De facto a entrevista de João Semedo, líder
do Bloco de Esquerda, ao semanário Sol,
diz mais do que parece. A primeira constatação é a de que a ideia de
influenciar a governação passa apenas por propor ou aprovar com outros setores
da esquerda, no parlamento, legislação e princípios defensores do estado social
e de causas da modernidade: igualdade, justiça, etc. Ora, alargar essa ação
política a outras formas de governação,
com os setores mais à esquerda do PS (e sobretudo com os seus eleitores) e com
outros partidos e movimentos de convergência de esquerda, não parece ser a lógica
política do BE. Os exemplos que Semedo dá dos sucessos da sua co-liderança, são
disso exemplo.
Mas Semedo afirma aquilo que já sabe que
muita gente pensa o contrário: “O BE não é só um partido de protesto, existe
para disputar o poder”. As suas palavras indiciam exatamente o contrário, pois
a segunda parte da resposta fala numa mudança que ninguém sabe o que é. A não
ser que o BE perspetive uma aliança com o PCP com vista ao poder, com o qual,
segundo ele, converge diariamente no parlamento. Semedo esquece (tendo sido
militante do partido, é estranho) que o PC está recluso da/na sua fortaleza,
jogando com os sindicatos a sua força política nas eleições, e não está
interessado em nenhum acordo com o Bloco. Aliás Oliveira, seu líder parlamentar,
disse-o há dias a propósito das eleições presidenciais.
Quanto ao ex-líder Louçã, Semedo afirma-se
autónomo da sua influência, mas toda a gente vê uma liderança à distância.
Louçã afirma-se nos media como um
político de convergências alargadas (manifesto dos 74, manifesto dos
economistas, blogue do jornal Público),
mas nas posições internas como um político de reduções radicais fechadas. E o
BE navega nesse caminho.
Nas páginas do semanário citado acima, outros
artigos dão conta de um movimento de esquerda com vista à defesa, nas próximas
eleições legislativas, de uma plataforma política de esquerda alargada e
aberta. Bons ventos de sudoeste!