segunda-feira, novembro 25, 2013

Eanes e o 25 de Novembro de 1975

O general Eanes (e ex-presidente da República) está a ser homenageado por estas alturas. Para mim ele é o operacional da derrota do 25 de Abril, tal como Otelo o foi na vitória desse dia. Podem dizer que o golpe do 25 de novembro impôs a 'normalização' e instalou a democracia parlamentar. Para mim, ele é o homem que serviu o capitalismo para destruir os caminhos da autonomia do poder popular contra o estado, os partidos e os patrões. Como aliás os tempos que correm nos mostram à saciedade. E mais nada.

Ferrovia privada no Algarve

A subconcessão torna a CP pioneira numa empresa controladora de contratos de gestão ferroviária, mantendo o seu controlo do sistema ferroviário. Ao contrário da morte da CP, estamos a planear uma CP com futuro.
Palavras do presidente da Administração da CP, Manuel Queiró, a propósito da subconcessão a privados da linha de Cascais. Depois do balanço desta sub-privatização estão na calha as linhas do Porto e do Algarve. É claro que depois das privatizações da CIMPOR, GALP, ANA (e agora dos CTT), que redundaram num aumento de despesas no consumo dos trabalhadores, está-se mesmo a ver o futuro da CP no Algarve. Numa altura em que se gastam milhares de euros com  a concessão público-privada na Via do Infante, que está às moscas, quando a Estrada Nacional 125 está a abarrotar de tráfego e a servir de cemitério móvel, a preocupação do governo é concessionar a privados uma via ferroviária que deveria ser reabilitada e promovida em sintonia com as mobilidades rodoviárias e marítimas na região.

sábado, novembro 23, 2013

Canal Q

Costumo ver o canal Q no cabo (posição 15), dado que os programas de entrevista ou de debate repetem a diversas horas e é possível encontrá-los quase sempre, fora da 1ª emissão. Esta noite, no programa Baseado numa História Verídica (excelentes entrevistas de Aurélio Gomes) é entrevistada Helena Sacadura Cabral, na qual fala dos filhos Miguel e Paulo, despida de qualquer preconceito ideológico. A promo promete (linque).

O Estado e a Esquerda

Mas há uma cultura instalada de dependência do Estado que não autoriza, sequer, que se raciocine. Vem de muito longe, mas foi cimentada com o salazarismo, o gonçalvismo e o Portugal dos dinheiros europeus.
Esta citação, retirada da crónica de Miguel Sousa Tavares no Expresso de 9 de novembro, a propósito da análise ao ataque ao funcionalismo público no quadro do pagamento da crise, pode parecer uma marca de direita, mas não é. De facto, num contexto de crise estrutural do segundo pós-guerra, depois de ter sido inventado o estado providência e da social-democracia ter desenvolvido um estado social forte, não mais se deixou de pensar no estado como a última fortaleza dos direitos sociais dos trabalhadores. Agora que a classe operária desapareceu, no seu formato clássico, e quase todos nós somos assalariados do estado, o nosso pensamento molda-se a partir de uma visão estadocêntrica, como refere Rui Canário. Esta visão, muito longínqua das velhas ideologias anarquistas e anarco-sindicalistas (que afirmavam "Nem patrões, nem Estado"), tem marcado toda a análise de esquerda sobre as sociedades e, provavelmente, tem contribuído para uma incapacidade crítica de pensamento e de transformação social.

quarta-feira, novembro 20, 2013

Cunhal a nú

Pacheco Pereira faz, neste post (linque), uma autêntica descrição da epistemologia da história. A propósito da sua conhecida obra sobre a vida de Álvaro Cunhal discorre sobre o trabalho do investigador, a análise das fontes, o fechamento dos arquivos políticos. Algo que os investigadores conhecem bem, quando se trata de contar outras histórias, que assentam em dados rigorosos e que cruzam várias fontes, documentais e orais e que muitas vezes as próprias fontes enviesam, ingénua ou deliberadamente. O PCP e o próprio Cunhal não estão imunes a isso. Pacheco Pereira percebeu-o bem e, não tendo um acesso seguro a uma eventual autobiografia de Cunhal, fez da sua escrita ficcional uma fonte não deliberada. A ler com cuidado e atenção.

