sábado, dezembro 05, 2009

quarta-feira, novembro 25, 2009

Conto infantil

O gato azul e o gato cor de laranja

Era uma vez dois gatos. Um era azul e o outro era cor de laranja. Naquele dia encontraram-se e ficaram muito espantados, por se descobrirem de cores diferentes. Pensavam que todos os gatos eram pretos, ou brancos, ou cinzentos, ou castanhos, mas nunca da cor de cada um deles. Ou mesmo de cor diferente.
Quando se encontraram ficaram amigos, por serem diferentes de todos os outros gatos. E assim combinaram ir para sítios onde pudessem mostrar a todos a sua cor. O gato azul subiu para cima de um telhado muito alto, tão alto que a sua cor se projectava contra o azul do céu, lá ao longe. O gato cor de laranja foi deitar-se sobre uma frondosa laranjeira, carregada de laranjas.
As pessoas que passavam nas ruas e olhavam para o céu azul, bem no alto, não viam gato nenhum. Às vezes confundiam o gato azul com uma estrela gorda, velha e sem brilho, ou mesmo com um estranho planeta de forma muito esquisita. No pomar de laranjeiras as mulheres, que apanhavam laranjas à pressa para vender na beira da estrada ou no mercado de sábado, costumavam agarrar a cabeça ou o rabo do gato cor de laranja, pensando que ele era uma sumarenta laranja. Os meninos da rua, com fome, ou sede, ou fome de brincadeira, agarravam o coitado do gato e levavam-no à boca, assustando-se de seguida, quando o gato miava ou os arranhava.
Foi por tudo isto, que tornava a vida dos dois amigos gatos num inferno, que eles resolveram trocar de lugar. E no outro dia o gato azul foi para cima da laranjeira e o gato cor de laranja subiu ao telhado mais alto da rua, recortada no céu. Nunca mais foram confundidos com laranjas ou estrelas. E cada um percebeu o seu lugar num mundo onde os gatos são pretos, ou brancos, ou cinzentos, ou castanhos.

Helder F. Raimundo
25 Novembro 2004
(conto escrito a partir de narrações sucessivas aos filhos)

sexta-feira, novembro 20, 2009

Leituras obrigatórias

Mudar de Vida é um jornal de cariz popular posicionado à esquerda. Publica artigos e ensaios do campo do pensamento marxista e socialista moderno. Uma leitura a acompanhar com regularidade em papel ou em versão online. Ler aqui.

terça-feira, novembro 10, 2009

Uma jogada de mestre

Ao contrário do que pensam, a ausência de Cristiano Ronaldo no jogo contra a Bósnia só nos favorece. Porquê? CR não marca golos na selecção, como se sabe - síndroma que o irá acompanhar e acentuar ainda mais enquanto estiver no Real - e é incompetente com a braçadeira de capitão. Portanto, o pedido de escusa de CR e do Real, vem legitimar a inteligência de Queiroz (que eu sempre aplaudi) quando o convoca sabendo que ele está lesionado. De mestre!

segunda-feira, novembro 09, 2009

Abate de árvores em Loulé

Corre uma discussão acesa sobre o abate de árvores no ‘Hospital da Misericórdia’. No blogues 'Sebastião' e 'MAC Loulé' é possível ler como, muitas vezes, estas questões são diálogos de surdos ou ainda neste caso, uma grande confusão entre os valores naturais e patrimoniais. Seria bom que se lesse um pouco, um poucochinho que fosse, de Lévi Strauss, para se perceber o que é a natureza e o que é a cultura, e sobretudo que elas não se opõem, tendo a ‘cultura’ a obrigação de ser mais responsável pela defesa da biodiversidade, em todos os campos. Para mim, um dos aspectos importantes desta discussão é perceber que o debate participado destes temas deve ser feito antes, e nunca depois, de qualquer acto que ponha em causa a vida cultural de qualquer território. Em tempos fui dos primeiros a escrever sobre o assunto e a pôr em causa opiniões escondidas sobre a questão. Ler o que publiquei neste blog (Abril 2007 e Outubro 2007) e em A Voz de Loulé (Março 2005).

