sexta-feira, novembro 10, 2006

O moço Saramago

Em entrevista ao Estado de S. Paulo (Brasil) Saramago disse:

"Chegou a hora de fazer a minha confissão. Eu pertenci à juventude salazarista, que se chamava Mocidade Portuguesa. Pertencíamos todos: alunos da instrução primária, do ensino secundário, do ensino superior, todos sem exceção. Era, por assim dizer, automático. Digo no livro como consegui escapar a usar o fardamento e creio que essa foi a minha primeira vitória contra o fascismo. Mais não podia fazer. E para a revolução ainda era cedo" [sublinhado meu].

O facto de gostar da obra de Saramago, não me coíbe de mostrar a minha perplexidade pelo rídiculo de algumas ideias manifestadas na entrevista e mais pelo revisionismo que ele faz do seu passado. Nem todos fomos membros da Mocidade; nem todos marchamos de botas cardadas sem excepção. Entre muitos, eu fui um dos que aquela escumalha não apanhou. Nem que para isso tivesse de desaparecer uns dias da escola do ciclo preparatório (tinha 11 anos); nem que para isso tivesse que rumar, aos 15 anos a outra cidade e a outra escola, quando o liceu estava infestado de fardas e de bivaques. E não me ando a gabar de vitórias sobre o fascismo. Shame on you!