quarta-feira, novembro 29, 2006

Para quem disse que eu não falava de Cesariny

O Raul Leal era

O Raul Leal era
O único verdadeiro doido do "Orpheu".
Ninguém lhe invejasse aquela luxúria de fera?
Invejava-a eu.

Três fortunas gastou, outras três deu
Ao que da vida não se espera
E à que na morte recebeu.
O Raul Leal era
O único não-heterónimo meu.

Eu nos Jerónimos ele na vala comum
Que lhe vestiu o nome e o disfarce
(Dizem que está em Benfica) ambos somos um
Dos extremos do mal a continuar-se.

Não deixou versos? Deixei-os eu,
Infelizmente, a quem mos deu.
O Almada? O Santa-Ritta? O Amadeo?
Tretas da arte e da era. O Raul era
Orpheu.

[de "O Virgem Negra" por M. C. V. (Mário Cesariny)]

sábado, novembro 25, 2006

Lobo, Graça, Rómulo...

Ainda há pouco, no Câmara Clara, na 2:, Paula Moura Pinheiro referia que Lobo Antunes considerava Vasco Graça Moura o melhor poeta português vivo. Graça Moura, presente no programa, disse que António Gedeão, aliás Rómulo de Carvalho, foi um dos maiores poetas portugueses do século XX. O que diria Rómulo de Lobo Antunes?

Rómulo e Remo

Sim, hoje não li António Gedeão; ou Rómulo de Carvalho se quiserem. É que tenho estado a ler Enrique Vila-Matas.

quinta-feira, novembro 23, 2006

?

O Remexido, mais conhecido por A terra do João Semana, deixou de emitir sobre patos, caça miúda e planos desportivos. Mudou de sítio? Mudou de IP? Ou é mais uma vítima do anonimato na blogosfera?

sexta-feira, novembro 17, 2006

Nacionalismo

Ontem, a propósito do aniversário de Saramago em Azinhaga do Ribatejo, o jornalista da SIC expressou a velha asneira nacionalista: "Azinhaga, que no concurso da aldeia mais portuguesa de Portugal obteve, a seguir a Monsanto, o 2º lugar". Vá ler! Shame on you.

Cavaco e Sócrates

Quem viu, ontem, a entrevista do presidente da república percebe perfeitamente o que muita gente disse na campanha eleitoral (fui um deles): "O candidato de Sócrates é Cavaco Silva e Soares apenas uma manobra de diversão". Acho que, agora, todos entendem.
Adenda às 23.50h.: Mas ainda há quem ache que ali esteve presente "o sentido de estado e a responsabilidade".

quinta-feira, novembro 16, 2006

A propósito do post abaixo

"Das complexidades inadmissíveis da nova terminologia linguística para os estudantes do ensino básico e secundário (TLEBS) já se tem falado com mais ou menos pormenor. Da dificuldade de adaptação dos professores à nova terminologia, bem como ao seu manuseio, e da impossibilidade prática de os alunos a compreenderem, também já se falou, antevendo-se as piores catástrofes. Da preparação de manuais que a apliquem tem-se falado menos".
Ler o resto da crónica de Vasco Graça Moura no DN
*
Também Francisco José Viegas escreve sobre o assunto:
"Tenho estado a tentar exercitar-me na TLEBS, ou terminologia linguística para os ensinos básico e secundário (disponível aqui). O trabalho não tem sido fácil, porque a TLEBS é absurda. Vasco Graça Moura tem sido uma das vozes, senão a principal, a insurgir-se contra esse desmando a perpretar contra o ensino do Português. Recentemente, Maria Alzira Seixo na Visão (o que permitiu um pequeno post scriptum a E. P. Coelho no Público) escreveu um artigo notável".

Protesto estudantil em Loulé

Há minutos tive de parar o carro na rua de acesso à Escola Duarte Pacheco, em Loulé (2º e 3º ciclos). Os alunos desfilavam gritando "Queremos uma nova ministra!". Eram miúdos de 13 a 15 anos agitando cartazes coloridos sobre as aulas de substituição. Marcavam presença nos protestos nacionais que estão a decorrer hoje.
Do alto do seu paternalismo evidente temos ouvido os desabafos dos mais velhos, criticando o jeito juvenil de fazer política. Mas há uns anos nós éramos assim: protestos, coesão, partilha do gosto da ofensa e da crítica. E aprendemos muito do que hoje sabemos. Acreditemos que estes miúdos constroem o seu caminho de cidadania, desta e de outras formas velhas ou por inventar.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Todos temos o nosso Amadeo

De cara destapada

O Remexido, José Joaquim de Sousa Reis, desde que debutou na igreja de SB de Messines, deu a cara pelo miguelismo na revolução liberal. Em Faro foi julgado, condenado e executado de cara destapada. A história nunca se repete!

sexta-feira, novembro 10, 2006

O moço Saramago

Em entrevista ao Estado de S. Paulo (Brasil) Saramago disse:

"Chegou a hora de fazer a minha confissão. Eu pertenci à juventude salazarista, que se chamava Mocidade Portuguesa. Pertencíamos todos: alunos da instrução primária, do ensino secundário, do ensino superior, todos sem exceção. Era, por assim dizer, automático. Digo no livro como consegui escapar a usar o fardamento e creio que essa foi a minha primeira vitória contra o fascismo. Mais não podia fazer. E para a revolução ainda era cedo" [sublinhado meu].

O facto de gostar da obra de Saramago, não me coíbe de mostrar a minha perplexidade pelo rídiculo de algumas ideias manifestadas na entrevista e mais pelo revisionismo que ele faz do seu passado. Nem todos fomos membros da Mocidade; nem todos marchamos de botas cardadas sem excepção. Entre muitos, eu fui um dos que aquela escumalha não apanhou. Nem que para isso tivesse de desaparecer uns dias da escola do ciclo preparatório (tinha 11 anos); nem que para isso tivesse que rumar, aos 15 anos a outra cidade e a outra escola, quando o liceu estava infestado de fardas e de bivaques. E não me ando a gabar de vitórias sobre o fascismo. Shame on you!

quinta-feira, novembro 09, 2006

A "Cartilha" dos media

A alguns media, daria muito jeito que o Nobel da Paz fosse para Bono ou Geldof. Bem, eu sei quem são estes tipos e na verdade pouco me interessam. Geldof como músico é uma nulidade e é quase opaco a defender causas.
Bono vive do prestígio da música apesar de, confesso, gostar dos seus primeiros álbuns. Mas o comité do Nobel tem ouvidos moucos e vistas curtas para a comunicação e deu o prémio ao criador do conceito de microcrédito, Muhammad Yunus.

[Ler a minha crónica, completa, no «barlavento».]

quarta-feira, novembro 08, 2006

Clifford Geertz

Também eu queria ter falado dele há dias, quando soube da sua morte. É uma das minhas referências intelectuais mais recentes. As suas perspectivas do conceito de 'cultura' são extremamente inovadoras; as suas teorias sobre as interpretações da cultura denotam uma frescura essencial na actualidade. É um dos meus marcos teóricos incontornáveis na tese que estou a desenvolver. Dele, usei algumas concepções na comunicação que fiz, no passado fim de semana, no Encontro sobre Tradições Orais, em Querença.