(...) A minha Lolita tinha uma maneira muito sua de levantar o joelho esquerdo dobrado, no amplo e elástico início do ciclo do servir, criando, e deixando pairar ao sol durante um segundo, uma teia vital de equilíbrio entre as pontas dos pés, a prístina axila, o braço bronzeado e a raqueta lançada muito para trás, um segundo em que sorria, de dentes cintilantes, ao globo suspenso tão alto, no zénite do potente e gracioso cosmos que ela criara com o objetivo expresso de lhe cair em cima com o estalido vibrante do seu chicote dourado. (...)
Nunca se escreveu melhor sobre o ato de servir a bola de ténis. É desta beleza de imagens simbólicas que se faz a grande literatura. E é por isso que eu decidi, por estes dias, só ler os clássicos (para além de coisas menores, entre os lençóis à espera do sono). O Adeus às Armas, do Hemingway, depois de esperar algum tempo na cabeceira, foi-se. Por ora termino Lolita, do Nabokov, um provocador inteligente, do qual se percebe ser o autor da citação acima.