domingo, novembro 08, 2009

O capital é sempre igual

[foto Público]

O acidente do viaduto, em Andorra, que vitimou trabalhadores portugueses mostra, sobretudo, que o capitalismo é igual em toda a parte. A morte de cinco trabalhadores e os ferimentos de outros seis é reveladora de como o capital internacional e a competitividade neoliberal das empresas os tratam: mais de 12 horas diárias de trabalho, roubo do descanso semanal e condições perigosas de trabalho. Neste caso não há argumentos de segurança que valham. Acresce que, no caso dos imigrantes portugueses, as suas deslocações regulares entre Portugal e Espanha – por ausência de trabalho no seu país – obrigam a condições psicológicas de trabalho muito mais atentas. Por isso, não vale a pena os sindicatos colocarem os trabalhadores espanhóis como estando numa relação de vantagem sobre os portugueses. O capital trata-os da mesma maneira. Só que, neste caso, os portugueses para além de operários são também emigrantes. Alguns deles não o serão mais.


sábado, novembro 07, 2009

Leitura de blogs

A igreja pode ter os crucifixos nas escolas e até se pode pôr ao lado o emblema do benfica e, em contrapartida as igrejas passam a ostentar em lugar de destaque uma figura do Zé Povinho do Bordalo e, se não for pedir muito, um daqueles objectos decorativos da cerâmica tradicional das Caldas. Isso sim, é que era liberdade e tolerância religiosa [JJS no Contador de Gaivotas]


É claro que se percebe que Freitas julga que precisa de mostrar aos «papalvos algarvios» que é uma pessoa competente e sabedora; quanto mais não seja, para ver se esses mesmos «papalvos» se esquecem de que os piores resultados do seu partido nos recentes actos eleitorais foram alcançados precisamente na região onde ele é o máximo responsável partidário [Lourenço Anes no Calçadão de Quarteira]

muito provavelmente sócrates queria saber junto de vara como é que este conseguiu uma 'pós-graduação' em 'gestão empresarial'(2004) sem ter tirado primeiro a 'licenciatura'... [António Boronha]

sexta-feira, novembro 06, 2009

A acusação dos intelectuais

Se há coisa que me desagrada sobremaneira é o debitar excessivo de senso comum transformado em frases feitas, ideias preconcebidas e dislates de toda a espécie. Ao contrário de antigamente - tempo do saber assente na aprendizagem de demonstração e observação sucessivas - os tempos de hoje da cultura de massas, cheios de tecnologias, estão prenhes daquilo a que chamamos estereótipos. Esse tipo de pensamento já não está apenas presente nas ditas tertúlias de café ou nalguns jornais paroquianos e saloios. Com o advento da blogosfera é vê-los brilharem nas caixas de comentários, escondidos no anonimato dos nicknames mais pirosos que se possam imaginar. Por isso, é muito reconfortante ler alguém que faz do pensamento e do estudo a base da sua escrita e da reflexão sobre o mundo. A propósito de um post meu sobre "os ciganos", o João Martins mostra que sabe o que diz e prova por que razão o pode dizer. Felizmente há mais alguns que o fazem da mesma forma, todos eles acusados de serem intelectuais por aqueles que são o paradigma do estereótipo do ignorante público e descarado.

Crucifixos laicos?

