sábado, julho 28, 2007

Exemplos

Sentei-me no banco instável de madeira, a imitar um assento de jardim, ali mesmo no centro de toda a literatura de supermercado. Enquanto os meus filhos deitavam abaixo os livros das estantes juvenis ou viam os brinquedos do consumo de massas e a minha mulher fazia as compras da semana (já sei, desculpem lá, mas eu não sou homem de andar a escolher iogurtes e a pesar batatas), eu lia avidamente os contos restantes de Max Aub nos “Crimes Exemplares” da Antígona, que tinham ficado das últimas duas surtidas:

Desde que nascera o miúdo só sabia chorar, de manhã, à tarde e até à noite. Quando mamava e quando não mamava; quando lhe dávamos o biberão e quando não lho dávamos; quando íamos passear com ele e quando não íamos; quando o embalávamos para adormecer, quando lhe dávamos banho, quando lhe mudávamos a fralda, quando saíamos e quando voltávamos para casa. E eu tinha que acabar aquele artigo. Prometera entregá-lo até ao meio-dia. Era uma obrigação para com o meu confrade Rios. E eu cumpro as minhas promessas. E o miúdo chorava, chorava, chorava, E a mãe... Bom, mais vale não falar da mãe. Atirei-o pela janela. Asseguro-lhes que não havia outra solução.