Se há uma crise que me preocupa deveras, ela é sobretudo a crise da crítica. Provavelmente, é a capacidade e competência em exercer uma crítica inteligente aquela que mais sofre com o mundo arrasador da crise ideológica e política. Sem ela podemos assistir à agitprop perigosa do primeiro ministro, às manifestações imberbes da discriminação e xenofobia social sobre os processos migratórios, à devastadora mobilização do pão e circo das festas de verão pagas com as 'dívidas soberanas'. Restam, no pensamento crítico, os cidadãos que se recusam a deixar de ler, pensar e fazer umas simples contas, ou os sociólogos ou cientistas sociais, que remam contra a corrente e que muitas vezes sem remos são acusados de malucos e radicais.
A propósito do que nos entra pelos olhos dentro, ou que buscamos entender do que se esconde nos bastidores da administração política, quer seja no governo da direita austeritária, ou na Câmara socialista de Loulé obriga-nos, com toda a sinceridade, a afirmar a total concordância com o João Martins. É esse caminho, da resistência inteligente, que temos que prosseguir e perguntar-mo-nos: não há ninguém que se revolte pelo facto de a tribuna do salão nobre da Câmara de Loulé ter servido de discoteca ambulante na Noite Branca? Não há ninguém que se pergunte para que serve um IKEA a devastar a reserva agrícola em terrenos próximos da via das portagens? Se não há ninguém, bardamerda! Então, temos que voltar à revolução.