em sebastianistas, quer seja de botas cardadas e pingalim, quer seja de branco alvo. Por favor, leiam António José Saraiva e Vicente Jorge Silva, a cascar nos militares e, já agora, também no ‘povo’ que os segue como carneirada.