Volto à carga. Em tempos tinha manifestado o meu desagrado pela presença de símbolos religiosos nas salas de aula (link). O que está em causa nesta posição é simplesmente a defesa do conceito de tolerância e a prática de respeito pela diversidade cultural e religiosa. Acrescenta-se o facto de o estado - essa invenção da modernidade - ser, entre outras coisas, definido como laico. Portanto, insuspeito de qualquer referência religiosa. Se o crucifixo é ou não uma marca cultural, respondo que sim. Contudo, ele deve ser visto sobretudo como marca religiosa, símbolo de uma religião específica e, por isso, a sua presença numa escola pública contraria os princípios atrás enunciados. Vem esta conversa a propósito da deliberação do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos relativa à queixa de uma cidadã em Itália. Ler mais aqui.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Olá Maestro

Na passada semana organizámos na ESEC uma conferência com um educador popular da Nicarágua. El maestro Orlando Pineda Flores anda há 30 anos a calcorrear montanhas intransitáveis para alfabetizar indígenas abandonados e discriminados pela sociedade letrada. Isto, depois de ter pegado em armas, ainda jovem, para resistir ao genocídio juvenil da ditadura de Somoza. Só temos de estar contentes por verificar que a Nicarágua, no próximo mês de Agosto de 2010, pode vir a ser um país livre de analfabetismo e de ficar tristes por Portugal - um país dito desenvolvido - ter ainda 10% de analfabetos, um milhão portanto. Ler mais aqui.

quarta-feira, novembro 04, 2009

Morreu o último pensador


O velho senhor que aqui figura é Levi Strauss (ler Lévi Strousse). Foi por causa dele que me apaixonei pela Antropologia, fazendo desta ciência social a mais bela e romântica das armas de análise das realidades e das culturas. Foi por causa dele que palmilhei muitos quilómetros em busca de retalhos da literatura oral do Algarve e de outros pontos do país. Foi por causa dele que li e fiz muitas outras coisas. Sempre me considerei um seu discípulo, sobretudo após a leitura (há muito tempo) da obra prima que dá pelo nome de «Tristes Trópicos», apesar do meu percurso científico ter seguido caminhos de outras ciências e de me ter afastado da corrente estruturalista que LS sempre defendeu. Levi Strauss morreu e, com ele, morreu também o último pensador vivo.

Aguardela




Mais logo, no CCB em Lisboa, prestamos homenagem ao músico e amigo João Aguardela, falecido aos 39 anos. Um músico que soube aliar a pop à música de raiz tradicional urbana e rural, em vários projectos de sucesso como A Naifa ou Megafone. Este último pode ser visto, e ouvido através da descarga gratuita de músicas (aqui).

terça-feira, novembro 03, 2009

Mais taxas para consumidor pagar

O Bloco de Esquerda (BE) entregou ontem na Assembleia da República um pedido de apreciação parlamentar da transposição da directiva europeia que possibilitará aos bancos a cobrança de taxas sobre pagamentos electrónicos. O BE diz estar contra a transposição desta directiva aprovada pelo Parlamento Europeu em Abril de 2007 e que entrou em vigor no domingo. Esta dá a cada estado-membro a liberdade de permitir ou não a cobrança de taxas sobre pagamentos electrónicos por considerar que possibilitará uma “nova penalização sobre os consumidores”.
O partido sublinha que o Governo português foi até agora o único da União Europeia a transpor para a lei nacional essa directiva, através do Decreto-Lei n.º 317/2009, de 30 de Outubro.
Ler todo o artigo e o meu comentário de resposta a outro:
Filipe: informa-te melhor sobre a presumível taxa Tobin, pois esta é proposta para taxar as transacções financeiras e não os pagamentos electrónicos dos consumidores. Informa-te ainda sobre o acréscimo que os comerciantes colocam no preço final dos produtos ao consumo para suportar o que pagarão na transacção comercial, o que significa que quem irá pagar mesmo, serão os consumidores como tu, presumo.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Jorge de Sena

Cruzar a homenagem a Jorge de Sena, feita ontem pelo Câmara Clara, com o programa do governo PS entregue hoje na AR dá nisto (poema de Jorge de Sena):


De cada vez que um governo necessita de segredos,
por segurança do Estado
ou para melhor êxito
nas negociações internacionais,
é o mesmo que negar,
como negaram sempre desde que o mundo é mundo,
a liberdade.

