
domingo, julho 31, 2011
Enrique Vila-Matas

Leitura obrigatória de fim de semana
sábado, julho 30, 2011
Mais abate de árvores, não!
sexta-feira, julho 29, 2011
Como lutar contra as portagens
Já manifestámos neste espaço o nosso total desacordo em relação à imposição de portagens numa estrada que não é scut, nunca foi em 70 por cento do seu traçado e já está paga. Os algarvios não estão a utilizar um benefício intitulado «sem custos para o utilizador», como acontece noutras vias construídas neste sistema e que estão a ser suportadas na base das tais parcerias público-privadas.
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quarta-feira, julho 27, 2011
Mais um bocado do conto
O e-scravo subversivo
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O resultado de tal inovação e criatividade, de que toda a gente tinha a boca cheia, era o atraso sucessivo dos homens e das mulheres na entrada da fábrica. O e-scravo tinha sido acertado pelo relógio da torre da igreja, a matriz do século dezasseis em permanente ruína física e moral, mas cuja torre ainda suportava as horas badaladas de sessenta em sessenta minutos. Aquela máquina nunca falhava. De tal modo que o seu filho Dulcério, apaixonado pelas guitarras eléctricas, utilizava aquela sonoridade para servir de metrónomo e de afinador da sua Fender. Mas se aquele horário cristão nunca falhara, como era possível que o e-scravo andasse permanentemente atrasado, sobretudo nas horas de entrada, no início da manhã e após o almoço?
A areia estava quente e fina, como sempre, escorregando com delicadeza por entre os dedos dos pés, grão a grão, voltando de novo a caír para definir as suas pegadas firmes e regulares. Aquela praia, na margem do rio, construída anos a fio com os aluviões mestiços das descargas de terra argilosa da serra e das enchentes das marés vivas do oceano, era o paraíso de Maria Antónia. E fora aquela praia que decidira olhar, de novo, quando ali regressara.
Tinha chegado à aldeia – a que ela preferia chamar bairro – após muitos anos de ausência na cidade, na qual trabalhara e estudara ao mesmo tempo. O que aprendera, em muitos empregos diferentes, definidos temporalmente pelo contrato individual de seis meses certos, enchia agora as quatro páginas do seu curriculum vitae. Nas mãos do mestre da fábrica, aquelas quatro folhas pareciam um livro, o livro da sua jovem vida de pouco mais de duas décadas que estava a entusiasmar o homem, defensor da instrução do corpo e da alma daquela juventude perdida entre televisão, drogas e sexo. Começas amanhã, como manipuladora de peixe, que é por aí que todas as mulheres se iniciam neste mister, dissera-lhe o chefe de fabrico da produção, o topo da pirâmide industrial daquela fábrica de peixe. E remata-lhe, afirmando a superioridade masculina do território: Ou pensavas que entravas aqui como mestra, não? Lá por teres vindo da grande cidade e teres assentado o cú em muitos escritórios, não penses que és a mais competente. Nem essa aldrabice das novas oportunidades te serve. Enquanto afirmava o seu mando, olhava os olhos e a face daquela mulher, quase impassível, tão calma quanto a figura da Mona Lisa, pespegada no quadro de parede do seu escritório, já gasta dos aromas de salmoura do peixe cozido e do levante oceânico de Marrocos. Percebeu, de imediato, que a mulher era inteligente e talvez lhe viesse a dar problemas. Mas naquele verão quente, com mais sardinha no mar do que água salgada, não podia desperdiçar um par de mãos que se oferecia, provavelmente ágil e certeiro a cortar a cabeça da sardinha e ainda mais preciso a deitá-la na lata azeitada.
