quinta-feira, abril 30, 2020

Uma imagem por dia 28

À espera, desde janeiro deste ano, a baía de areia fina e pedras calcárias do Mioceno, rodeadas por grauvaques e argilas, vai recebendo este mar oceânico, que continua a bater as suas ondas que chegam impreterivelmente a terra, como um navegador que vê da gávea outros horizontes. Conto, em companhia, entrar naquela frescura azul, em breve...

quarta-feira, abril 29, 2020

Uma imagem por dia 27


O nosso grande poeta António Ramos Rosa é conhecido sobretudo por isso, pelos belos poemas que escreveu. Depois da experiência de «funcionário público cansado», escreveu e publicou sobretudo poesia e ensaios. Mas, como quase todos os que escrevem, viveu sobretudo das traduções que fez, muitas delas de filosofia. Aqui um exemplo, de uma obra muito conhecida de Nicola Abbagnano, dos trabalhos  de tradução de Ramos Rosa dos volumes VI e VII da «História da Filosofia», o último dos quais em colaboração com António Borges Coelho.
Para conhecer + de Ramos Rosa clicar no nome do autor.

terça-feira, abril 28, 2020

Uma imagem por dia 26

Em casa, na minha infância e adolescência, não havia livros. Os salários magros e o emprego sazonal dos meus pais, ambos operários, não permitia nem pequenos luxos, por que todo o ganho ia para a comida e para o estudo dos filhos. As leituras eram aprendidas nos livros mais acessíveis, de Emílio Salgari, do Zoltan e das coleções «6 Balas«, «Cowboy», «Condor», «Mundo de Aventuras», entre outros que os amigos mais velhos compravam ou rapinavam dos quiosques e trocavam por outros já lidos. A biblioteca de Portimão (sítio velho e bafiento) permitia as leituras de verão mais pomposas, das aventuras de Scott e Amundsen e mais tarde, chegaram os livros da Enid Blyton («Os Cinco» e «Os Sete»). Aos 16 anos, quando estudava na Escola Técnica de Silves, para aceder ao liceu após a Escola Comercial de Portimão, já andava com leituras despropositadas, caso de «O Processo» de Franz Kafka. Lembro de ter visto o filme, sobre o livro, com o Anthony Perkins e a Jeanne Moreau nos principais papéis, dirigidos por Orson Welles, a que o meu pai me levou.
A partir daí comecei a constituir a minha biblioteca, iniciada com algumas ofertas e 'empréstimos' do Zé Luís. Este amigo, mais velho, era carpinteiro e para nós um ícone atlético e social, como homem culto, inteligente e sobretudo opositor ao fascismo. Mais tarde, antes e depois do 25A, viríamos a militar juntos nas organizações clandestinas e depois na extrema-esquerda maoísta (o termo radical não era conhecido na altura).
O livro, cuja capa acima se mostra, foi editado em 1972, com coordenação de José Viale Moutinho e inclui uma pequena auto-biografia de José Afonso e testemunhos de José Jorge Letria, Urbano Tavares Rodrigues e Assis Pacheco, entre outros. Lembro-me de o ter lido na Ponta da Areia, a nossa praia comunitária junto do Rio Arade e de pensar que o guardaria sempre.

Vital em causas nossas

É um blogue antigo, mas que dá pouco nas vistas. Leio-o há muito, desde o tempo em que era um blogue coletivo, de Ana Gomes, Vicente Jorge Silva, entre outros. Há tempo sozinho Vital Moreira, constitucionalista dos mais ágeis, vai dando cartas e ensinamentos aos órgãos de estado. Eis um exemplo de ontem:
Ora, a liberdade de movimento, ou seja, de não estar confinado a um lugar, mesmo em casa, constitui um direito essencial numa sociedade livre. Havendo que defender o direito à saúde, próprio e alheio, justifica-se a restrição da liberdade de circulação, mas não o seu aniquilamento, que a Constituição, aliás, proíbe.
Por isso, nada pode justificar a condenação dos idosos a uma espécie de "prisão domiciliária" por via legislativa ou administrativa. Ainda não é proibido ser velho. E, como diziam os antigos, nós também somos gente.
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Brasil, quase, quase...

Alguns posts abaixo referia a chamada de alerta de Eduardo Pitta, sobre a situação de estranheza política do Brasil. Neste momento é o país da América Latina com mais casos conhecidos de Covid19. Isto, confiando apenas nos números oficiais, já que vozes conhecedoras dizem que os dados devem ser multiplicados por 3 ou 4. Aliás, os enterramentos feitos a céu aberto no Rio, em São Paulo e sobretudo na região da Amazónia (Manaus), mostram a dimensão do caos. Entretanto o presidente Bolsonaro, incapaz de gerir uma situação de pandemia longa, mostra cada vez mais o seu caos mental, nas respostas políticas e aos media, ao mesmo tempo que nomeia amigos para dirigir a Polícia Federal, aquela que pode vir a ser decisiva no controlo da oposição ou da resistência da democracia brasileira. Sérgio Moro, ministro da Justiça já se demitiu, depois de ter sido o pragmático da vitória do seu ex-presidente. A ver vamos...

