Quando o pai dele morreu, levei-o silencioso. Andamos sem destino, mas a estranheza da morte levou-me a caminhar para a mata, uma pequena floresta de eucaliptos, onde lembro de ter disposto alguns sacos pretos com sementes.
Ali, sentia-me protegido das desgraças inapercebidas do mundo. Parando junto a um eucalipto, já muito alto e magro, o meu amigo chorou. Teríamos nove, dez anos? Não me lembro bem.
Mas sei que depois de termos olhado o rio, ali mesmo à nossa frente, ele voltou a lembrar-se de como era a vida. Só muito mais tarde compreenderia o seu regresso. A noite passada tinha dormido debaixo do mesmo teto, perto de um pai morto. A mãe mantivera-se acordada ao lado do pai morto, sem apelar aos vizinhos a dor da alma; e ele cumprira o prometido: só chorar no dia seguinte.
[publicado na revista brasileira de minicontos VEREDAS (aqui) ]