quinta-feira, julho 21, 2011
Via do Infante sem portagens

quarta-feira, julho 20, 2011
Mais um naco de conto à 4ª feira
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Voltou a lembrar-se da tal Maria Antónia. Que raio! Se ela era pouco mais nova do que ele e trabalhava ali naquela fábrica arcaica, onde a sua mãe deixara o corpo e a alma, mas ganhara artroses nas mãos e nas costas, ele deveria conhecê-la. Aquele nome, outra vez, a martelar-lhe os ouvidos e a calcar-lhe as têmporas. Desde que saíra da aldeia e rumara à capital da sua ambição, nunca mais voltara àquela terra. Agora que tinha sido transferido, ao abrigo da lei da mobilidade e da flexibilidade das aprendizagens de novas competências que o governo lá tinha inventado, logo teria de vir parar àquele lugar. Como se fosse obrigado a olhar-se, demoradamente, naqueles espelhos de feira da sua infância, ora côncavos, tornando-o mais anão do que criança, ora convexos, fazendo-o parecer o magricela do gigante de Moçambique que vira numa qualquer feira de S. Martinho.
À porta da fábrica, o mestre de fabrico controlava o seu velho relógio de ponteiros. Debaixo do vidro, baço de muitos riscos, os ponteiros marcavam oito horas, e nada. Onde estavam os seus operários e operárias que costumavam marchar silenciosos e apressados, em fila, nos saudosos tempos da sirene estridente de vapor, que emergia da caldeira de carvão nos anexos da fábrica? Ele, que tinha levantado o braço, contrariado, para votar a favor daquele novo instrumento sonoro, gostava ainda mais dos idos da buzina. Nesses tempos, o seu homem percorria de bicicleta todo o bairro e arredores, soprando o grande búzio do mar, como se fosse o saxofone da filarmónica da recreativa rica, onde aprendera a tocar e da qual saía para feiras, romarias e saudações aos presidentes da república, eleitos ou não.
Ele sabia de quem era a culpa daquela merda. Aquela Maria Antónia, armada em revolucionária, é que tinha proposto que a chamada para a fábrica fosse feita através do e-scravo, um dispositivo electrónico em forma de cravo que o presidente da república mandara conceber e entregar a todos os trabalhadores, para que assim pudessem estar em permanente contacto, vinte e quatro horas por dia, com todos os membros do gabinete gestor da nação. Mas por que razão aquela gente, que vivia em barracas e era quase toda analfabeta, tinha que possuir telemóveis, plasmas de TV, automóveis trocados pelo abate e, ainda por cima, o e-scravo? Aquela flor de tecnologia que só os antigos alunos do liceu eram capazes de manobrar? Tudo por culpa daquela mania da representatividade mais participada do raio da cidadania, que o seu patrão, aquele de quem era um extremoso colaborador, agora tinha inventado. Era por essas e por outras que qualquer uma – sim, por que as mulheres sempre foram mais escorregadias do que as enguias – vinha agora com ideias, como a Maria Antónia naquela reunião sobre a produtividade e a competitividade das conservas de peixe num mundo globalizado, que o presidente da Câmara tinha convocado.
quarta-feira, julho 13, 2011
Mais um bocado de conto
O E-SCRAVO SUBVERSIVO
[2]
A jovem tinha o nome da sua mãe, chamava-se Maria Antónia. Na ordem escrita não constava mais nome nenhum. Talvez a polícia não os conhecesse, ou seria a rapariga que teria apenas dois nomes? Uma situação estranha nestes tempos de cidadania, em que o comum seria cada pessoa ter dois sobrenomes, apostos pela discriminação hierárquica de género: primeiro o da mãe e a seguir o do pai, deixando à paternidade a identidade perene.
Lembrava-se de ter confirmado que a sua mãe também tinha apenas aqueles dois nomes. Maria Antónia, estava escrito no bilhete de identidade que guardara na caixa dos sapatos pretos sem cordões, comprados para calçar no funeral dela. Recordava-se de o ter olhado algum tempo, aceitando, por fim, o que a sua mãe sempre lhe dissera, que aquele era o seu nome, e chegava para ela, não descendia da nobreza da terra, nem tinha famílias de brasão e anel.