segunda-feira, abril 27, 2020

Uma imagem por dia 25

Nos inícios da década de 1980, e depois de uma fase de grande militância ativa, política, estudantil e sindical, muitos de nós procurávamos outras vias de afirmação e intervenção sociocultural. Nas esplanadas dos cafés, construíamos o reino da pesquisa, da busca individual e de pequenos coletivos, nas artes, na música, na etnografia. Esse era o espaço das almas da literatura, como dizia George Steiner.
Este desenho, que mimetiza o célebre trabalho de José de Almada Negreiros, sobre o poeta da grande heteronomia, foi feito numa dessas esplanadas, no café das Pirâmides, em Faro, talvez no ano de 1983, pela jovem estudante de arquitetura Célia Anica. Encontrei-o, claro, dentro do livro «Quadras ao Gosto Popular» de Fernando Pessoa.

domingo, abril 26, 2020

Uma imagem por dia 24

Entre 1984 e 1988 vivi em Tavira. Foi lá, numa livraria junto do Rio Gilão, que comprei uma boa trintena de obras a preço baixo, antes do senhor Trindade fechar a sua velha livraria. Entre esses livros, dei hoje com a obra «Fronteiriços», primeiro romance do algarvio Vicente Campinas, escrito em 1947, mas só editado pelo autor em 1952, exatamente no dia 26 de abril. Por coincidência ou premonição a primeira parte intitula-se 'Domingo, dia de liberdade'. O livro é dedicado ao Ti Currito "contrabandista valente e honesto..." e alma das histórias de contrabando da raia do Guadiana. Para ilustrar a capa - que aqui nos interessa - Campinas escolheu outro dos grandes artistas do Algarve, Roberto Nobre, cineasta e um dos artistas plásticos mais importantes da 1ª metade do século XX, que ilustrou muitas capas de obras de Ferreira de Castro.

Mensagem da Amendoeira 3

Aprender com Abril
Com o 25 de Abril, os que trabalham - o povo - em cooperação com os militares e sua maquinaria, recursos até então vocacionados para a destruição e morte, responderam a necessidades básicas em cada local. Também nessa altura havia desestabilizadores, para confundir e criar as condições para o regresso ao passado...
Hoje, noutro contexto, eles aí andam 'afinando' o seu instrumento de tortura - a dívida!
Leiam aqui!
Abraço.
[Joaquim Mealha Costa]

Memória do meu 25 de Abril de 1974

Foi uma surpresa quando a vi editada. Na pesquisa bibliográfica para o meu doutoramento encontrei o livro com testemunhos do 25 de Abril, recolhidos para a edição das memórias do PREC, no 20º aniversário da revolução, por Francisco Martins Rodrigues com o título «O Futuro Era Agora. O movimento popular do 25 de Abril» das Edições Dinossauro (1994). Na página 16, após o testemunho da operária conserveira Maria Luísa Ernesto - que seria durante 10 anos presidente do Sindicato das Conserveiras em Portimão - lá vinha a letra da canção "A Luta das Conserveiras". Eu tinha-lhe perdido o rasto, apenas ficara na memória aqueles dias de outubro/novembro de 1974, de vigilância diurna e noturna à porta das fábricas de conserva de Portimão, para não deixar os patrões retirar as conservas para as vender, como forma de obrigá-los a aumentar os míseros salários e a assinar um contrato coletivo de trabalho. Eu era estudante do Liceu de Portimão, depois de ter vindo da Escola Comercial de Silves, e em conjunto com mais colegas e camaradas, alguns já professores, cumpríamos a vigília da noite, quase sempre ao frio, aquecidos de café trazido por amigos, ou pelas violas dos companheiros do GAC- Grupo de Acção Cultural 'Vozes na Luta' - que, entre outras, cantaram a canção da greve do «Jornal do Comércio». E foi nessas muitas noites seguintes, faltando às aulas das manhãs, que eu e o Helder Gonçalves, e com a ajuda suponho de mais amigos e amigas, fomos construindo a letra da Luta das Conserveiras, com a melodia da canção Greve no Jornal do Comércio. E que cantamos, noites sem fim, nesses dias «Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo» (Obrigado Sophia).

[Clicar na imagem para ler]

sábado, abril 25, 2020

Uma imagem por dia 23

Uma das formas de interpretarmos a nossa vida, é rever os livros que compramos em cada época. Por Lisboa, nos idos anos de 1980, logo após ter deixado a vida militante ativa, percebo que me tinha voltado para os problemas da antropologia das culturas. Razões pessoais e profissionais levaram-me para esse campo, que um dia contarei melhor. Aqui, uma compra de livros em Lisboa, na Livraria Editora Barca Nova, com selo aposto e tudo, num total de 1.480 escudos, lá estão entre outros, dois Claude Lévi-Strauss, um Max Weber, O Papalagui - muito antes das modas da ecologia e crises climáticas - e outro que ainda não reconheço. Ao arrumar a estante encontrei este recibo, noutro livro qualquer que não os da compra, e lá ficará por mais uns anos.

sexta-feira, abril 24, 2020

Uma imagem por dia 22



Antes do 25 de abril, também a publicidade usava o populismo do marketing, na altura baseada na exploração da tradição folclórica, aquilo a que Fernando Lopes-Graça chamava 'folclorite'. Aqui neste exemplo, publicidade às conservas La Rose da fábrica/empresa Feu Hermanos, de Portimão.

