DH Lawrence é quase só conhecido pelo romance «O Amante de Lady Chatterley», objeto lúbrico que atarantou as consciências juvenis, sobretudo no cinema. É pena que, apenas a obra proibida pela censura inglesa, nos lembre do homem que escreveu outros belos romances, poesia e teatro. Proibido e vilipendiado em Inglaterra, por se ter oposto à primeira grande guerra, acabou por se dedicar às viagens de descoberta das culturas e filosofias de vários países da Europa, Oceânia, Ásia e América Latina. O seu livro, acabado de ler, «Crepúsculo em Itália», é um portento de observação perspicaz, aguda e provocatória, sobre o conservadorismo camponês, sobre a destruição da natureza, pela indústria capitalista, das minas e dos têxteis, antecipando, avant la lettre, a submissão miserável da natureza humana ao mundo mercantil.
Talvez a situação política em Itália (e já agora em Portugal), possa servir de mostruário atual às preocupações de Lawrence, de há 100 anos.