terça-feira, outubro 29, 2019

Rosa Mota

Parece uma picuinhice vaidosa de Rosa Mota, o facto desta ter recusado estar presente na inauguração do renovado Pavilhão Rosa Mota, agora designado Super Bock Arena, pavilhão Rosa Mota. A polémica tem a ver com a mudança do logótipo que menorizou o nome da atleta olímpica e ligou-a a uma marca de cerveja. Mesmo quem gosta da bebida de trigo, sabe muito bem que a mercantilização do desporto e a submissão da prática desportiva ao capitalismo financeiro é o pão nosso de cada dia, e um caminho cada vez mais perigoso na alienação popular. Razão teve Rosa, quando respondeu ao presidente da República, a propósito da afirmação deste de que ela era mais importante do que qualquer presidente: Nãoooo!

Peneireiros nas arribas

Nestas arribas, de argila e arenitos, nidificam peneireiros vulgares. Este ano, na primavera e no verão, alguns casais de peneireiros vulgares colocaram e chocaram os seus ovos nas fendas abrigadas das arribas, depois alimentando e ensinando voo e caça aos juvenis. No pico do verão, quando se instalam centenas de veraneantes nas praias e nos topos das rochas, eles seguem para outras paragens, deixando em silêncio estas escarpas, depois de fazerem ouvir os seus assobios estridentes quando caçam. No próximo ano, talvez voltem.

domingo, outubro 27, 2019

A indignação pública

O Joaquim Mealha chama-me a atenção para o texto que a Marisa Matias, eurodeputada do Bloco de Esquerda, publicou no «Diário de Notícias» no passado dia 26, a propósito da votação de uma lei sobre resgate de emigrantes, que foi chumbada com o contentamento da direita e sem a indignação da esquerda. Já o tinha lido no blogue da Joana Lopes, que o publica na íntegra e, na verdade, lembrei-me do que disse o Daniel Oliveira há uns tempos: temos que nos indignar de forma descarada, em alta voz e em público, nas ruas e nos media, tal como a direita boçal o faz.

quinta-feira, outubro 24, 2019

Refeições nas cantinas das escolas

Não é visível, à partida, a relação entre as refeições das cantinas escolares e a autonomia das escolas (ver aqui o artigo de António Nabais no 'Aventar'). O que é certo é que a partir da empresarialização das compras dos alimentos, e da entrega das cantinas a empresas, a autonomia e tudo o que ela consubstancia de proximidade, interrelação escolar e respeito pela economia local, transformou-se no seu oposto, a heteronomia. Quer dizer que tudo é imposto pelo exterior, quer ele seja o município ou as grandes empresas. Por isso, a luta contra a municipalização das escolas é um desiderato de  todos aqueles que consideram a defesa da escola pública.

Como ver o Mundial de Râguebi?


Sobre o râguebi, já passou o tempo dos olhares de uma modalidade agressiva, violenta e marialva, por causa das formações ordenadas, das placagens e dos constantes pick and  go. Assistindo aos jogos da bola em melão, no campeonato do mundo a decorrer no Japão, é uma beleza para os olhos ver os movimentos, o bailado da passagem da bola, os ensaios e penaltis sucessivos. E mais do que tudo, o respeito pela pedagogia dos árbitros a explicar as incorreções dos jogadores. Um mimo.

quarta-feira, outubro 23, 2019

Ciganos na comunidade

Um casal cigano vareja uma oliveira na urbanização Boa Entrada em Loulé. Sujeitos a discriminações e preconceitos, os ciganos têm vindo, paulatinamente, a ser aceites na sua diversidade cultural. Um dos meios utilizados tem sido a sua integração nas comunidades, como coletores ou respigadores, de fruta, vegetais ou mariscos. Mesmo neste caso são acusados de roubo, por estarem a usar espaços e propriedades alheias, muitas delas abandonadas. No caso presente, também eu, e mais vizinhos, aproveitamos o desperdício de figos, azeitonas e amêndoas destas árvores, quase sempre à espera de cortes, devido à expansão urbanística dos terrenos das periferias da cidade. Recordo o sapiente José Vieira que, já nas décadas de 1950-1960, entregava a apanha da alfarroba a famílias ciganas acampadas em Alte, abrindo assim caminho à inclusão de etnias discriminadas.

segunda-feira, outubro 21, 2019

AMAL: para que serve?



Parece que o atual presidente da Câmara de Loulé vai candidatar-se à presidência da AMAL (Área Metropolitana do Algarve), agora que o seu ex-presidente rumou à Assembleia da República e parece que à Secretaria de Estado das Autarquias. 
É verdade que, há dias, ouvi o antigo presidente Jorge Botelho falar da dificuldade de instalar, de uma vez por todas, a Ciclovia do Algarve, uma via ciclável que conheço bem e sei do estado miserável em que se encontra. Ainda por cima sem aparentar sequer qualquer sensibilidade para a questão, como se fora alguém que nunca pisou os pedais de uma bicicleta. Se é para isto que serve a AMAL, vou ali e já volto...

