Na RTP1 discutem-se as cheias de 1967, nas quais morreram milhares de pessoas, nos concelhos à volta de Lisboa. Tinha 10 anos na altura, mas lembro-me dos comentários sobre as desgraças, muito próximas das nossas, ali junto do leito argiloso e arenoso do Rio Arade. Se foi um motivo para os estudantes de Lisboa iniciarem um caminho de busca ideológica, pela prática da vida, para mim serviu-me, sempre, para amar a chuva, a água derramada fresca dos céus. País pobre, onde as pessoas morriam nas cheias, país de fé, que armava romarias a pedir água de Deus, país triste que censurava os números da catástrofe. Ontem, de madrugada, choveu. Agora, madrugada de segunda, chove ainda.