segunda-feira, fevereiro 23, 2015

Esquerda radical na Europa

Dá-me alguma satisfação verificar a adjetivação, pouco habitual, de "esquerda radical", para designar um governo da União Europeia. Pois é, a Grécia é governada por um governo de coligação (como é habitual nos países mais desenvolvidos da Europa - como alíás aqueles que a construíram como a conhecemos) que inclui um partido de direita nacionalista. Mas a marca fundamental, o padrão mediático, são dados pelo dito esquerdismo radical, que hoje assinala o caminho a seguir em Portugal, e na Europa, claro (ler aqui).

sexta-feira, fevereiro 20, 2015

Funcionários de escolas em greve em Loulé

Contra a política de austeridade e roubo do trabalho, os funcionários não docentes das escolas fizeram hoje greve. A Escola Duarte Pacheco em Loulé (2º e 3º ciclos do EBásico) fechou hoje portas, deixando na rua a comunidade escolar. Há muito tempo que isso não acontecia naquela escola e é muito bom sinal. Para se perceber que a escola não tem funcionários que cheguem para tantos alunos (o rácio deve ser 1 por 200 alunos?), quer seja para apoio às salas de aulas, docentes e  corredores, quer seja para recreio, controlo e educação controlada por pares. Para além da falta de funcionários, convém saber que o vencimento médio dos funcionários é de cerca de 500 euros. Por isso há que exigir do governo (e das câmaras, já agora) medidas importantes e decisivas neste assunto.

quinta-feira, fevereiro 19, 2015

Mais um ano de blog

Mais um ano deste blog, que começou com o nome de Contrasenso, título de uma crónica que mantinha na altura no jornal A Voz de Loulé (há quanto tempo!), no servidor do Sapo.  Meses depois e após muitos posts mudei para o servidor do Blogger, onde ainda aqui está, por ora com o meu nome. Portanto, feitas as contas, são 11 anos desde o dia 19 de fevereiro de 2004, e assim entro no 12º ano da blogosfera.

domingo, fevereiro 15, 2015

O Rendez-Vous do Rock

A RTP2 (o melhor canal de televisão em Portugal) passou ontem um documentário sobre o célebre Rock Rendez Vous (RRV), o mítico espaço lisboeta da música moderna portuguesa. Nos finais dos anos 80 andei por estes caminhos, com os Entre Aspas, que também participaram num dos concursos posteriores que a Câmara de Lisboa organizou após o ocaso do RRV. O documentário mostra, sem os alardes e vícios da nova filmografia documental, como aquele sítio foi o estímulo decisivo para o que se ouve hoje na música em Portugal. Aplausos.


4 notas que subscrevo sobre o Tempo de Avançar

Rui Bebiano escreve algumas notas sobre a candidatura cidadã Tempo De Avançar (TdA), a partir do seu olhar na convenção fundadora a 31 de janeiro passado. Poderei estar de acordo e subscrever as suas ideias, simples, mas decisivas para que as esquerdas (sim, no plural) possam, finalmente, ter e desenvolver uma ideia e uma prática de convergência nas eleições e no poder de governação.

quinta-feira, fevereiro 12, 2015

Homenagem a José Cavaco Vieira

A Federação do Folclore Português homenageou, no passado dia 8 de fevereiro, alguns dos mais lídimos representantes do folclore algarvio. O Grupo Folclórico de Alte, na pessoa do seu diretor Joaquim Figueiredo, solicitou-me um trabalho de homenagem a José Cavaco Vieira, fundador e diretor do GFA, falecido em 2002. O resultado foi um vídeo com imagens e texto em voz-off que pode ser lido abaixo:

Nasceu na aldeia de Alte, no concelho de Loulé, no ano de 1903.
No palco da sua juventude, representou as peças do Grupo Dramático Altense e nos concertos e serenatas ilustrou-se no violino e na guitarra portuguesa, no Grupo Musical Altense.
Quando rumou a Lisboa, decidiu tirar o curso de guarda-livros e aprendeu as línguas da correspondência internacional, o francês e o inglês, os saberes que permitiram o seu excecional trabalho profissional de mais de 30 anos, na Caixa de Crédito Agrícola de Alte.
De regresso à sua aldeia natal foi eleito para secretário da Junta de Freguesia e mais tarde para seu presidente, durante vários mandatos.
Quando em 1938, António Ferro e o Secretariado de Propaganda Nacional lançaram o Concurso da Aldeia Mais Portuguesa de Portugal, ele viu muito mais longe, do que um simples programa de recuperação dos valores etnográficos nacionais.
A sua capacidade organizativa levou a aldeia de Alte até à fase final do concurso, destacando a cultura tradicional como trampolim para a defesa da identidade cultural local e como uma forma educativa de participação social e empenhamento coletivo do povo da sua terra.
Nos anos 30 e 40 do século vinte, lançou as bases de uma etnografia popular,  baseada em princípios científicos sérios de recolha e de divulgação e dotou o Grupo Folclórico de Alte de uma visão educativa que facilitou a transmissão da aprendizagem da memória local.
Entre os anos quarenta e noventa do século passado escreveu mais de uma centena de crónicas, primeiro no Boletim Paroquial de Alte e depois no seu célebre Conversando, no jornal Ecos da Serra.
Nos seus momentos mais íntimos colocou em telas improvisadas, a pintura que lhe complementava a alma: a natureza agreste, mas benfazeja, as noites de reflexão à luz da lua, as casas brancas e o seu povo, que muito respeitava.
Da sua visão artística e ecológica nasceram também algumas obras, que amava muito pessoalmente: a escultura de pedra camoniana da Fonte Grande, e o Cristo de madeira que expõe em sua casa.
Até nas coisas mais simples da vida, ele foi sabedor. Respeitava a natureza, as árvores do seu quintal e as coloridas plantas da sua aldeia.
Todos os dias passeava junto à ribeira para ver se ela se mantinha livre e vívica como ele gostaria.
Cozia a sua fruta e tocava sempre o seu violino antes de dormir, lembrando a sua esposa.
Alguém lhe chamou o patriarca de Alte. Ele foi patriarca e matriarca, símbolo vivo e emblema, como lhe chamaram diversos amigos e concidadãos.
Ele foi alma e coração de Alte. Todos o ouviam com prazer e escutavam as suas palavras sabedoras e profundas sobre a vida.
Recordamo-lo à porta soalheira da sua casa das Valinhas, sentado a comer, deliciado, um cacho de uvas das suas parreiras.
Tinha acabado de tocar, no seu violino, “Tens a parreirinha à porta”, cansado do trabalho de gravação de um disco sobre a tradição musical de Loulé.
Era fim de tarde de setembro quando percorria, pausadamente, as sombras inclinadas das figueiras e alfarrobeiras, olhando o horizonte prenhe de luz e calor.
Acariciou as palhas secas, as uvas brancas e os figos carnudos da figueira onde se deixou fotografar, ao fim do dia, com o seu colete de linho alvo e o seu negro chapeirão.
Depois, disse, com a sua sabedoria: “Vamos para casa!”.
Morreu num dia de fevereiro de 2002, quando contava 98 anos de idade.
No centenário do seu nascimento, em 2003, uma comissão alargada de instituições e personalidades homenageou devidamente a pessoa que hoje aqui também lembramos com amizade: José Cavaco Vieira.