Miguel Portas há 8 anos

 (Miguel na Biblioteca de Loulé, em janeiro de 2012-foto minha)

Cito o que escrevi há oito anos, horas após saber da morte de Miguel Portas, em Antuérpia, a 24 de abril:
Miguel Portas morreu há pouco, em Antuérpia. Acompanhava a evolução da doença que o preocupava desde há dois anos. Mesmo com metástases a reaparecerem o Miguel veio a Loulé fazer uma conferência sobre a Europa, onde mostrou mais uma vez as suas qualidades de lutador, criativo e inteligente a explicar as suas ideias. Recordo-o em Tavira, nos anos 80 quando escrevia para o Expresso, ainda em fólios numa máquina de escrever; lembro-me dele na ilha da cidade tentando convencer-me com a leitura do livro «O partido com paredes de vidro». Um dia aparece-me em Faro, para trabalhar num curso que então fazia, ensinando a sua economia de justiça e igualdade cooperativa. Na altura andava às voltas com a bela revista Contraste, que dirigia com Paulo Varela Gomes. Mais tarde vejo o seu nome na Vida Mundial. Uma enorme sede de construção de um mundo diferente, onde a cultura e a solidariedade fossem o quotidiano. Mesmo à distância, ele é um amigo que nos deixa saudades e nos lega inquietudes que queremos preservar.

quinta-feira, abril 23, 2020

Uma imagem por dia 21

No Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, apresento o autor que mudou mais a minha vida. Para além de tantos outros livros que tenho e li - «Narciso e Goldmundo», «Siddharta», «Obstinação», «O Livro das Fábulas» e «Demian» (emprestei, não sei onde caminha) -, o manuscrito de Harry Haller, personagem principal de «O Lobo das Estepes» é uma história admirável da autonomia, da recusa do proselitismo e da liberdade. Prémio Nobel em 1946, e Prémio Goethe no mesmo ano, Herman Hesse é um escritor admirável. Há um filme (1974) cujo papel de HH é representado, com a mestria habitual, por Max Von Sydow.
O Lobo das Estepes é também o nome do blog de arquivos que criei em 2005 e que se mantém ativo (LER)

quarta-feira, abril 22, 2020

Uma imagem por dia 20

Precisamos de mudança, pintou o Luís Pina (2016) na parede velha, do seu quadro de homenagem ao 25 de Abril. Os cravos vermelhos foram elevados ao pináculo da escadaria, como se fossem a santidade simbólica da soberania  popular que se eleva sobre a cidade e as suas prisões reais e imaginárias.

Ler Rubem Fonseca

Rubem Fonseca, prémio Camões em 2003, morreu na semana passada, dias antes de Luís Sepúlveda. Apesar de ser um dos maiores contistas e novelistas da língua portuguesa, parece-me ser pouco conhecido em Portugal. Para mim, junto com Nelson Rodrigues - de quem já li quase todas as crónicas e a sua grande biografia - Rubem é um escritor de contos tão inovador quanto culto. Dele tenho apenas a novela policial «O Doente Molière», encomenda da coleção 'Literatura ou Morte', da Editora Companhia das Letras, saído em 2000 no Brasil e editada pela ASA em Portugal em 2002. Para o divulgar coloquei, aqui ao lado no topo, a imagem que nos leva ao menu de alguns dos seus maravilhosos contos. Leiam, leiam muito...

terça-feira, abril 21, 2020

Uma imagem por dia 19

Na caminhada de domingo, o espantalho surpreende-se com a passagem de dois andarilhos pelo Cerro do Centeio, ali onde amendoeiras e alfarrobeiras são as rainhas da paisagem. Parece ser um dos guardiães das memórias dos tempos da expansão dos cereais nas paisagens rurais e periféricas das urbes, como Loulé.

CanCan francês de Renoir e outros

Começa hoje mais uma semana de cinema online da quarentena da Medeia Filmes, dedicada ao cinema francês. Hoje, quinta e sábado, podemos ver French Cancan de Jean Renoir (um dos maiores cineastas do século XX), Aquela Loura, de Jacques Becker e Veneno, de Sacha Guitry. A não perder!

Esta Gente, de Sophia



Esta Gente, poema de Sophia no livro «Geografia» (1967), aqui cantado por Grafonola Voadora & Napoleão Mira, no álbum «Lugar Nenhum». A escutar com atenção!

segunda-feira, abril 20, 2020

Brasil em rutura política?

Atenção ao post de Eduardo Pitta no seu blogue. Sabemos que os contextos de rutura social, económica ou outra qualquer, quando o poder está a cair na rua, podem configurar o momento chave para golpes ou revoluções. No Brasil de Bolsonaro, com Lula preso e a covid a alastrar escondida nos números, pode ser este o tempo certo que há muito se previa. O próprio presidente já fala do célebre Acto Institucional nº 5 (AI-5) fascista do tempo da ditadura militar.

Ensinar Português, lendo power-points

Estou a assistir à aula de Português do 9º ano na RTP Memória (16:10). Tal como Paulo Guinote referia há pouco, temos um par pedagógico, apesar de uma das professoras estar apenas sentada ao computador clicando no enter do power-point. Do vestuário não vou falar (aliás, cada um veste o que quer), mas seria bom não se esquecerem de que estão na TV a ser vistos por alguns milhares de pessoas. Talvez fosse bom os conselheiros da RTP darem algum apoio. Mas o mais espantoso é ver a professora apresentar o power-point lendo cada uma das frases, como se os seus ouvintes não o pudessem fazer. Esta desgraça é comum a muitos professores e mostra quão pouco se aprendeu na preparação inicial e na formação pedagógica obrigatória. É desmerecido falar, ainda, das formas verbais que vou ouvindo do póssamos e do supónhamos...

