Confesso que este ano as comemorações do 25 de abril não me aquecem nem me arrefecem. Pergunto-me porquê. E talvez encontre a resposta na legitimação que a burguesia e o capitalismo fizeram da revolução. Diria melhor, da sua revolução. Sim, talvez fosse melhor falar, como sugere Bourdieu, de revoluções. E na verdade, o que se comemora hoje (este hoje representa muitos anos) não é a revolução do PREC (quem não sabe o que é, pesquisa), nem a do poder popular, mas a da 'normalização', como referia Stoer. Eu, que a vivi em «acto», naquele dia, custa-me ver alguns dos seus heróis colocados no palco, deixando a plebe na plateia, sujeita a convite democrático, plasmado em bilhete, para assistir à nomeação da revolução.
Por tudo isto, tem toda a razão o João Martins, que faz da 'arruaça' a sua arma democrática. E eu quero dizer que estou com ele, e apoio o seu grito em defesa da democracia e não deste 'abril'.
1º de maio de 1974 em Portimão