A expressão ‘distanciamento social’ não
é neutral nem despicienda politicamente. A pressão dos media, sobretudo por via das designações sanitárias das
conferências de imprensa dos governos europeus, foi impondo esta novidade
linguística no quotidiano dos cidadãos. Só que ela traduz uma negação da
relação social próxima de cidadania e, pour
cause, da democracia. Para traduzir os cuidados de contágio desta pandemia
ou de outra qualquer, o termo mais adequado será mesmo ‘distanciamento físico’.
O filósofo francês Bernard Henri-Lévy (BHL)
fala deste e de outros problemas, num dos primeiros livros publicados sobre a
temática da ‘crise democrática’, por via do Covid-19. Do confinamento que
alargou a exploração do teletrabalho, da ausência de solidariedade com os povos
ameaçados por guerras intestinas, do medo do acesso aos sistemas de saúde, da
fome e das outras doenças que matam muito mais, como a malária, em Moçambique,
ou no Bangladesh, por exemplo. Vale a pena ver a entrevista que BHL deu no
programa «Todas as Palavras», na RTP3 no dia 31 de julho, que pode ainda ser
vista na RTP Play. Para além dos aspetos citados denuncia-se ainda a
manipulação das ditaduras, o interesse dos grandes monopólios farmacêuticos e
dos oligopólios da tecnologia digital. Na entrevista participa também o
virologista Pedro Simas, que secunda grande parte dos pontos de vista do
filósofo francês.