Filosofia à portuguesa - José Gil

Nesta crise de saúde pública e de política, temos lido nomes conceituados da filosofia e de outras ciências sociais, quase todos pensadores reconhecidos há muito (quase todos já velhos) no pensamento moderno: Touraine, Chomsky, Morin, Harvey, etc. Em Portugal, José Gil tem pensado a idiossincracia portuguesa na esteira de antigos antropólogos, no caso no seu livro «Medo de Existir». O seu recente ensaio, publicado no jornal Público de há uma semana, traz um pensamento interessante, com base nos conceitos de desterritorialização social, que muitos sociólogos em Portugal têm estudado, mas a sua novidade é a articulação daquele com a subjetividade digital, no contexto da pandemia atual. A sua conclusão encaminha-se para a ideia de um capitalismo numérico, como sucedâneo do capitalismo financeiro que hoje adapta novos caminhos de recuperação, por via dos seus monopólios tecnológicos e do controlo da economia dos dados. O melhor é conhecer todo o ensaio de Gil que pode ser lido aqui.

Uma imagem por dia 18

Couves, acelgas, espinafres, nêsperas, hortelã. No recipiente redondo, base de um garrafão de plástico reutilizado, amoras, prontas a comer. O terreno é curto, poucas árvores de fruto e muitos vegetais. O meu amigo, que é professor, trabalha por gosto e complementa a vida profissional, com este lazer trabalhoso, como se fosse o #ApoioAoEstudo a complementar as aulas à distância dos professores e das professoras. Mas mesmo assim a horta serve muitos amigos e amigas, na volta da cidade que este casal percorre com vontade e solidariedade. Agradece-se o que chega a casa e nos alimenta.

domingo, abril 19, 2020

Uma imagem por dia 17

Está perto da caixa-ninho, de onde saiu há cerca de uma semana. Durante 15 dias foi alimentado com os seus três irmãos juvenis, com insetos, larvas e restos de comida, numa correria entre os ninhos e as árvores feita pelos dois progenitores, de forma intercalada, numa demonstração de partilha de tarefas invejosa. Ainda não se afoita muito, procurando ler o território à volta, enquanto os pais preparam já nova postura, renovando a caixa-ninho de sotavento com palhas e restos, para evitar outros ocupantes. Sendo territoriais, percebe-se que este pardal comum (passer domesticus), no próximo ano, talvez possa ser ele a ocupar o mesmo ninho onde nasceu.

25 de abril sempre!

Razão tinham aqueles que alertavam, há cerca de um mês, para a facilidade com que a população portuguesa pressionou o estado a tomar medidas de contenção exageradas, até ao limite do estado de emergência - que já vai na segunda prorrogação. Lembremo-nos de que o governo estendeu até ao máximo a recusa dessa emergência. Agora, com a deliberação da Assembleia da República de comemorar os 46 anos do 25 de abril de 1974, cresceu de novo a onda de recusa democrática. E o argumento não é o que alegam CDS e CHEGA, da aglomeração exagerada comparativamente ao confinamento do dito 'povo' português. Nada mais significa do que o tribo-populismo de direita a aproveitar o medo, a morte, a segurança, para derrotar a liberdade que, como se sabe, implica risco e morte como sempre provou a história.
*
Chamo também a atenção para o texto de António Nabais no Aventar (ler aqui).
Atualização (20abril20): só posso concordar como o que diz Rui Bebiano no Terceira Noite!

sábado, abril 18, 2020

Uma imagem por dia 16

Não, não é um combate sobre a maior estante de livros por trás dos comentadores da 'subjetividade digital' (Ah José Gil, obrigado pelo conceito), mas apenas livros no chão da sala à espera de reentrar nas prateleiras, ainda vazias e a cheirar a verniz fresco. A propósito de reentrar ou de releituras - é este o leit motiv deste post - quero falar-vos aqui da RELI (Rede de Livrarias Independentes Portuguesas). Acossada pela crise de fecho de livrarias, cada vez menos e mais minúsculas, agravada com o encerramento da emergência pandémica, os livreiros independentes querem continuar a servir a nobre função do alimento da alma. A rede é uma forma de combater monopólios da distribuição (onde na verdade todos compramos, quer seja no hipermercado, quer seja por via CTT; eu também o faço) e servir em casa os seus leitores. Entre essas livrarias estão algumas a que recorro, por solidariedade ideológica, como a Letra Livre, parceira desta rede.
[Para aceder à RELI, clicar sobre a palavra sublinhada]

sexta-feira, abril 17, 2020

Uma imagem por dia 15

No Algarve barrocal e litoral, escasseando a água, era necessário usar as técnicas árabes de recolha e manutenção da água potável. As cisternas recolhiam as águas das chuvas de outono e de inverno para alimentarem as necessidades das populações, sobretudo no espaço doméstico. No verão, era tempo de limpar limos e fungos das águas que restavam e depois caiar com a cal branca e imaculada que conservava e higienizava as próximas chuvas. No litoral, as açoteias (soteias também em Olhão ou na Fuzeta...) permitiam uma recolha mais abundante no inverno, enquanto no verão serviam de soalheira para os almanxares de figos.

