quarta-feira, agosto 31, 2005

Alegre e tropo [actualizado]

Foi triste e feio Alegre ter acusado o PC e o Bloco de um acordo com o PS, para o apoio a Mário Soares. Foi a pior forma para obscurecer a sua justificação na recusa em se candidatar. Não quer perceber que à sua volta não está ninguém, porque os potenciais apoios internos não estão dispostos a perder os lugares no comboio de Soares que está há muito em andamento. Se fosse realmente corajoso avançava, mesmo sem o apoio do seu partido. Mas isso – tal como um amante despeitado ou um amigo traído – ele não foi capaz de o fazer. Tal como eu já tinha previsto aqui, há dias.
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A propósito de candidaturas presidenciais, não deixa de ser interessante o retrato de Mário Soares por Manuel Alegre no livro Retrato, da Livraria Clássica Editora, 1990. Passo a citar os últimos três parágrafos do artigo com o título "RETRATO DE MÁRIO ENQUANTO MÁRIO":
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" E talvez seja a grande revolução que ele fez num país cansado de crispação: trazer a afectividade para a política. É, a par da coragem, a sua arma mais eficaz. E por isso ele é de facto, irresistível. E também imprevisto. Com o Mário, o inesperado pode sempre acontecer. Desenganem-se os que o julgam sentado sobre uma por vezes aparente lassidão. De repente ele salta. Para sacudir o marasmo e de novo forçar o destino. Sempre que tal acontece, o telefone toca em casa de alguns amigos. Fica-se então a saber que há uma nova caravela e uma nova partida. Às vezes um combate. Às vezes um desígnio, um sonho, uma inquietação, o que é também uma forma de poesia."
(Pedro Souto) - No Abrupto.