Os agentes culturais do Algarve - pelo menos os que responderam ao apelo - gravaram um vídeo a apelar a toda a gente para ficar em casa (vídeo divulgado no SulInformação, aqui). Neste contexto de pandemia a ideia é boa e aconselha-se. Mas talvez seja bom lembrar algumas coisas simples:
- O meu filho mais velho sai de casa, todos as madrugadas, para repor os bens que aqueles que ficam em casa vão ter de comprar;
- O meu amigo Joaquim vai ter de cavar a horta, ali perto de casa, para ter alguns legumes para a sopa da noite;
- O meu colega Sérgio tem algumas saídas para o mar, onde tenta pescar alguma coisa que permita alimentar a família que, por acaso, é numerosa;
- E ainda, nem por último, a minha amiga Luísa lá estará todos os dias no Centro Hospitalar do Algarve, a tratar em condições precárias todos os doentes... (os nomes não são fictícios!).
A indústria da cultura é rápida a converter os estrangulamentos. Após perder o espaço público, há que produzir para o espaço doméstico que, hoje, como sabemos é uma mina nas ditas redes sociais. Em tempos, como se lembra quem estuda estas coisas, tinha sabido converter o consumo doméstico de 'cultura', na massificação consumista na esfera pública.
Por isso vos digo: vou fazer uma caminhada, acompanhado, e volto já para casa!