terça-feira, novembro 19, 2013

Em defesa do ensino superior

Finalmente os estudantes vieram para a rua. Em Lisboa são mais de 1500, em protesto contra os cortes no ensino superior: nas bolsas, nas cantinas, no pagamento a  professores convidados decisivos para muitos cursos. No mesmo dia em que o presidente do CRUP (Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas) se demitiu e em que se espera a mesma decisão do presidente do Conselho Coordenador dos Politécnicos, reunido neste momento.
Durante a semana também a FENPROF organiza protestos de luto e de luta contra os cortes do orçamento austeritário do estado, que destroem o ensino superior.
Entretanto o ministério de Crato continuado calado.

segunda-feira, novembro 18, 2013

Cinema documental em Loulé

Não há propriamente cineastas de Loulé, como também não é possível delimitar uma literatura louletana. De qualquer modo é possível considerar uma mostra de cinema documental feito por gente de Loulé ou cuja temática aborde assuntos do concelho. Foi isso que a Câmara fez, convidando realizadores mais ou menos profissionais (quase sempre amadores) a mostrar as suas obras em duas sessões realizadas na Biblioteca. Depois da 1ª sessão há umas semanas, decorreu a 2ª na passada sexta, onde se mostrou um videoclip da New Light Pictures - os jovens que realizaram o já célebre Comando (linque) e dois filmes de Adão Contreiras - uma promo dos Velhos da Torre (cujo projeto é meu) e outro sobre Os anos de Rajú (linque). Uma iniciativa que pode abrir caminho a empreendimentos profissionais e culturais sérios no campo do cinema em Loulé.

quarta-feira, novembro 13, 2013

O etnocentrismo turístico


Dei com o documentário, por acaso, no canal Odisseia. Solenn Bardet, geógrafa e etnóloga francesa, filha adotiva do povo Himba, do norte da Namíbia, fez um filme desenhado e participado pela comunidade local-Les Himbas Font Leur Cinema (um pequeno trailer pode ser visto no vimeo: linque). A autora está lá, dentro do filme, fazendo jus ao chamado 'cinema verdade', sem se esconder por detrás da câmara, mostrando que a fição é apenas uma leitura da realidade. Um dos momentos marcantes e críticos do filme, é quando os membros da aldeia se vestem e pintam de turistas e representam a intrusão na aldeia, apropriando-se da cultura de forma mercantil e na base de um etnocentrismo turístico patente em todo o mundo. Solenn explica no vídeo abaixo o que é para ela o anti-documentário. Excelente.


Vox populi #2


Fizeram luta na fábrica?
Como não dávamos na fábrica, começamos a ir ao escritório, buscar os vales, naquela altura era em contos, era 10 contos, era 15 contos, era aquilo que eles pudessem dar. Lembro-me também que eu aleijei-me no trabalho e naquela altura ninguém conseguia fazer nada. Fizemos lá um levantamento, eu fiz lá um barulho, um barulho desgraçado e naquele dia houve dinheiro para toda a gente. «Se há dinheiro para os empregados de escritório também há dinheiro para quem está a trabalhar». E naquele dia houve dinheiro. Foi pouco, mas houve dinheiro para toda a gente, tudo igual.
Alda, pseudónimo da entrevistada nº 5, 2 julho 2010
Trabalho de campo do doutoramento

segunda-feira, novembro 11, 2013

Memórias do Minho

A RTP2 está a passar esta semana, na altura do jantar, um conjunto de documentários sobre tradições do Alto Minho. Trata-se de uma obra da Associação de Produção e Animação Audiovisual 'Ao Norte', com sede em Viana do Castelo, e mostra um leque de práticas culturais significantes da tradição cultural e económica do norte. A avaliar pelo documento de hoje, sobre a técnica e a estética da produção do 'ouro popular', bem filmado e testemunhado e fugindo a uma abordagem romantizada e folclorizada, temos pela frente documentários de muito interesse. Amanhã (3ª) passa um dos que me interessa preferencialmente. 'Desafios' aborda a prática do canto ao desafio, uma explosão de crítica pessoal e social, um exorcismo de poesia popular assente no improviso. A não perder, até sábado (linque).

domingo, novembro 10, 2013

Edital à direita

Mais novidades à direita: ali, no sidebar, os blogues que em tempos estiveram (e que por razões técnicas sairam) e outros que já lá deveriam estar há muito tempo. Ibérico para já só o de Vila-Matas, escritor que admiro e leio à fartazana.

