domingo, novembro 25, 2012

Alberto Melo em Passagens Revoltas

Ontem, a convite do Joaquim Mealha, estive a apresentar o livro do Alberto Melo na Biblioteca de Loulé. Fi-lo em companhia da Priscila (companheira do Alberto) e do amigo José Teiga. Um homem ensina o que é, mais do ensina o que sabe. Esse foi o mote para falar do percurso do Alberto: a maneira como mostrou aos seus alunos o valor de outros códigos de aprendizagem que não só o da escrita e das contas do formato escolar. O respeito pela diversidade e pelos saberes das pessoas, mais do que o interesse pelas suas lacunas. O seu interesse e as suas contribuições teóricas sobre o movimento operário e popular, e a construção de uma autonomia educativa e social ao longo da história. O seu empenho na construção de 'situações educativas', onde as pessoas poderiam aprender, num processo de ombro a ombro com agentes externos e não numa simples exposição de face a face. Estas ideias, que configuram a perspetiva de uma visão marxista e de uma educação 'subversiva', vimo-las nós no seu trabalho junto de comunidades desfavorecidas do interior algarvio, na formação de mulheres para o auto-emprego ou no desenvolvimento local alternativo à produção mercantil capitalista. Alberto Melo é um homem da praxis social, na esteira de Paulo Freire e de muitos outros pedagogos, para quem a teoria per si é bla-blá-blá e a prática despida apenas voluntarismo. Por isso o autor está em permanente reflexão sobre o processo de 'fazer' e escreve sobre esse ato, para mais tarde devolver a teoria a quem precisa de saber fazer também. Em entrevista a José Carlos Abrantes, na revista Noesis (1997), questionado sobre o seu lema de vida, Alberto respondeu: "Levar a satisfação aos inquietos. Levar a inquietação aos satisfeitos". Tenho a certeza que o Alberto continuará a deixar-nos muita satisfação. Mas de certeza que, sobretudo, nos irá continuar a inquietar.

(texto construído com base na comunicação oral apresentada na altura)

domingo, novembro 18, 2012

A dança universal em Angola

Luso Doc, um nome arrojado para divulgar uma mostra de cinema documental dos países lusófonos, que decorreu nos últimos dias em Loulé. Ontem dispus-me a ver "Oxalá Cresçam Pitangas", de Kilunaje Liberdade e Ondajki (este um jovem autor do novo romance africano, bastante lido em Portugal). Uma troca técnica de filmes mostrou-nos o da noite, "A Minha Banda e Eu", do mesmo Kiluanje e de Inês Gonçalves. Um documento sobre as danças urbanas angolanas Kizomba e Semba, muito bem tratadas pelas imagens coreográficas e dinâmicas do autor. O que se prova é a criação artística de jovens angolanos, a partir de uma universalidade da expressão corporal, lembrando valsas e tangos, mas que é outra coisa qualquer. Ritmo e harmonia da tradição africana e mestiçagem europeia do pós-colonialismo. O filme também não enjeita uma abordagem do racismo negro, ao dar a palavra a um jovem coreógrafo branco e luso, que se apropria da dança crioula, mas que se manifesta no desejo de aprender e de ensinar afetos e abraços universais. O remate é justo: 'a dança é de todos' diz o dançarino/soldado angolano ao lado do seu par, uma jovem soldado que rejeita os traumas da guerra civil e prefere o amor da dança. Excelente trabalho.
Pode ver aqui o trailler do documentário:

quarta-feira, novembro 14, 2012

A educação em Portugal

Helena Garrido, diretora-adjunta do Jornal de Negócios, escreve os editoriais do jornal. É portanto uma editora. No passado dia 13 dedicou-o a "Ângela Merkel e a maioria silenciosa". A chanceler é assim a grande gestora do desenvolvimento das empresas alemãs em Portugal e a maioria silenciosa são aqueles que não se manifestam contra a política do eixo franco-alemão (agora mais germânico do que francófono). Merkel e a maioria silenciosa vieram dar uma lição a Portugal: a de que é preciso mais qualificação e formação. E isso só vai com o 'sistema dual' que Portugal importou da Alemanha, a única forma de "corrigir os erros que foram sendo cometidos na educação em Portugal". Ora aqui é que bate o ponto e vale a pena perguntar: o que sabe esta senhora da educação em Portugal? Aceita-se que pode ter opinião, mas que a deve explicitar, o que não faz. Como jornalista deveria perceber isso! Bem diz Pacheco: os jornalistas, em vez de darem notícias, são cada vez mais opinadores de quase tudo. E de muita coisa sabem quase nada.

terça-feira, novembro 13, 2012

O vídeo de Marcelo

Falou-se, fartamente, de um vídeo produzido por Marcelo Rebelo de Sousa para vender ao governo alemão as virtudes da 'pátria portuguesa'. Eu vi-o! Um chorrilho de imagens de gosto primitivo ao nível de qualquer estudante do básico, que filma com o telemóvel e coloca no you tube. Como o 'professor' não sabe tudo, chamou um assessor monárquico para o realizar; o mesmo que retirou a bandeira da tal pátria da varanda da Câmara de Lisboa, há uns tempos. O que ressalta disto tudo é a ideia de que afinal quando se quer saber de ténis, política e cinema, não se sabe mesmo de quase nada. Bem diz Boaventura: sabedores do quase nada e ignorantes do quase tudo.