Ontem, Adão Contreiras apresentou o seu mais
recente livro de poemas, Ouro e Vinho,
editado pela 4Águas Editora. O comentário de Tiago Nené sobre o livro conteve
aspetos que me interessam abordar, já que conheço o Adão.
1. “O voyuerismo do olhar”: Adão é um
observador nato e consegue estar dentro e fora da realidade. Se há algo de curiosidade
no olhar do que se escreve, o que conta aqui é mais o resultado desse
desenlace. Trata-se de um olhar para ver e interpretar, talvez na senda atual de
um Baudelaire. Adão entra e sai de cada poema com facilidade.
2. “O poema em direto”: A escrita poética
momentânea, não é direta. Adão carrega atrás de si muitos anos de leitura,
escrita, anotações. Quando escreve traduz um tempo passado, mesmo que o ato
seja presente, que já não o é. Hoje sabemos que a nossa escrita é sempre a
reinterpretação de algo, mesmo que seja apenas a interpretação do que vemos.
Também se trata de uma interação, pois o autor não está isolado numa redoma,
mas presente e em ato,com o que se passa, ou com o momento sobre o qual
reflete, escrevendo mais tarde.
3. É comum, entre as várias expressões
artísticas atuais, chamar a atenção para o vazio do futuro ato criativo. Por
exemplo os fotógrafos fotografam cada vez menos. Isto decorre da visão futura
do artista, como se já conhecesse o resultado final. Adão confessa já quase não
ouvir música, mas ela estará presente no ritmo da escrita poética. Os poemas do
autor são também eles uma construção artística, pictórica ou escultórica. Adaõ
escreve como pinta e esculpe e ele já sabe o resultado final da obra.
Helder Raimundo, 12 out. 2014