quinta-feira, abril 16, 2020

Mensagem da Amendoeira 2

É dia. O tempo está bom, ora chove, ora faz sol. Há amigo(a)s preocupados...mas cozinham, o que mostra ainda serem detentores de saberes, não dependendo em tudo da China. Talvez precisem dos ingredientes que virão de algum lado, de barco, avião, em camiões TIR...os senhores dos grandes hiperes pensam em nós, acaba-se com o próximo, compra-se lá fora! Por sugestão de um grande amigo, segue um mau conselho, são em geral os que vingam: despreocupem-se, confiem, não pensem, isolem-se, liguem-se às tic para ouvir/comunicar...é a vida futura em teste, ainda na fase 1 de 10.
[Joaquim Mealha Costa]

Uma imagem por dia 14

Patagónia Express, Nome de Toureiro, o Velho que Lia Romances de Amor, As Rosas de Atacama, Contos Apátridas, Encontro de Amor num País em Guerra - todos na estante 'perfilados de medo' (Ah Natália Correia), à espera da limpeza. O clássico «História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar», está lá abaixo, na garagem, junto de outros livros de literatura infantil que serviram recentemente de fonte para escrita. Uma peça magnífica, baseada nesse maravilhoso romance, via-a com a minha mulher e os meus filhos, ainda crianças, numas das muitas férias em Monte Real/Leiria. 
Luís Sepúlveda, autor destas e de tantas outras obras, morreu vítima de Covid19.

Atualização, uns minutos depois deste post: soube, pelo blogue de Eduardo Pitta da morte de outro escritor, Rubem Fonseca, não por acaso em lombada amarela ali ao lado de Luís Sepúlveda (clicar na imagem para ver melhor).

quarta-feira, abril 15, 2020

Uma imagem por dia 13


Revista Ler, espalhadas pelo chão, à espera das outras em limpeza e arejamento. Levo algumas para ler à noite, letras pequenas que agora me torturam a cabeça. Como era possível lê-las, horas a fio, nos idos anos 1990 - algumas são ainda de 1995, sob a direção de Francisco José Viegas (FJV). Nas primeiras páginas a crónica do editor, ele próprio, a cascar nos secretários de estado da cultura, Santana Lopes e depois Manuel Frexes. Nesse tempo, quem pensaria que FJV seria secretário de estado da mesma pasta, uns anos depois? E noutra revista, Manuel Maria Carrilho, em entrevista sobre a filosofia portuguesa (discutia-se muito na altura o ser português). Uns números depois, o mesmo Carrilho já tinha assumido o ministério da cultura, na governação de Guterres. É isto a história, um fragmento dela em revistas, lidas por mim e arranhadas pelos meus gatos.

terça-feira, abril 14, 2020

Uma imagem por dia 12

Acompanham-nos às vezes, em voos rasantes e barulhentos, quando caminhamos entre pequenos bosques de pinheiros ou nos caminhos ladeados de árvores de fruto de sequeiro. Os gaios são tímidos e pouco gregários apesar de sedentários e, por isso, mantêm um estatuto de espécie sem sobressaltos. Estes, da imagem, ainda nem juvenis eram quando os fotografei no pátio da Escola Superior de Educação e Comunicação em Faro, num arbusto podado pelo jardineiro e poeta mestre Luís, que era tão bom imitador quanto os gaios são.

Les Chansons d'Amour


A Medeia Filmes, como já referido em posts abaixo, tem-nos premiado com filmes gratuitos na quarentena, enquanto não reabre o Nimas e outros cinemas. Da série francesa da semana passada, o filme de Honoré é recheado de belas canções do cantautor francês Alex Beaupain, de que Les Yeux au Ciel é um belo exemplo, para ouvir acima.
Atenção que hoje, e até quinta às 12h, está disponível no site da Medeia o grande clássico de Roberto Rosselini, «Roma, Cidade Aberta», com a grande Anna Magnani (Itália, 1945).

Ensaio de José Gil no «Público»



ENSAIO

A pandemia e o capitalismo numérico
José Gil


A verdade é que este período de luta pela sobrevivência física não gerou até agora nenhum sobressalto político ou espiritual, nenhuma tomada de consciência da necessidade de mudar de vida. Não gerou esperança no futuro.

A pandemia da Covid-19 pode vir a modificar radicalmente o modo de vida das sociedades actuais, pré e pós-industriais. Um factor decisivo dessa transformação serão as novas tecnologias, que virão a ganhar uma importância maior na economia e nas relações sociais. Formar-se-á um novo tipo de subjectividade, a “subjectividade digital”, já em gestação nas sociedades actuais, mas que, no futuro, se colocará no centro do novo “capitalismo numérico”, como condição essencial do seu funcionamento. Entretanto, vivemos uma crise de transição, que compromete as próprias subjectividades.


Pandemia e desterritorialização


Mesmo antes de ser declarada a quarentena em Wuhan, sete milhões de chineses saíram da cidade e espalharam-se pelo mundo. A região da Lombardia, na Itália, que mantinha voos directos para a região mais contaminada da China, foi rapidamente atingida. A França, a Alemanha, a Espanha, o Reino Unido e, muito rapidamente a Europa, foram infectados. Alastrando a todos os continentes, a pandemia cobriu o planeta em poucos meses. Uma disseminação tão célere e imprevisível deveu-se às características do novo vírus, mas só foi possível graças à deslocação intensa de indivíduos e grupos, através da rede extraordinária de comunicações e transportes que liga hoje os países uns aos outros.

