sexta-feira, março 28, 2014

25 de abril em Loulé

Confesso que este ano as comemorações do 25 de abril não me aquecem nem me arrefecem. Pergunto-me porquê. E talvez encontre a resposta na legitimação que a burguesia e o capitalismo fizeram da revolução. Diria melhor, da sua revolução. Sim, talvez fosse melhor falar, como sugere Bourdieu, de revoluções. E na verdade, o que  se comemora hoje (este hoje representa muitos anos) não é a revolução do PREC (quem não sabe o que é, pesquisa), nem a do poder popular, mas a da 'normalização', como referia Stoer. Eu, que a vivi em «acto», naquele dia, custa-me ver alguns dos seus heróis colocados no palco, deixando a plebe na plateia, sujeita a convite democrático, plasmado em bilhete, para assistir à nomeação da revolução. 
Por tudo isto, tem toda a razão o João Martins, que faz da 'arruaça' a sua arma democrática. E eu quero dizer que estou com ele, e apoio o seu grito em defesa da democracia e não deste 'abril'.

1º de maio de 1974 em Portimão

sexta-feira, março 21, 2014

Primavera Pessoa

O início da primavera é marcado por nuvens pouco sombrias sobre o monte da mãe soberana, arroteado para as canas dos foguetes da próxima páscoa. Os tomilhos, esses foram ceifados pelas máquinas, e os abelharucos migraram para outros ninhos, noutras barreiras mais calmas.
Dia de Pessoa, também, em Lisboa sua terra de poesia.

sexta-feira, março 14, 2014

Algarvios e castelhanos

A coisa não é de agora. Já em 1571, vinte embarcações castelhanas capturavam ostras na costa de Tavira, duas milhas em frente, num monte de carcanhóis que parecia uma serra, segundo os pescadores. Usavam, como hoje, ancinhos de ferro a que chamavam rastros, com saco de rede que puxavam a remos. O bergantim defensor da cidade lá navegou, aprestando velas e ostras, mas os castelhanos habituados a negociar com os algarvios - e  a tê-los como mareantes nas suas costas andaluzas - prometeram boa soma de dinheiro e a venda de ostras na cidade de Tavira, em troca da licença. A conversa fiada não foi aceite, porque os pescadores reivindicavam a sua pesca*. Os olhanenses, esses mais espertos, lá pescavam na costa marroquina de Larache, muitas vezes sem licença. E muitos outros  algarvios, em pequenas embarcações, faziam o mesmo nas costas da Andaluzia, entre Ayamonte e Cádiz. Foi esse comércio que fez a interação económica durante séculos, no triângulo hispano-luso-marroquino, como diria Romero Magalhães e que construiu o que algarvios e andaluzes são nos dias de hoje.

*A história é inspirada na Corografia do Reino do Algarve, de Frei João de São José, de 1577.

domingo, março 09, 2014

Derek

Derek é uma obra prima. Já se sabe que tudo o que o comediante britânico, Ricky Gervais, faz na televisão é de uma qualidade global: escrita, representação, simbolismo, crítica social. Lembramo-nos todos de Office, uma série que colocava os escritórios no palco da maior crítica ao emprego do manga de alpaca e aos ditames das formações dos experts das vendas. Agora, em Derek, em que Ricky é um funcionário/utente de um Lar de Idosos em estado terminal, é a desconstrução das vidas em suspenso que está sempre presente, como o horizonte inevitável do que nos espera a todos/todas. A responsabilidade é do pequeno/grande canal de cabo, que habito quase sempre o Q (posição 15).

quinta-feira, março 06, 2014

TERRAMAR

Vinte anos depois, de dez anos depois, voltei ao ciclo de TERRAMAR, a obra prima de Ursula K. Le Guin.
Verdadeiramente incontornável.

terça-feira, março 04, 2014

Privatizar a água ao capital

Para os media, há uma grande surpresa nos contratos leoninos com as parcerias público-privado no setor das águas. Claro que os media reproduzem, muito a posteriori, o que os pensadores alertam. Neste caso também se sabia que os contratos de atribuição da distribuição da água de consumo aos capitais privados só tinha um desiderato: encher os bolsos dos privados amigos das autarquias e dos governos. Os privados ganharam percentagens acima dos 15% e as autarquias ficaram com os riscos, por exemplo o facto de o consumo naturalmente diminuir com o aumento do preço da água. Quando defendemos a recusa de privatização da água de consumo, é também isto que queremos dizer.

Um país que recupera o capital explorador



 A crónica de Vitor Malheiros, como é habitual, desmonta o significado da campanha do PSD sobre o estado de 'desenvolvimento e crescimento' de Portugal, na verdade a recuperação do capital e a destruição da classe média e da juventude:
O que Luís Montenegro quis dizer foi que "A vida do povo não está melhor, mas a vida da oligarquia que manda no país está muito melhor". Foi por isso que se congratulou. Porque ele faz parte dela (ler aqui).

domingo, março 02, 2014

Relvas

Agora que o senhor Relvas voltou ao aparelho do PSD, regressou também ao meu toque de telemóvel. Eu bem sabia que não o deveria apagar.


Carnaval de Loulé

Se há um padrão nas festividades de carnaval deste ano, é o da tristeza. Os desfiles, quer sejam de samba ou de santos populares de junho, são uma demonstração do frete que é andar no corso, transformado há muito tempo em espetáculo de inverno pago para assistir. E o problema não é da austeridade, da crise ou da depressão gripal deste ano. É a morte do carnaval dito civilizado (o paradoxo mais evidente da sua morte), que destronou o entrudo como tempo de exorcização dos tempos negros do inverno e da espera dos tempos frugais da páscoa. Resta, para consolo, os caretos de Podence, na velha Trás-os-Montes, o entrudo chocalheiro que, para sobreviver, apresenta-se também como a velha tradição nos novos tempos do turismo de massas.