sexta-feira, junho 21, 2019

A bebedeira do mar


A obra acima - que deveria ser lida por toda a gente - é uma enciclopédia simples de saber que estou a ler de novo. Os livros de Bryson são isso mesmo: tentações de saber.
No capítulo XVI (O Planeta Solitário), o autor descreve as investigações malucas dos Haldane, pai e filho, sobre a intoxicação por azoto, que se transforma «numa droga potentíssima a profundidades superiores a 30 metros». Estava na praia quando li estas páginas (359-371) e por associação de ideias veio-me à memória as histórias contadas pelos pescadores submarinos da Carrapateira, em Aljezur, no verão de 1982. Estávamos junto da praia nos primeiros esboços abarracados de alojamento turístico de um amigo, ouvindo os pescadores que tinham ido pescar sargos e liças para o nosso jantar. E acabado o vinho, o acompanhamento disponível de medronho obrigava a uma magia de audição de histórias e a desenhos inextrincáveis. E aí eles contaram como a profundidades altas, na costa vicentina, entre as arribas de xisto e basalto, perdiam os sentidos na apneia de pesca, e ouviam chamados cânticos de sereias e uma coloração vegetal de algas em arco-íris, obrigando-os a deixar armas e equipamento para o fundo do mar. Só depois, a consciência os trazia, em suspensão, para a superfície. Era o azoto no cérebro, pois claro!