sexta-feira, outubro 18, 2019

Catalunha: olhar o problema

(Portada do El País)
Quem analisa o tsunami democrático na Catalunha como se fora uma revolta juvenil, está a ver apenas as filas da frente dos milhares de manifestantes em marcha para Barcelona. Quem julga que este movimento de massas nunca visto, é apenas uma rebelião contra a condenação dos líderes catalões democraticamente eleitos, pretende apenas pôr nas mãos do poder judicial espanhol, aquele que é um problema político de fundo. Uma questão de nacionalidade, numa Espanha multinacional que nunca se enfrentou, como um abanico de identidades dispersas que deve dar a palavra ao povo sobre a sua auto-determinação. Como dizia um sexagenário catalão, há pouco na SIC, se o poder judicial e político toma decisões nos gabinetes contra o povo, o povo toma as ruas. Como fez em toda a sua história.

quarta-feira, outubro 16, 2019

Populismo: conceitos vários

O sociólogo e ativista Walden Bello esteve em Portugal para uma conferência no ISEG e aí esclareceu o seu ponto de vista atual sobre a globalização. Numa pequena entrevista ao Público, mostrou como a extrema direita se apropriou de bandeiras da esquerda em todo o mundo, conquistando eleitoralmente apoios populares e mobilização nas ruas. Particularmente, sobre o conceito de populismo - agora que a designação é usada para cobrir mecanismos e fenómenos muito diversos - esclarece que muitos destes fenómenos, a sul ou a norte, não são na verdade movimentos populistas. Por isso vale a pena citar um excerto da sua entrevista:
O populismo é um estilo de comunicação com as massas e tanto políticos de direita como de esquerda usam-no. Vejo isto mais como um movimento contra-revolucionário. Ao longo das décadas, em alguns casos, foi uma contra-revolução contra a emergência da classe baixa. Noutros casos, o que se passa é o fracasso da democracia liberal na satisfação das aspirações daqueles que inicialmente sentiram que a democracia liberal iria ser um caminho para um empoderamento e igualdade reais. Este movimento contra-revolucionário em oposição à democracia liberal  põe em causa as próprias fundações da democracia , como por exemplo o secularismo, a diversidade, o estado de direito. Os movimentos de extrema-direita, não são só racistas, como colocam em causa as fundações da democracia liberal. (jornal Público, 7 outubro 2019, pp. 30-31)

sábado, outubro 12, 2019

Trabalho em revista



Ocupado com outras investigações e eventuais artigos - entretanto a próxima revista do Arquivo Municipal de Loulé, Al-Uliã, trará dois artigos meus, um deles em co-autoria com antigas alunas minhas - não tenho podido publicar na revista brasileira Trabalho necessário. Mas o facto não me iliba de chamar a atenção para a excelência dos artigos dos dois  mais recentes números, cujas capas estão acima. Para ler é só clicar sobre o nome da revista que está sublinhado.

domingo, outubro 06, 2019

O equívoco das causas da abstenção nas legislativas de 2019


A ideia de que a disseminação de partidos candidatos às eleições são expressão de participação democrática e que determinam a ida às urnas, sempre foi errada e esconde a verdadeira participação por detrás do chapéu de chuva da representação. Grande parte dos 21 partidos candidatos, ao invés de serem mobilizadores, afastam claramente os eleitores. Uns por serem recauchutagem de velhos responsáveis; outros por parecerem a palhaçada visível da ignorância e da vulgaridade; outros surgindo como partidos unipessoais ou monotemáticos. Aliás, o debate radiofónico, expandido às imagens televisivas, foi um belo  exemplo de stand up comedy, melhor do que o 'Levanta-te e Ri'.
Por isso, que não se estranhe a abstenção a subir aos 50%, nestas legislativas de 2019.

quarta-feira, outubro 02, 2019

Organismos gelatinosos

(fotos de Deanna Raimundo)

Na minha infância e adolescência brincávamos com estas alforrecas, na Praia da Rocha. Hoje, elas são organismos gelatinosos importantes para a ciência e para o conhecimento das alterações climáticas, que observamos nas costas marítimas, sobretudo nas marés baixas. Este ano fizemos vários avistamentos, de diversos indivíduos, sobretudo de Rhizostoma luteum, quase sempre na Praia da Falésia, no concelho de Albufeira. As imagens e outras informações são enviadas para o projeto 'Gel à Vista', coordenado pelo IPMA e que pode ser visitado aqui (clicar sobre a palavra sublinhada).
Conselho: Não convém tocar!

terça-feira, outubro 01, 2019

A velha agenda cultural de Loulé

(clicar na imagem para ver melhor)

Na arrumação - crónica - de velhos papéis e revistas que enxameiam arquivos mortos e prateleiras na garagem e restantes espaços da minha casa, lá encontrei alguns velhos recortes que fazem as memórias e as histórias do presente. Neste caso, trata-se de um texto de José Batista (conhecido no mundo da banda desenhada como Jobat), amigo e companheiro de várias lides, já falecido. O Batista faz, no texto, o historial daquela que foi a primeira Agenda Cultural do município de Loulé, na altura designada como «Roteiro Cultural e Desportivo de Loulé» e publicada em Novembro de 1991. Nunca lhe agradeci o encómio que nos faz, a mim, ao Luís Guerreiro (RIP) e ao Joaquim Mealha Costa, dez anos depois daquela data.