sexta-feira, junho 26, 2009

Michael Jackson is dead

Michael Jackson, operário da construção civil de Los Angeles, Califórnia, terra dos Doors e de outro Michael Jackson, morreu esta noite quando uma pequena explosão rebentou os pilares de uma obra nos arredores pobres da cidade. O corpo do trabalhador chegou já sem vida ao hospital, dado que não se efectuou qualquer socorro à vítima.

Nota: esta é uma homenagem a todos os que verdadeiramente constroem a história.

quarta-feira, junho 24, 2009

Novas do Casimiro

22 de Na Via do Mestre

As minhas mãos vazias
Estão cheias de lixo:
As escamas da tribo / o palavreado
A frágil centopeia das cidades.
As mãos nuas e não sei
Que fazer delas: as águas
Uma só água: madeira depurada
Nos oboés do vento / metal nebuloso
Do meu coração. Escuto
As doenças do mundo a sua respiração
Na tarde que apodrece mas não cai
Pois não há lugar onde alguma coisa
Possa cair.

Casimiro de Brito, 22/6

quinta-feira, junho 18, 2009

Corações

No outro dia em Lisboa, no trânsito entre estações do metro, livros à solta, sujos do pó das carruagens. Entre eles um Casimiro de Brito, do ano de 2001, «Na barca do Coração» de que o António gosta muito. Só o sopesei, mas tive de comprar outros. Doutoramento oblige. Lá veio o Strindberg (falar-vos-ei dele em breve) e uma colectânea do O'Neill.
Agora, algo completamente diferente:

4

O "bem feito" incomoda-me, o demasiado limpo. Sinto-me mais livre dentro das metáforas porosas. Mais nu. Mas nada de algodão, de areia.

O pó da morte, saltando de um lado para o outro como se fosse

um insecto louco, basta. Quero dizer, não se pode evitar, nem há que ser evitado. Olhá-lo, comê-lo, viajar nele.

5

Não se pode explicar o que nasce puro, num só traço,

saído do coração.

6

Vou na cidade e depois salto para dentro do texto.

Mas o texto expulsa-me e fico de novo perdido no ruído da rua.


Casimiro de Brito, Fragmentos para o Dia Mundial da Poesia, 2009