100 anos de Cunhal

Devo dizer que Cunhal e o PCP nunca me atraíram por aí além. Aliás, a maior parte das vezes encontrei o PCP na barricada contrária. O facto de ter nascido numa cidade operária, onde o peso histórico dos anarquistas era tão ou mais forte do que o do PCP, levou-me para caminhos juvenis de militância mais radical. De Cunhal li com interesse o Rumo à Vitória, para conhecer as suas ideias sobre a 'revolução democrático-nacional' (tenho uma edição de junho de 1974). E mais tarde, em 1978, li com muito gosto o Até Amanhã Camaradas, de Manuel Tiago, que toda a gente desconfiava ser de um Cunhal mais jovem e romântico, como todos e todas pensávamos poder vir a ser. Mas a única maneira mesmo de combatermos as suas ideias é conhecê-las. Por isso vou ali ver a entrevista de Pacheco Pereira sobre o tema e já volto.

para que servem as estatísticas?

A resposta seria: para enganar os incautos! Marinús Pires de Lima, precursor da Sociologia em Portugal, caía em cima das análise estatísticas revelando a sua pouca fiabilidade sociológica. Um amigo meu, advogado e escritor, escreveu numa das suas crónicas que abominava o facto de dizerem que ele comia 5 frangos por ano, quando ele não gosta mesmo nada do galináceo. As estatísticas de emprego e desemprego também servem para o governo aldrabar os incautos. Com os dados do desemprego a descer no 3º trimestre de 2013, o jovem ministro do emprego vem falar-nos de milagre económico. O que sabemos é que o 3º trimestre (julho, agosto e setembro) viveu do verão turístico e dos seus complementos. Deixem lá chegar os dados do 4º trimestre para vermos onde vai parar a curva do desemprego. Aliás, bastou ver na televisão a vergonha dos serviços do centro de emprego de Portimão - com filas desesperadas dias a fio na semana que passou - de desempregados a tentar a sua rápida inscrição, para percebermos onde está a ideologia (sim, a ideologia) deste governo de direita austeritária.

sábado, novembro 09, 2013

Berbigões da Ria Formosa

Hoje, ao almoço, berbigões da Ria Formosa, com papas de milho e bacon (a substituir o toucinho de sal, ausente na despensa). Depois de depurados, em três águas salgadas da mesma ria, abertos com azeite do Alentejo (comprado em Espanha), alhos e coentros, meio quilo ao natural e o outro meio na panela. Manjar de um deus terreno.

sexta-feira, novembro 08, 2013

Serão os comunistas coerentes?

Ontem, na SIC Notícias, o deputado comunista António Filipe (AF) aproveitava o seu 1º minuto de debate para contestar o acordo entre o PS e o PSD na direção da Junta Metropolitana de Lisboa. A declaração parece pertinente, porquanto critica a 'aliança anti-comunista' num importante órgão de gestão autárquica. Mas, na verdade, aquilo que AF contestou é exatamente a prática do PCP nas autarquias e noutros órgãos de gestão política, por exemplo nas entidades regionais de turismo. Sabemos que, por exemplo em Loures, cuja presidência o PCP através de Bernardino Soares ganhou sem maioria absoluta, a forma de governar implicou um acordo com o PSD. Aliás os comunistas são useiros e vezeiros nestes acordos com a direita. Também nas juntas de freguesia do concelho de Loulé, os eleitos do PCP aliam-se à direita do PSD para fazer maioria de governo em troco de uns patacos que decorrem de um cargozito de meia tigela. Onde está a apregoada coerência do PCP?

quinta-feira, novembro 07, 2013

Mal parado, não o crédito!

