domingo, setembro 30, 2018

Uma obra prima


A capa está neste estado, triste como os trópicos de que fala Lévi-Strauss. Está comigo desde 1983, talvez comprado nos primeiros meses desse ano, quando vim de Aljezur, após a segunda temporada de recolha etnográfica para o Museu Regional do Algarve. Esta obra é, por isso, causa e consequência de uma etnografia de urgência que desenvolvemos entre agosto de 1982 e fins de 1984, naquele concelho, mais tarde salvaguardado no museu e sujeito a novas investigações. 
O antropólogo Lévi-Strauss era um dos nossos mitos, na aventura de procurar os resquícios de uma sociedade a caminhar inexoravelmente para o capitalismo moderno, com toda a plêiade de rurbanização e turistificação imparáveis. Ele tinha estado no Brasil, nos anos 1930, ainda jovem, a conhecer as tribos Caduveo, Bororo, Nambikwara e outras, já com a noção da sua provável extinção, pela doença, desmatação do habitat e aniquilamento cultural. Estava certo e quando escreveu este belo livro, nos anos 1950, estava mais do que certo. 
Por ora, os antropólogos alegram-se quando sabem do avistamento no grande Amazonas, de um único sobrevivente de uma qualquer tribo extinta. Qualquer dia, seremos nós a ser alvo da etnografia, «uma das raras vocações autênticas. Podemos descobri-la dentro de nós mesmos sem nunca a termos aprendido» (p. 49).
Claude Lévi-Strauss (1981). Tristes Trópicos. Lisboa: Edições 70.

Tangas e sungas

Foi a D que me chamou a atenção. Chegados a setembro, a praia enche-se de banhistas de tanga de piscina e sunga brasileira. Às vezes parecem cuecas, coloridas, às riscas verticais ou horizontais; quando são pretas enganam e disfarçam melhor. Talvez agosto, cheia de famílias e muitos bebes à beira da água, com a maré vazia, não deixe notar tanto o fenómeno. Ou talvez seja uma impressão crítica nossa que acha que a estética da praia impõe calção até ao joelho, com forro...Não, talvez seja apenas a constatação de um facto aleatório.