A propósito de uma viagem de
comboio, Pedro Mexia (Expresso de 24 de novembro) fala do livro de Agustina «As
Estações da Vida», que sendo sobre os painéis de azulejos das estações, é
sobretudo sobre a viagem. Das recordações de viagens de comboio lembro os dois
anos em que estudei em Silves, quando os assentos de pau não fazim mossa nos
corpos juvenis, habituados ao tempo das descobertas da sexualidade, da boémia e
da vadiagem. Por isso foram dois anos e não um, como deveria ser até ao acesso
ao liceu de Portimão, onde vivia. Também foi numa dessas automotoras que a Pide, nos vigiou e seguiu, após alguns discursos intrusivos e críticos do
regime. Falo disto no conto ‘Trinta Anos Depois’, escrito aquando das
comemorações dos 30 anos do 25 de Abril e publicado na revista Bestiário (agora
apenas editora; mas o conto pode ser lido em breve nos meus arquivos).
Há uns anos, a pedido dos meus
filhos que só conheciam as viagens de automóvel, viajamos de comboio entre Loulé
e Faro, olhando com tempo as paisagens ainda rurais da passagem do trem. Nessa
viagem, o revisor deixou um bilhete autografado como recordação aos miúdos,
deixando também parte da sua alma de viajante.