Pedro Mexia, um dos decanos da blogosfera portuguesa, que me habituei a ler e me entusiasmou desde os tempos da Coluna Infame, tem um novo blogue, O Mal Parado, de desenho sóbrio e inteligente, tanto no design como na escrita, tal como nos habituou. O homem não pode passar sem isto (linque).

quarta-feira, novembro 06, 2013

Vox Populi #1



Nada, nem os nossos pedreiros podem trabalhar, porque vêm os lá de fora trabalhar e os nossos ficam sem trabalho e quem quer ganhar algum tem de fugir daqui para fora e se agora não temos dinheiro para um litro não se compra metade de meio litro porque não há, se não tem dinheiro para um quilo não se compra meio quilo ou 250 porque não há e lá no outro tempo havia 5 tostões disto, 5 tostões daquilo e íamos acumulando e agora não, ou se tem para comprar muito ou não se come e fala-se à vontade é verdade mas cada vez espezinham a gente mais, é mentira ou é verdade? Ouvem por qui e sai por qui, aldrabões até dizer chega, num dia dão um discurso, no outro dia a conversa já não é assim é de outra maneira e eu já fecho a televisão para não me irritar…
 Armanda, pseudónimo da Entrevistada 6, 23 junho 2010
 Trabalho de campo do doutoramento


Edital da casa

A publicidade anda a capturar-me algumas palavras para indiciar os leitores a seguirem o seu caminho. Não escolhe mal: cidadão, trabalho, etc. É uma publicidade de esquerda e politicamente correta. O que fazer? como perguntaria o Lenine (vamos ver se este é capturado). Passarei a identificar os linques com esta mesma palavra entre parentesis, na qual deve clicar por cima. Assim: (linque).

terça-feira, novembro 05, 2013

segunda-feira, novembro 04, 2013

A economia-casino

Ontem, procurando vídeos sobre economia para apoiar o estudo reflexivo do meu filho mais velho, demos com um vídeo do Movimento Zeitgeist sobre as razões do colapso financeiro em toda a Europa. Vale a pena ver, a desmontagem crua  mas pedagógica que o texto e as imagens fazem do capitalismo financeiro que nos governa e que nos querem fazer crer como inevitável e inexorável. Talvez fosse bom que os professores de economia começassem a vê-lo e a mostrá-lo nas escolas, para que a nova fornada de economistas não se limitem a ser os novos macacos do início do filme, mas se tornem pessoas reflexivas e justas (ver aqui).

domingo, novembro 03, 2013

Em defesa da escola pública

A propósito da manifestação de protesto dos alunos e das alunas da Escola Secundária João de Deus em Faro, o João Martins sugere o uso mais justo de dinheiros do orçamento da Câmara de Loulé para as obras da Escola Secundária de Loulé, ao invés de gastos culturalmente supérfluos. Tem toda a razão. A Câmara deve dispor-se a defender a escola pública, tal como enunciado pelo seu presidente na tomada de posse, e deve exigir do atual governo que termine as obras necessárias ao funcionamento da escola. E pode começar por mostrar como se faz, fazendo uma vistoria às suas instalações.

Os outros dentro de nós

A fobia antiterrorista dos EUA, sobretudo após o 11 de setembro, mostra como muitas vezes procuramos nos outros a responsabilidade dos nossos males. Este país, que se construiu como um melting pot de diversidade cultural e sociológica, só pode dar nisto. Tem dentro de si raízes de mal e de bem e, por essa razão, não vale a pena procurar nos outros, na alteridade, aquilo que é elemento comum da sua identidade.

sexta-feira, novembro 01, 2013

Grupo Folclórico da Casa do Povo de Alte

Quem me visita aqui, tem encontrado algum vazio. Na verdade tenho andado a escrever (e a ler muito) noutros lugares e suportes. De um deles dá-se aqui registo, o livro sobre a história do Grupo Folclórico de Alte (GFA), que terminei recentemente após cerca de 8 anos de investigação e que foi apresentado no dia 4 de outubro passado em Alte, no dia do 75º aniversário do GFA. O livro, cartonado, de 144 páginas e cerca de 100 imagens de fotos e documentos, pode ser adquirido na Casa do Povo de Alte que o editou.
Agora vou partir para outra: o meu doutoramento em educação popular vai sendo atrasado mas está sempre em andamento, como as velhas automotoras.