Trata-se de uma torrente imparável de gente sempre a ir e a vir, em que participam homens de negócios, políticos, universitários e estudantes, turistas (em turismo de massa ou individual) e multidões que se deslocam para assistir a acontecimentos culturais, desportivos ou religiosos, sem esquecer os milhões de migrantes fugindo da guerra e da fome. Estas vagas imensas de pessoas que vão de um território a outro, alimentam a desterritorialização geral, contínua, que não cessa de crescer. Ao disseminar-se, o vírus da pandemia não fez mais do que percorrer o mapa mundial da desterritorialização.

A pandemia resultou da desterritorialização, é a manifestação extrema da doença tecno-capitalista que há mais de dois séculos se infiltrou nas sociedades humanas. E que, tal como um vírus, vai contagiando território após território, país após país, continente após continente: é o capitalismo global que transforma a Terra inteira, submetendo-a, como um contágio epidémico, ao seu funcionamento. Se o novo coronavírus prolonga o movimento desterritorializante da economia capitalista, é porque esta é, no seu desenvolvimento e propagação, propriamente pandémica.

A primeira reacção contra a pandemia visou, logicamente, conter a sua proliferação: contrariando ao máximo a desterritorialização, impôs-se a quarentena a centenas de cidades, e confinaram-se os cidadãos nos seus locais de residência. Fecharam-se aeroportos, estações de comboios, portos e estradas, sítios onde as aglomerações de pessoas aumentam os riscos de contaminação. Porque a desterritorialização implica não apenas a deslocação, mas também o seu contrário complementar, os mais variados ajuntamentos de “pessoas sós”, que se encontram nas gares ferroviárias ou nos festivais de música. Cancelaram-se eventos de toda a espécie, proibiram-se saídas e passeios. Numa palavra, reterritorializaram-se os indivíduos nas suas casas, incentivando-os a cultivar um tipo de vida esquecido, por assim dizer “arcaico”, familiar e mais “humano”, que o regime habitual de trabalho havia sempre impedido.




O confinamento universal e a reactivação de modos de vida supostamente harmoniosos, mas já erodidos e ineficazes, levam à formação de novas subjectividades, mais adaptadas à “economia numérica”. A generalização do teletrabalho, a digitalização máxima dos serviços e a virtualização das deslocações e das relações sociais terão, muito provavelmente, consequências drásticas nas transformações da sociedade.

Se, até aqui, se alargava a desfasagem crescente entre o desenvolvimento da economia financeira global e os processos de subjectivação – que misturavam subjectivações digitais e subjectivações arcaicas, estas ligadas ainda às sociedades industriais e pré-industriais -, agora o vazio parece poder ser preenchido. A época de transição chega ao seu fim.

A nossa ideia é simples: a pandemia será o agente mediador da passagem de uma fase histórica do capitalismo (o capitalismo industrial-financeiro) – cada vez mais perturbada e caótica, cada vez menos viável no contexto geral da sociedade e do Estado – para uma outra fase em que se procuram os ajustamentos necessários entre as exigências económicas e as subjectividades que, em todos os domínios, do teletrabalho às práticas de lazer, lhes correspondam adequadamente.

Conseguir-se-ia, assim, um equilíbrio, sem dúvida precário, mas que asseguraria o desenvolvimento sem entraves do capitalismo digital: eis o que está inscrito, eis o que visa o impulso imparável da dinâmica capitalista. Evidentemente, serão precisas subjectividades apropriadas, com o máximo de consenso colectivo e individual, e o mínimo de conflito.

Terá sido necessário o surgimento de uma pandemia mortífera para adaptar as subjectividades às novas exigências do capitalismo global. A Covid-19 seria o trampolim a catapultar a colectividade para um nível superior, o da sociedade digital. Em vez de progredir gradualmente, passando por fases mediadoras, a pandemia vai obrigar a um salto brutal, impondo indiscriminadamente a digitalização de todas as actividades. Inverter-se-ia a ordem de subordinação: o digital, que estava submetido à hegemonia de hábitos ligados ao corpo físico (a desterritorialização obrigava os corpos a deslocarem-se ou a desapropriarem-se de si próprios), tornar-se-ia dominante, condicionando os outros actos sociais, quando não os suprimia.

O que se procurava, afinal, era que as gerações pré-pandémicas, com a sua cultura humanista, os seus hábitos jurídicos, a sua consciência judeo-cristã, não entravassem mais o livre funcionamento da economia. Só pelo número de mortos idosos, a pandemia já ajudou a limpar o horizonte. Mas foi sobretudo pela construção de novas práticas, novos constrangimentos, novos hábitos de prazer a que obrigou o isolamento social, que as subjectividades digitais poderão florescer e dominar. Serão subjectividades desterritorializadas, de certo modo, nómadas e transparentes, mas reterritorializadas no digital.

A inteligência artificial terá sem dúvida um papel decisivo neste processo de sedentarização. As novas subjectividades caracterizar-se-ão pela submissão e adequação dos corpos às (ou mesmo a sua exclusão das) tarefas da economia digital, e a permeabilização das mentes às ordens e necessidades da vida virtual. A nova subjectividade comportará capacidades passivas de obediência voluntária e capacidades activas de funcionamento programado. Estas características estavam já presentes na subjectividade digital pré-pandémica, que descrevemos acima.


