O Brasil é um barril de pólvora. País enorme nas desigualdades sociais e na permanente luta de classes, de géneros e de gostos, está em permanente ebulição. Hoje, dominado pela tríade dos 3B (Boi, Bala e Bíblia), percorre um tempo de angústias com o horizonte da ditadura militar, tempos de fome, miséria e exílio que o regime dos militares impôs de 1964 a 1985. Conhecemos bem este mundo, ou não tivéssemos vivido a ditadura de Salazar e Caetano durante 48 anos. Por agora, e até ao segundo turno das eleições presidenciais, escutemos as palavras avisadas do pedagogo brasileiro Paulo Freire, na sua obra de 1996 (uma das últimas), Pedagogia da Autonomia, que estou lendo: «Não posso proibir que os oprimidos com quem trabalho numa favela votem em candidatos reacionários, mas tenho o dever de adverti-los do erro que cometem, da contradição em que se emaranham. Votar no político reacionário é ajudar a preservação do 'status quo'. Como posso votar, se sou progressista e coerente com minha opção, num candidato em cujo discurso, faiscante de desamor, anuncia seus projetos racistas?».
Belas palavras que deveriam ser escutadas pelos milhões de brasileiros que vão escolher entre o coiso e Haddad.
Atualização: O blog Ladrões de Bicicletas posta um excelente e informado texto de Brian Winter, no Americas Quartely, sobre o que esperar de Bolsonaro, aqui traduzido.