sábado, março 28, 2015

Tolerância religiosa

Já há algum tempo que gostaria de ter escrito aqui o exemplo de ecumenismo, ou poderia dizer de tolerância religiosa, dado pela Câmara de Loulé ao anunciar, na sua Agenda mensal, as liturgias de confissões religiosas que não as católicas. Cumpre-se assim o dever de aceitar e divulgar, ao mesmo nível, as orientações de pendor religioso dos municípes, tal como regula a Constituição, que define o estado laico e a aceitação da diversidade religiosa. Pena que outras instâncias, a começar pela escola pública, não o façam, mantendo a disciplina de Educação Moral e Religiosa, apenas entregue à confissão católica.

quarta-feira, março 25, 2015

Herberto Helder

BICICLETA

Lá vai a bicicleta do poeta em direcção
ao símbolo, por um dia de verão
exemplar. De pulmões às costas e bico
no ar, o poeta pernalta dá à pata
nos pedais. Uma grande memória, os sinais
dos dias sobrenaturais e a história
secreta da bicicleta. O símbolo é simples.
Os êmbolos do coração ao ritmo dos pedais —
lá vai o poeta em direcção aos seus
sinais. Dá à pata
como os outros animais.

O sol é branco, as flores legítimas, o amor
confuso. A vida é para sempre tenebrosa.
Entre as rimas e o suor, aparece e des
aparece uma rosa. No dia de verão,
violenta, a fantasia esquece. Entre
o nascimento e a morte, o movimento da rosa floresce
sabiamente. E a bicicleta ultrapassa
o milagre. O poeta aperta o volante e derrapa
no instante da graça.

De pulmões às costas, a vida é para sempre
tenebrosa. A pata do poeta
mal ousa agora pedalar. No meio do ar
distrai-se a flor perdida. A vida é curta.
Puta de vida subdesenvolvida.
O bico do poeta corre os pontos cardeais.
O sol é branco, o campo plano, a morte
certa. Não há sombra de sinais.
E o poeta dá à pata como os outros animais.

Se a noite cai agora sobre a rosa passada,
e o dia de verão se recolhe
ao seu nada, e a única direcção é a própria noite
achada? De pulmões às costas, a vida
é tenebrosa. Morte é transfiguração,
pela imagem de uma rosa. E o poeta pernalta
de rosa interior dá à pata nos pedais
da confusão do amor.
Pela noite secreta dos caminhos iguais,
o poeta dá à pata como os outros animais.

Se o sul é para trás e o norte é para o lado,
é para sempre a morte.
Agarrado ao volante e pulmões às costas
como um pneu furado,
o poeta pedala o coração transfigurado.
Na memória mais antiga a direcção da morte
é a mesma do amor. E o poeta,
afinal mais mortal do que os outros animais,
dá à pata nos pedais para um verão interior.


Herberto Helder, excerto de Cinco Canções Lunares

terça-feira, março 24, 2015

Julgamento de Rafael Marques



Rafael Marques é um jornalista angolano conhecido como ativista de direitos humanos. A sua obra Diamantes de Sangue serviu para denunciar os atropelos e crimes praticados nas regiões diamantíferas do norte de Angola, no qual acusa a nomenklatura do poder angolano de participação nas afrontas cometidas. Por causa disso começa hoje a ser julgado em tribunal de Angola, correndo o risco inculcado em quem afronta os poderosos. A editora Tinta da China, chancela onde editou a sua obra disponibiliza o download gratuito como forma de apoio a este jornalista, abandonado também pelo estado português. Ler aqui. Pode assinar a petição da Aministia Internacional aqui.

segunda-feira, março 23, 2015

Alisuper: a mentira da economia

Já lá vão três anos. A CUVI, Comissão de Utentes da Via do Infante, preparava a receção ao ministro da economia. Álvaro Pereira, vinha inaugurar a loja do Alisuper ali no paraíso da elite em Vale do Lobo/Loulé. Depois das falências do grupo e do desemprego o ministro anunciava o arranque do grupo, com dinheiros privados do empresário Nogueira. Nessa tarde a nossa tática foi outra. Ao invés de desfraldar os cartazes e as palavras de ordem, e aguentar os empurrões da polícia e dos seguranças, armamo-nos em democratas para desmascarar uma falsidade da política económica do governo de direita, que mantinha as portagens na Via do Infante. 
Bem dito, bem feito!. Passaram uns anos e no sábado, o Expresso-economia lá trazia as queixas do empresário Nogueira, dono do grupo Alisuper, sem créditos para manter as lojas (a de Olhão fechou há semanas) e a queixar-se que o governo não o apoiou. Surpresa?

sábado, março 21, 2015

A ministra do regime

Ter os cofres cheios e afirmá-lo lembra o velho botas Salazar, que se engrandecia de soberba com as barras de ouro no Banco de Portugal, enquanto o povo passava fome, vivia na miséria e se iluminava de iliteracia. A ministra das finanças herdou a sobranceria ideológica e o desejo do garrote explorador do velho regime fascista. E se dúvidas houvessem bastava escutar as suas paternalistas e bíblicas palavras destinadas aos jovens conservadores da JSD: "vocês são jovens, multiplicai-vos!". É certo que a exploração capitalista precisa de braços para trabalhar. Antes nas fábricas e nos campos, agora nos call center ou na emigração. Solução? Pôr esta gente daqui pra fora.

quinta-feira, março 19, 2015

Zé Francisco, músico do mar do Algarve

O Zé já não me surpreende. Ao ouvir a Rua Fm, no caso o programa Socializar Por Aí (do curso de Educação Social), dei com o 1º álbum do Zé Francisco, velho amigo das lides musicais (Borda d'Água, Entre Aspas, Mare Nostrum, and so on), na sua velha veia de cantautor. O Zé escreve com a alma de pescador da borda dágua, cheio da maresia de Santa Luzia. Para além disso é um grande músico, que herdou as sabedorias dos lídimos instrumentistas do eixo entre Cabanas de Tavira e Fuzeta. O Zeca sabia-o bem.