A corrupção dos profissionais da atividade política - treinados nos aparelhos partidários, nalgumas universidades e empresas monopolistas - tem vindo a afastar muitos cidadãos da intervenção política e cívica. A resposta à falta de participação é encontrada, por um lado nos movimentos sociais, quase sempre exógenos e de rejeição aos principais partidos e, por outro lado, numa negação e desconfiança da ação política nacional ou local. A profusão de movimentos de cidadãos independentes, candidatos às próximas eleições autárquicas é disso um exemplo. Só que temos um problema de análise: saber se por si só um movimento independente dá garantias de cidadania, e melhor, de independência dos poderes corruptos que diz combater. Loulé tem um desses casos: o MICA (Movimento de Intervenção e Cidadania Ativa). Dele nada se conhece nem se viu, em termos de intervenção cívica na cidade ou no concelho de Loulé, quer seja nas manifestações locais de protesto nacional contra a austeridade, quer seja na ação local contra o encerramento do serviço de urgência do Centro de Saúde de Loulé; ou uma participação, tímida que fosse, na luta contra as portagens, contra a destruição da Fundação António Aleixo, por exemplo. Deste movimento não se conhece qualquer ideia, pensamento ou medida concreta, para mudar a política de direita da governação da Câmara de Loulé. Aliás, é esse vazio ideológico que preocupa. Na lista que se conhece vê-se lá a preocupação elitista da competência técnica ou académica, como se essa só por si resolvesse os problemas das pessoas, não tendo por detrás um pensamento humanista, solidário, socialista. Por isso meus amigos, "tenham medo, muito medo".