sábado, agosto 15, 2020

Um vírus contra a democracia


A expressão ‘distanciamento social’ não é neutral nem despicienda politicamente. A pressão dos media, sobretudo por via das designações sanitárias das conferências de imprensa dos governos europeus, foi impondo esta novidade linguística no quotidiano dos cidadãos. Só que ela traduz uma negação da relação social próxima de cidadania e, pour cause, da democracia. Para traduzir os cuidados de contágio desta pandemia ou de outra qualquer, o termo mais adequado será mesmo ‘distanciamento físico’.
O filósofo francês Bernard Henri-Lévy (BHL) fala deste e de outros problemas, num dos primeiros livros publicados sobre a temática da ‘crise democrática’, por via do Covid-19. Do confinamento que alargou a exploração do teletrabalho, da ausência de solidariedade com os povos ameaçados por guerras intestinas, do medo do acesso aos sistemas de saúde, da fome e das outras doenças que matam muito mais, como a malária, em Moçambique, ou no Bangladesh, por exemplo. Vale a pena ver a entrevista que BHL deu no programa «Todas as Palavras», na RTP3 no dia 31 de julho, que pode ainda ser vista na RTP Play. Para além dos aspetos citados denuncia-se ainda a manipulação das ditaduras, o interesse dos grandes monopólios farmacêuticos e dos oligopólios da tecnologia digital. Na entrevista participa também o virologista Pedro Simas, que secunda grande parte dos pontos de vista do filósofo francês.