sábado, outubro 30, 2010

O candidato do Poço

Leiam só:
«...forma “séria, equilibrada, imparcial, justa e ponderada” com que Cavaco Silva exerceu o cargo ao longo destes quatro anos, “numa altura em que o País atravessa uma das maiores crises socioeconómicas de sempre”».
Esta foi a razão que levou o executivo da Câmara de Loulé a deliberar apoiar o actual presidente da república, nascido em Poço de Boliqueime. A notícia (link) não diz se foi todo o executivo, incluindo os três vereadores do PS. Bem, agora parece que só dois porque a vereadora Hortense Morgado parece que se passou de uma ponta do centrão para a outra.
Para além do ridículo da situação (vou pedir aos meus dois peixes, ao periquito e ao gato que subscrevam de algum modo a candidatura de Alegre), esta visão paroquial dos cargos mostra a dimensão política dos seus autores. E esquece o essencial da coisa: é que Cavaco foi mesmo um dos grandes autores do lodaçal de crise que cai em cima de nós todos. Mesmo tendo nascido no poço.

quinta-feira, outubro 21, 2010

Estudantada da treta

Desculpem o desabafo, geracional eu sei, mas ver aquela cambada de estudantes de Viseu a estender tapetes e a pedir "salta Cavaco, olé!", dá-me arrepios na espinha. Nem no tempo do fascismo, quando era puto, me obrigavam a adular escravizadamente Salazares, Caetanos e Tomazes. Bem sei que os tempos são outros, mas porra, o que me dá tesão é ver os estudantes franceses a serem presos por protestarem contra as medidas reacionárias de Sarkozy. Parafraseando o João Martins, aquela carneirada não passa de 'Lupenestudantariado'.

Dendrofobia

Não é de agora o desprezo pelas árvores em meio urbano, a ‘dendrofobia’ como lhe chamam os botânicos. Nos Petits Poèmes en Prose, Baudelaire dizia sobre Lisboa que «É uma cidade à beira da água; dizem que está edificada em mármore e que o povo tem um ódio tal à vegetação que arranca todas as árvores» (ver Filomena Mónica em Turista à Força). Em Loulé tivemos um exemplo paradigmático desta dendrofobia institucional, quando a Câmara mandou abater 16 tílias, com mais de 50 anos, na Praça da República, exatamente no Dia da Árvore de 2010 (ver link).

Curioso foi o facto de, na minha investigação de doutoramento, vir a encontrar na acta de uma reunião de Câmara Municipal de Portimão, uma nota dizendo que os moradores da Rua João Lúcio tinham pedido a substituição das amoreiras «por outras que não prejudiquem o asseio local». A Câmara deliberou mandar saber quantas árvores seriam, para a sua imediata substituição (Acta de 22 dezembro 1976). Uns dias antes do Natal, portanto. A tradição ainda é o que foi.

domingo, outubro 17, 2010

Operário protesta nu na 125

A luta dos operários contra a fome, ao longo da história, já deu muitos exemplos de criatividade e de desespero. Na 6ª passada um operário imigrante ucraniano protestou nu, contra os 6 meses de salário que a empresa VDV Protrata (responsável pela construção do Hotel Conrad Algarve Palácio da Quinta, na Quinta do Lago) lhes deve, bem como a mais operários que também protestaram em Almancil, junto da sede da empresa (ler notícia).
Já se percebeu que a situação de crise económica e financeira que o país vive é sobretudo uma crise estrutural do capitalismo, que tem vivido da exploração de mão de obra dos trabalhadores no mundo inteiro. Por outro lado, sabemos que as respostas às situações de desemprego, fome e exploração, se começam em pequenos laivos de protesto, localizado e individualizado, rapidamente engrossam para explosões sociais incontroláveis. A tendência presente pode ser espontânea e desorganizada, mas depressa surgirão organizações e movimentos que aglutinam e organizam a revolta latente em muita gente explorada. Todos os trabalhadores conhecem (ou conhecerão) esta história.
Adenda de 21/10/2010:
Ler o excelente contributo do João Martins para a melhor compreensão do meu post acima. Aliás, aconselho vivamente uma atenção redobrada ao que o autor tem vindo a escrever, que considero do melhor que se escreve na blogosfera em termos de análise sobre fenómenos contemporâneos.

sexta-feira, outubro 15, 2010

Um filme indispensável

Já se falou aqui dos Velhos da Torre, sobre a sua vida e sobre a sua música. Deste casal da aldeia da Torre/Alte, são conhecidas as suas participações na cultura popular rural, sobretudo por via dos seus muitos espetáculos, pelo disco de que são os principais protagonistas («Velhos da Torre e Amigos»), editado pela Câmara de Loulé e coordenado por mim, e por terem influenciado o 1º disco das Moçoilas. Entretanto, eu e o meu amigo Adão Contreiras, metemos mãos (e pés) a um projecto de urgência, de modo a registar em suporte vídeo a sua música tradicional, enquadrada no seu contexto social e económico. De Janeiro a Agosto deste ano, convivemos entre canções, hortas e culturas, com vista a produzir o filme de que agora damos a público os primeiros 'frames'. Na Sociedade dos Gorjões, perto de Santa Bárbara de Nexe, iremos fazer a 1ª apresentação pública do filme "Tudo Vai dar em Cantigas", a que se seguirão outras passagens em circuitos alternativos, a anunciar em breve. Para já, pode contentar-se com o trailer do filme aqui.