O capitalismo, a esperança e as forças de vida


Vivemos, neste momento, dois tempos diferentes, em simultâneo: o nosso presente da vida confinada e o tempo da espera que a pandemia acabe. Nem um nem outro, nem os dois sobrepostos, ajudam a agir. Alguns pensam que este período de isolamento deverá ser aproveitado para tomar consciência da necessidade de mudar de vida, recusando voltar à “normalidade”. A normalidade representa o tecno-capitalismo e a vida caótica que ele engendra.

Através das fragilidades e insuficiências das políticas de saúde, esta crise revelou in vivo a desigualdade que condena tendencialmente os pobres à contaminação e à morte, a indiferença dos sistemas económicos perante o sofrimento e a doença, ou a falta de solidariedade e de coesão dos Estados membros da União Europeia. Mas mais profundamente, ela mostrou, segundo muitos, a futilidade e o vazio da vida sem sentido em que os povos viviam antes da pandemia. Apareceram então – e continuam a aparecer – certos pensadores, laicos e religiosos, que afirmam ser esta pandemia a ocasião única para operar “revoluções” ou “reformas interiores” ou “conversões” radicais que trouxessem uma mudança radical no modo de vida da humanidade. 

A verdade é que este período de luta pela sobrevivência física não gerou até agora nenhum sobressalto político ou espiritual, nenhuma tomada de consciência da necessidade de mudar de vida. Não gerou esperança no futuro. No nosso país, a unidade nacional foi reforçada apenas no sentimento colectivo de compaixão pelos mortos e doentes, e pela gratidão para com os médicos e enfermeiros. Talvez um pouco, também, pela adesão geral à política do governo.

Não se conceberam nem novos valores éticos, nem novos programas económicos ou práticas políticas. E nem a violência brutal do sofrimento e da morte nos hospitais, escancarada no espaço público mediático, conseguiu varrer as imagens enganadoras com que nos habituámos a lidar com a realidade. O confinamento não favoreceu a reflexão e a acção, pelo contrário, suspendeu o tempo, a vida activa e o pensamento. O contágio temido, imaginado, alucinado, foi o único acontecimento que condicionou as emoções e os gestos quotidianos.

Se, com o confinamento, fugimos à desterritorialização desabrida que vivíamos antes da pandemia, não nos reterritorializaremos, afinal, senão no digital. Quando se diz “estamos todos juntos nesta luta” ou “só com o esforço de todos poderemos vencer o vírus”, este “todos” que compreende sobretudo os confinados constitui, no fim de contas, uma realidade virtual. Estamos, virtualmente com todos e com a comunidade, em que participamos à distância, separando-nos dela. É toda a vida que se virtualiza.

De resto, o confinamento não foi e não é um tempo de expansão e alegria. Com as ruas desertas, as cidades silenciosas e o sofrimento gritante dos doentes, a casa em que nos fechámos não constitui, propriamente, um lugar de entusiasmo e criação. Nem propício à meditação metafísica, nem à elaboração de grandes projectos de vida. Afinal, a grande maioria das pessoas quer “voltar à normalidade” (ou, a uma “nova normalidade”, como diz Cuomo, o governador do estado de Nova Iorque).

Ao ver o desejo premente e angustiado dos políticos de certos países da Europa, de acabar, neste mês de Abril, com o isolamento obrigatório para pôr a economia a funcionar, constata-se que se está a preparar tudo para voltar e retomar – por mais difícil que venha a ser – o estado de coisas anterior. A economia versus a saúde, como se tem dito, ou a vitória da economia contra a saúde (nos vários sentidos da palavra). O tecno-capitalismo voltará a funcionar, talvez não como dantes, talvez como “capitalismo numérico”, construindo rapidamente novas subjectividades digitais. Não escaparemos ao seu poder de preservação, auto-regeneração e metamorfose. 

Resta-nos ver mais longe, e prepararmo-nos, com o máximo das nossas forças de vida: esta crise não é independente da crise ecológica que estamos já a viver e que em breve atingirá um patamar irreversível. Aí, e porque para ela não haverá vacina, teremos todos de pôr radicalmente em questão o tecno-capitalismo e os seus modos de vida, se quisermos ter um (outro) destino na Terra.



segunda-feira, abril 13, 2020

Uma imagem por dia 11

O título deste post bem poderia ser «Micro ensaio sobre o ser algarvio», para fazer jus ao relambório desatado que aí vai por essas redes alegadamente sociais. António Pina, presidente da Câmara de Olhão e também da AMAL, apelou a si a presumível identidade dos algarvios, para chamar a atenção dos prevaricadores do isolamento social, no caso, num registo um pouco xenófobo. Devia ter apelado a comportamentos e a atitudes consentâneas com o registo de 'pessoas', quer algarvios ou outros quaisquer. Por que não conhecemos o que é isso de ser algarvio, como se fosse uma etiqueta colada na testa, a partir da fronteira da Serra do Caldeirão. As identidades são tão mestiças, tão volúveis e tão indeterminadas, que será muito difícil encontrar o algarvio. Como se sabe, muitos procuraram esse ser e, ou nunca o encontraram, ou então inventaram um tipo identitário que não existe, quer falemos de Torga, de António Ferro, de Teixeira Gomes ou de qualquer pateta que gosta de passar férias no Algarve, mas alimenta também uma visão xenófoba sobre o território e as pessoas que cá habitam e trabalham. Para esse peditório não dou nada!
Ora, a laranjeira que ali se mostra, que embeleza pátios e praças do Magrebe, foi trazida para o Algarve por almóadas e almorávidas na expansão comercial muçulmana. Mas delas não provamos frutos, porque não comestíveis. Preferimos as laranjas doces da China, trazidas por navegantes mercantis portugueses e genoveses desses longínquos cantões. Pois é isso que nós somos: árabes, fidalgotes nortenhos, plebe vadia do Al-Garb e do norte de África, galegos e andaluzes, judeus e moçárabes, cristãos novos e velhos. Tudo isso, apenas com um ponto em comum: por ora vivemos no Algarve!

