A coisa não é de agora. Já em 1571, vinte embarcações castelhanas capturavam ostras na costa de Tavira, duas milhas em frente, num monte de carcanhóis que parecia uma serra, segundo os pescadores. Usavam, como hoje, ancinhos de ferro a que chamavam rastros, com saco de rede que puxavam a remos. O bergantim defensor da cidade lá navegou, aprestando velas e ostras, mas os castelhanos habituados a negociar com os algarvios - e a tê-los como mareantes nas suas costas andaluzas - prometeram boa soma de dinheiro e a venda de ostras na cidade de Tavira, em troca da licença. A conversa fiada não foi aceite, porque os pescadores reivindicavam a sua pesca*. Os olhanenses, esses mais espertos, lá pescavam na costa marroquina de Larache, muitas vezes sem licença. E muitos outros algarvios, em pequenas embarcações, faziam o mesmo nas costas da Andaluzia, entre Ayamonte e Cádiz. Foi esse comércio que fez a interação económica durante séculos, no triângulo hispano-luso-marroquino, como diria Romero Magalhães e que construiu o que algarvios e andaluzes são nos dias de hoje.
*A história é inspirada na Corografia do Reino do Algarve, de Frei João de São José, de 1577.