Sempre que um povo aceita que o seu governo,
ainda que eleito com quantas tricas já se sabe,
invoque a lei e a ordem para calar alguém,
como fizeram sempre desde que o mundo é mundo,
nega-se
a liberdade.

Porque, se há algum segredo na vida pública
que todos não podem saber
é porque alguém, sem saber,
é o preço do negócio feito.
E se há uma ordem e uma lei que não inclua
mesmo que seja o último dos asnos e dos pulhas
e o seu direito a ser como nasceu ou o fizeram,
a liberdade
é uma farsa,
a segurança
é uma farsa,
a ordem é uma farsa,
não há nada que não seja uma farsa,
a mesma farsa representada sempre
desde que o mundo é mundo,
por aqueles que se arrogam ser
empresários dos outros
e nem pagam decentemente
senão aos maus actores.

As arengas da bola

Costumo lembrar-me do Zeca Afonso quando os acontecimentos do futebol obrigam a disparos para o ar, escarretas de ofensa e muitas batatadas nos esconsos do túnel. Aliás, o túnel começa a ser a palavra-chave da bola nacional. Dizia o Zeca, que estava farto das arengas da bola e justificava-o pelas discussões alienadas da plebe, nos tempos da trilogia Fado/Futebol/Fátima da ditadura salazarista. Vem esta memória a propósito dos acontecimentos dos jogos em que participaram o Sporting (em que os seus adeptos se revoltaram contra os resultados da equipa) e o Benfica (mau perder contra o Braga, sinónimo de sobranceria). O que é que o Zeca diria? Simples. Que o melhor seria o povoléu se revoltar contra o fecho de fábricas e contra o crescente desemprego. O capitalismo vai-nos dando a alienação da bola e ainda há por aí uns sociólogos convertidos que nos vão ensinando o que é a coesão e o escape social da mesma.

domingo, novembro 01, 2009

Andar à nora

Chamado a atenção num comentário colocado no MAC Loulé, quis fazer como Pessoa: "primeiro estranhar, depois entranhar". Mas não foi possível. O post do vereador eleito (em 2005) pelo PS para a Câmara atribui as responsabilidades da derrota do PS nas eleições de 2009 a... Joaquim Vairinhos! Estranha-se esta conversa, como se Vairinhos não tivesse concorrido sob o símbolo da mãozinha e ainda mais se estranha que os responsáveis do PS concelhio nada digam sobre este assunto, que agora rasga o paradoxo. Afinal, teremos um, ou dois blogues de vereadores eleitos pelo PS, em Loulé?

António Sérgio

Fonte: Público
Muitas noites adormeci embalado pelas escolhas musicais de António Sérgio, sobretudo no programa "Som da Frente". Mais tarde deixei de ouvir rádio com frequência, e dava pela sua voz quente e potente nas colunas do carro. Foi maltratado pela Comercial (o nome diz tudo) e anos depois fez a "Hora do Lobo", excelente alterego de crítica do mercantilismo da rádio. Morreu ontem, mas a sua voz continua na nossa memória. Ler mais.

domingo, outubro 25, 2009

Quem é Abel, quem é Caim?


Os recentes comentários ao meu comentário no blogue do António Almeida fazem-me lembrar a velha (nova) conversa homicida de Abel e Caim. Quando se usa a crítica política recebe-se em troca a ofensa pessoal. O peso da inveja e da culpa anda ainda em muitos corações cristãos. Conselho: ler pois "Caim" de Saramago, para aprender como a liberdade intelectual não tem medo de ameaças e insídias, nem me obriga a mudar de residência.

segunda-feira, outubro 19, 2009

Ciganos: Nómadas?