Esqueceu aquela insistência sobre um nome vulgar, uma coincidência que também o chamava para a mesma família de palavras, através do nome que lhe deitaram ao nascer: António. Dobrou a folha amarelada e guardou-a no bolso interior do casaco cinzento, bem assertoado ao corpo esguio, decidido a resolver aquela tarefa de uma vez por todas. Era a sua primeira prova de fogo como polícia do trabalho. Sabia que lhe tinham atribuído aquela acção para o testar. Ou tinha tomates para ir buscar aquela mulher prevaricadora e subversiva e interrogá-la como nos velhos tempos, ou então seria corrido para a aldeia decrépita e miserável onde nascera e crescera, entre estrumeiras, barracas e peixe seco.
Indireitou o corpo ainda mais, como se quisesse ficar perto do céu, olhou e aspirou o perfume do mar naquela manhã luminosa e limpa, e entrou no carro eléctrico que havia comprado a crédito, caro, mas carregado de eficiência energética e limpo de combustíveis fósseis. Dirigiu-se para a fábrica que ficava do outro lado da cidade, na margem do rio que bem conhecia.
Fora nas suas águas que se tinha iniciado na vida adolescente do sexo e do roubo, primeiro com os jovens mais velhos das periferias operárias da cidade, depois, ele próprio se encarregou de chefiar o grupo. Foram os reis da praia, entre os primeiros turistas descidos no novo aeroporto, mulheres jovens, brancas como lulas frescas e camones chatos como a potassa, que não largavam o pé das miúdas. No rio, denunciava já as suas qualidades de coragem e temeridade, lançando-se, de braços abertos, de cima da ponte ferroviária para as águas lodosas e baixas do rio na baixa mar. O Zé Merra tinha partido o pescoço, num mergulho na praia, mas esse era estúpido e não calculava o risco, que ele aprendera a medir, cheio de calculismos e previsões lógicas. Só uma profissão de prestígio físico e moral, ao serviço da pátria, o poderia esperar nos anos activos e estatísticos da vida profissional.
terça-feira, julho 12, 2011
Do ritual do saudosismo

sexta-feira, julho 08, 2011
O futuro da luta contra as portagens passa pela organização
Amigos/amigas:
No próximo sábado reuniremos, em Loulé, para discutir o balanço da nossa ação em defesa de um Algarve livre de portagens, e para ver o que faremos no futuro para mantermos viva a ideia e a prática de rejeitarmos mais taxas que nos empobrecem e a toda a região, nestes tempos difíceis.
Uma das possibilidades, que já tínhamos previsto, é a criação de uma estrutura formal que melhore a nossa organização e eficácia neste combate, por exemplo uma associação de cidadania. Com esta estrutura poderemos ter uma palavra mais presente e uma intervenção mais respeitada junto das entidades do estado, bem como uma maior agregação dos cidadãos e cidadãs que, no Algarve, se preocupam com a mobilidade, quer seja na Via do Infante ou em qualquer outro sistema, ferroviário, ciclista, pedonal, etc.
Julgo, por isso, que a reunião de Loulé, no dia 9, deve ser alargada a toda a gente que queira associar-se à ideia de defesa de uma mobilidade mais justa e moderna, sem custos para os utilizadores e que promova a inovação de formas de transporte ambientalmente sustentável. Na reunião será importante que cheguemos a um consenso sobre o objeto da associação, que deve ser o mais alargado possível (respeitando o princípio de mais ser melhor que menos, pois não se sabe o futuro). Outra medida decisiva seria a nomeação, aceite por toda a gente, de uma comissão instaladora que representasse uma amplitude de personalidades e locais do Algarve e que abrisse caminho à formalização da associação. Independentemente de quem estiver presente na reunião, a nossa ação deve ir-se alargando a novas pessoas, a outros movimentos de opinião que, no Algarve, têm mostrado interesse nos assuntos da mobilidade e têm estado connosco nas lutas contra as portagens na Via do Infante, ainda a nossa luta principal.
Como esta coisa de associações obriga-nos a ir pensando no dia a dia, deixo um nome provável para a mesma:
Associação de Cidadania para a Mobilidade no Algarve
Acrónimo: ACiMA
Cumprimentos de amizade,
Helder Raimundo.