Tiago Monteiro recebeu dois milhões de euros para rodar o seu carro na Fórmula 1. Todos nós sabemos o que são dois milhões de euros, mesmo não os tendo visto na nossa mão. Um exercício, fácil de comparação, será pensarmos que esse número corresponde, grosso modo, a dois milhões de pessoas no limiar de pobreza, já que um euro será o mínimo de subsistência para cada pessoa, por dia, nos países pobres e desfavorecidos. Outro exercício deveras interessante, seria o de confrontarmos o que receberam modalidades olímpicas representadas no Comité Olímpico Português, no qual se integram centenas de atletas: dois milhões e duzentos mil euros, para o mesmo período.
Agora, meus amigos, eu direi o que vocês já sabem: os tais dois milhões, que serviram ao piloto português nos anos de 2005 e 2006 nos campeonatos do mundo, foram endossados pelo governo de Portugal. Simples e limpo, como manda a cultura do défice. Melhor, há vida para além do défice, como diria o ex-presidente Jorge Sampaio.
A história é mais simples de contar do que perceber. Como os patrocinadores se estiveram nas tintas para dar o dinheiro à Jordan, e mais tarde à Midland, empresas de gestão do piloto (caramba, o que se aprende na alta roda do desporto, meus senhores), alguém teve que entrar com o dinheiro dos contribuintes. Quem é que governa o dinheiro dos contribuintes? Vocês sabem, o governo, pois claro. Primeiro o de Santana, que prometeu o “apoio incondicional ao piloto”; depois o de Sócrates que “não pode deixar de honrar compromissos”, como se sabe. O actual, diz que a culpa é do anterior, mas toda a gente diz que afinal os contratos de pagamento foram assinados de livre vontade. Na berlinda da defesa do acordo, lá estão o ministro da presidência, Silva Pereira e o sempre presente secretário de estado do desporto, Laurentino Dias. A piada de todo este imbróglio é que se o anterior governo não tivesse caído, a avaliar pelas promessas do ex-ministro adjunto Gomes da Silva, o financiamento do governo ao atleta teria sido de seis milhões de euros. Pasmem, por favor. Como se veio a verificar, as empresas que suportariam esse acordo jogaram pelo seguro e deixaram o carro de Tiago Monteiro a correr em família.
Mas o que leva um governo a financiar um piloto de Fórmula 1, perguntam vocês e bem. A resposta é clara, simples e patriótica: trata-se de uma “oportunidade única para potenciar a imagem de Portugal no mundo”. Foi esta ideia, tão saloia quanto pseudo-identitária, que movimentou tanta gente de dois governos, na passagem do cheque do Instituto de Desporto de Portugal para as mãos da CSS Stellar, gestora da carreira do piloto. Tratou-se, portanto, na filosofia megalómana dos dois governos envolvidos, de “um desígnio de alto interesse para o país”. Como todos sabemos, as razões foram mais prosaicas. O dinheiro serviu, apenas, para pagar as dívidas do piloto, à equipa canadiana que o tinha suspenso da competição em 15 de Julho de 2006, de forma a não abandonar a Fórmula 1. Um desporto, que tantas alegrias tem dado a Portugal, não é verdade?! Segundo se diz, o contrato de financiamento dos dois milhões de euros não estipula qualquer obrigação do piloto de publicitar a marca Portugal.
Agora, sabem o que seria interessante? Dar a ler esta crónica a Ana Rente, atleta do Lisboa Ginásio Clube, ginasta campeã da Europa de juniores em