A ideia de que os ciganos são eternamente nómadas está posta de parte há muito tempo. Surgida da diáspora desta etnia, fugida de genocídios por toda a Europa - e em particular ao holocausto nazi - a ideia ganhou foros de romantismo nos nossos tempos, habituados a vê-los escorraçados de terras e barracas, dos campos e das periferias das cidades. O antropólogo André Correia desfaz esta ideia, num estudo apresentado em Beja.

quinta-feira, agosto 20, 2009

Alinhamentos

O autor deste blogue "não alinhado" é candidato independente, pelas listas do Bloco de Esquerda, a dois órgãos autárquicos do concelho de Loulé: Assembleia Municipal e Assembleia de Freguesia de São Sebastião. Há momentos em que os desalinhados se alinham, por razões de justiça, em primeiro lugar consigo próprios. Apesar de convidado noutras ocasiões, desta vez não pude recusar o convite do meu grande amigo e cabeça de lista à Câmara Municipal de Loulé, Joaquim Mealha Costa. Sobre ele e seu sentido de justiça poderia dizer muito, mas sei que os habitantes de Loulé sabem-no tão bem quanto eu. E, por isso, espero que ele e muitos outros amigos sérios, honestos e trabalhadores - que reencontrei (ou descobri) nestes dias - possam, nas próximas eleições autárquicas, estar nas funções de governação deste município, que daquelas características superiores tanto carece.
Até lá pode visitar-nos no blogue do Bloco de Loulé (link).

sexta-feira, julho 03, 2009

Os chifres da demissão

Ao contrário de muitos, acho que o par de cornos fica bem ao ex-ministro Manuel Pinho. Para quem anunciou o fim da crise quando a mesma lavrava uma tempestade nunca vista, decidiu ser criativo a batizar o antigo Al-Andaluz como Allgarve e aldrabou várias vezes os mineiros de Aljustrel, a auto-máscara de dois belos chifres na sua testa, na bancada do governo no parlamento, foi a indumentária adequada. Lembro que este senhor recebeu a medalha de mérito municipal no Dia do Município de Loulé em 2009. Palavras para quê? É um artista português!

sexta-feira, junho 26, 2009

Michael Jackson is dead

Michael Jackson, operário da construção civil de Los Angeles, Califórnia, terra dos Doors e de outro Michael Jackson, morreu esta noite quando uma pequena explosão rebentou os pilares de uma obra nos arredores pobres da cidade. O corpo do trabalhador chegou já sem vida ao hospital, dado que não se efectuou qualquer socorro à vítima.

Nota: esta é uma homenagem a todos os que verdadeiramente constroem a história.

quarta-feira, junho 24, 2009

Novas do Casimiro

22 de Na Via do Mestre

As minhas mãos vazias
Estão cheias de lixo:
As escamas da tribo / o palavreado
A frágil centopeia das cidades.
As mãos nuas e não sei
Que fazer delas: as águas
Uma só água: madeira depurada
Nos oboés do vento / metal nebuloso
Do meu coração. Escuto
As doenças do mundo a sua respiração
Na tarde que apodrece mas não cai
Pois não há lugar onde alguma coisa
Possa cair.

Casimiro de Brito, 22/6

quinta-feira, junho 18, 2009

Corações

No outro dia em Lisboa, no trânsito entre estações do metro, livros à solta, sujos do pó das carruagens. Entre eles um Casimiro de Brito, do ano de 2001, «Na barca do Coração» de que o António gosta muito. Só o sopesei, mas tive de comprar outros. Doutoramento oblige. Lá veio o Strindberg (falar-vos-ei dele em breve) e uma colectânea do O'Neill.
Agora, algo completamente diferente:

4

O "bem feito" incomoda-me, o demasiado limpo. Sinto-me mais livre dentro das metáforas porosas. Mais nu. Mas nada de algodão, de areia.

O pó da morte, saltando de um lado para o outro como se fosse

um insecto louco, basta. Quero dizer, não se pode evitar, nem há que ser evitado. Olhá-lo, comê-lo, viajar nele.

5

Não se pode explicar o que nasce puro, num só traço,

saído do coração.

6

Vou na cidade e depois salto para dentro do texto.

Mas o texto expulsa-me e fico de novo perdido no ruído da rua.


Casimiro de Brito, Fragmentos para o Dia Mundial da Poesia, 2009