domingo, abril 12, 2020

Uma imagem por dia 10

Mensagem de Joaquim Mealha Costa, da Amendoeira, Querença, às 09:41 de hoje:
Boa Páscoa! Boa comida, inventivas brincadeiras, apanhem sol, nem que seja na marquise, leiam e escrevam com lápis ou caneta, para a mão não perder essa prática, nunca se sabe se não voltará a ser útil e o saber não ocupa lugar...descubram coisas que nunca repararam, mesmo, mesmo, mesmo, ao lado...É tempo de novas descobertas! E não se esqueçam, ao lado ou distante, vejam no outro uma mais valia para cooperar, porque apesar daquela ideia que 'eu sou melhor' e o outro é ignorante, o certo é que ele sabe muito que nós desconhecemos...Que lindo dia!!! Abraços.

sábado, abril 11, 2020

Uma imagem por dia 9

Nestes dias tenho voltado a Herberto Helder, e a «Photomaton & Vox», escrita límpida, vívida e desalinhada com tudo e com todos. Nada se espera: encómios, homenagens, nomes de ruas e praças. Só nos resta a escrita:
A Holanda é uma monarquia, com vacas devagar para cá e para lá. De repente não se tem nada a ver com aquilo. Acabou-se. (ramificações autobiográficas, p. 24)
 Gosto da palavra suicídio. A frequência dos is como golpes, as duas sibilantes e a última consoante, malignamente dental, fascinam-me. Mas bastavam-me o prestígio da palavra e o jogo de coleccionar comprimidos mortais. (os diálogos, pp. 30-31)

sexta-feira, abril 10, 2020

Teatro das Figuras no topo

Começou timidamente, com uma simples proposta de apoio à produção cultural. E evoluiu para um programa sério de apoio à cultura. De início Figuras em Casa, depois Ciclo Emergente e ainda O Papel da Arte em Tempo de Crise. Aguardamos a iniciativa das outras autarquias do Algarve, ou mesmo da AMAL.
O Município de Faro ciente do seu papel e da sua responsabilidade no contexto do setor cultural e criativo, vai lançar um conjunto de apoios e iniciativas específicas para este setor que, a par de outros, está a sofrer um forte abalo devido às medidas decretadas com vista à contenção e mitigação do novo corona vírus.
Este conjunto de iniciativas será levado a cabo pelo Município de Faro, pelo Teatro das Figuras e pela equipa de projeto da Candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura 2027.
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Uma imagem por dia 8

Milhares de crianças e de jovens, do ensino básico e do 10º ano de escolaridade, vão estar agora, mais do que nunca, sentados em frente do computador, com a palma da mão no telemóvel e às vezes no sofá olhando a RTP Memória (gosto de lá passar) ou a RTP2 (o melhor canal, fala um intelectual!). Se somarmos os estudantes do ensino superior (onde está o ministro da tutela, sabem?), então é que vamos ter mais grafittis em Lisboa. Sabemos que o Velho do Restelo, que circula pelos lados da Cidade Universitária, não se cansará. Tem todo o meu apoio.

quinta-feira, abril 09, 2020

Uma imagem por dia 7

Albarrã do Perú (scilla peruviana), fotografada por telemóvel na encosta norte do Serro de Cabeço de Câmara, ontem à tarde, numa caminhada com duas pessoas, em percurso de 'muito curta' duração. Sem hipóteses de percorrer os troços que nos faltam da Via Algarviana, nesta Páscoa, os treinos vão acontecendo de dois em dois dias, quase à volta de casa.

quarta-feira, abril 08, 2020

David Harvey sobre Covid-19

Já não temos Marx, Williams e E. P. Thompson, nem Bourdieu, Hobsbawm ou Clifford Geertz. Mas ainda nos restam Agamben, Chomsky e Harvey, entre outros pensadores marxistas. De alguns, tenho lido entrevistas ou comentários, caso de Giorgio Agamben (já tratado em post abaixo), do sociólogo francês Alain Touraine e do linguista norte-americano Noam Chomsky. De todos, respigo a rápida lucidez e a profundidade do geógrafo e sociólogo David Harvey, na revista «Jacobin»:
Quando tento interpretar, compreender e analisar o fluxo diário de notícias, tendo a colocar o que acontece no contexto de dois modelos distintos mas relacionados sobre o funcionamento do capitalismo. O primeiro é o mapa das contradições internas da circulação e acumulação do capital à medida que o valor monetário procura o lucro através de diversos “momentos” (como Marx lhes chama) da produção, realização (consumo), distribuição e reinvestimento. Este é o modelo da economia capitalista como uma espiral infinita de expansão e crescimento. Torna-se muito complicado quando é elaborado, por exemplo, através das lentes das rivalidades geopolíticas, dos desenvolvimentos geográficos desiguais, das instituições financeiras, das políticas públicas, das reconfigurações tecnológicas e das formas sempre mutantes das divisões do trabalho e das relações sociais.
O seu ensaio completo pode ser lido aqui!