segunda-feira, abril 12, 2010

Artistas plásticos homenageiam as tílias da Praça

Duas semanas após a acção dos cidadãos de Loulé em defesa das árvores urbanas do concelho, outro conjunto de cidadãos - entre os quais estavam alguns artistas plásticos do concelho - organizaram uma homenagem às árvores abatidas na Praça da República. Os munícipes e visitantes, que no passado sábado passeavam frente à Câmara Municipal ou faziam compras no mercado, ouviram as explicações dos organizadores da iniciativa simbólica em defesa das 16 tílias abatidas. Sobre os cepos das árvores elementos iconográficos como fotos, poemas ou flores, criavam uma ambiente afectivo de respeito pela natureza e pela vegetação arbórea, tão importante para os ambientes urbanos excessivamente poluídos e impermeabilizados e fornecedora de abrigo da avifanua e de sombreamento do espaço público. Alguns cidadãos leram poemas alusivos às árvores (foto de cima) e outros acabaram por se nos juntar, na educação ambiental e cívica tão necessária (foto de baixo).

O livro de condolências da iniciativa assinalou um conjunto de contributos que iremos divulgar, no seguimento da mensagem da pequena Sofia que aqui já se publicou.

sábado, abril 10, 2010

Poema das árvores


Poema das Árvores

As árvores crescem sós. E a sós florescem.

Começam por ser nada. Pouco a pouco

se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.

Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,

e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.

Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,

e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,

e os frutos dão sementes,

e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.

Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.

Sós.

De dia e de noite.

Sempre sós.

Os animais são outra coisa.

Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,

fazem amor e ódio, e vão à vida

como se nada fosse.

As árvores, não.

Solitárias, as árvores

exauram terra e sol silenciosamente.

Não pensam, não suspiram, não se queixam.

Estendem os braços como se implorassem;

com o vento soltam ais como se suspirassem;

e gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.

Nas planícies, nos montes, nas florestas,

A crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós

E entretanto dar flores.

António Gedeão