segunda-feira, agosto 04, 2008

minguante a crescer


Júlia
Correspondi ao desejo dela, quando nos pediu para tapar os olhos. Tapar os olhos era o desejo mais insidioso que se poderia esperar de uma jovem que se vai despir na praia. [Ler o resto do meu conto na revista >]

sexta-feira, agosto 01, 2008

Treinador de bancada

OS SUÍÇOS: NA BOLA E NA VIDA

Como referi na crónica anterior, tinha previsto falar-vos dos comentários de Fernando Correia, no Rádio Clube Português, a propósito da competência dos suíços na organização do campeonato europeu de futebol, vulgo Euro 2008. Eu sei que já estão fartos de futebol, agora que se iniciaram os célebres torneios de início de época, ali para os lados de Albufeira ou Vila Real de Santo António. Uma oportunidade para ver os jogadores arrastarem-se na relva, ou no banco, amuados com a expectativa das negociações de novos contratos, ou penalizados pelo treinador.

Mas voltemos a Fernando Correia. Toda a gente conhece aquela voz de sabedoria, de experiência feito, um homem cultivado próximo dos relvados e dos microfones. Há tempo que o respeitamos, nas coisas da bola. Acontece que, há semanas, comentando a capacidade dos suíços na organização do Euro 2008, afirmou que nunca tinha visto nada assim. Aquilo era a falta constante de garrafas de água para refrescar os jornalistas; documentos informativos que nunca chegavam e sempre faltavam; falta de apoio técnico e de informações sucessivas; ausência de gabinetes e de pessoal técnico capaz. Nós não duvidamos do que Fernando Correia diz.

A mim parece-me que, na verdade, os suíços estavam-se marimbando, um pouco é claro, para aquele evento que pouco lhes dizia. Lembro-me de pequenas entrevistas de rua em que, perguntados, os autóctones lá afirmavam: que havia actividades culturais mais interessantes para frequentar; que ligavam pouco ao futebol; e que tinham mais que fazer do que estar horas ocupados à volta de um objecto redondo. Enfim, a gente gosta da bola e percebe que os suíços (para não falar dos austríacos) são gente fria, que vive na neve, rodeados de rios gelados e montanhas cheias de vaquinhas de chocolate. Como podem amar o pontapé na bola? Aliás, os alemães apanham pela mesma bitola. Quando a equipa alemã ganhou a Portugal, o epíteto de “frio” foi a fundamentação teórica dos treinadores de bancada para justificar a vitória germânica. Como se sabe, o frio ganha sempre ao quente. Eu, que estou a escrever esta crónica numa esplanada em Quarteira, fugi do calor da praia para este frio modorrento da sombra.

Bom, mas esta história do jornalista do Rádio Clube Português (boa antena, ouçam!) lembrou-me o capitão Kaspar Glauser-Röist, membro da Guarda Suíça, protector de Sua Santidade o Papa e agente policial ao serviço do Tribunal da Sacra Rota Romana, e personagem do romance histórico de Matilde Asensi «O Último Catão». Li-o, há um ano talvez, mas voltei às suas páginas para perceber como é que seriam os suíços. Frios, distantes, incompetentes, desconhecedores do futebol sério? Talvez. Mas este capitão da história não pode deixar de ser suíço, pois essa nacionalidade “é obrigatória para todos os membros do pequeno exército vaticano”. E ele é inteligente, honesto, cumpridor, sério, afectuoso, misterioso. E no fim, até se torna o último Catão - o Catão CCLVIII - depois de ter superado, com os seus companheiros de romance, as difíceis provas propostas por Dante Alighieri em «A Divina Comédia».

Não é que eu tenha algo quanto ao prestígio da Suíça como país inspirador de trabalho, pois não é verdade que os dados estatísticos provam que é nesse país que os portugueses trabalham mais? Talvez liguem menos ao futebol. Bem, também os vimos, dando a cara às câmaras de televisão durante o Euro 2008. Claro que eram muitos no início e já muito poucos no fim. Pudera! Esta questão levou-me também a procurar notas várias sobre os índices de desenvolvimento da Suíça e o que tinha, ou consultei, deixou-me mais descansado. Ora vejamos.

Um estudo da Unicef, sobre o bem estar das crianças, mostra que a Suíça ocupa a sexta posição no índice da qualidade de vida dos menores (afecto, educação, relação social), enquanto Portugal fica em 17º lugar, num estudo que envolveu 21 países. O nosso só se destaca no campo dos relacionamentos familiares. Nada mau para as nossas boas famílias. A Suíça bate-nos no item relacionamento com amigos, que é muito melhor do que o nosso. O que o estudo mostra, nos seus 40 parâmetros, é que os dados podem ser muito condicionados pelas políticas sociais e educativas dos países. Claro que isto também já se sabe. Portugal pode ser muito bom (o melhor mesmo) a organizar europeus de futebol, mas quanto a políticas educativas e sociais, pois, pois.

Num outro estudo, o PISA/2006 (programa internacional que acompanha os resultados de evolução escolar), também a Suíça se destaca, nas áreas das ciências naturais, da leitura e da matemática. Nos dados globais das três áreas, a sua média é superior à média dos restantes países testados da OCDE. Mas os suíços, com a sua fleuma de apreciadores de futebol alheio, lá vão dizendo que os dados não são tudo, que não se podem comparar estes resultados como se fossem uma prova desportiva, etc, etc.

E esta, hem? Bom, esta reacção tem muito a ver com o facto de a Suíça ser um país de forte imigração (20,2% de estrangeiros), muita dela portuguesa. O trabalho de integração de imigrantes, com diferentes culturas e línguas, não é fácil, mas a Suíça fá-lo, há muitos anos como se sabe. E os resultados estão à vista, mesmo que os suíços não sejam muito competentes na organização de eventos da bola. E os portugueses que o digam.

(A Voz de Loulé, 1 Agosto 2008)

Coça, coça.


Apanhei a peça por acaso. Ontem, era tarde, e dei por mim a ver, na RTP, a peça monólogo de José Pedro Gomes "Coçar onde é preciso". Um stand-up-comedy de quase duas horas, que começa pelas histórias dos percursos burlescos dos CTT e acaba com estatísticas sobre sexo. Um texto surpreendente do actor, cuja capacidade para olhar o pormenor já se conhecia de várias crónicas radiofónicas da TSF. Uma cenografia simples, mas muito eficaz, como é o caso da sanita-baú-quadro de papel-frigorífico (na imagem acima), integra e reforça o texto e a representação. Ah, genial, também a Mona Lisa: "Ó Mona por que hás-de ser lisa?". Para desconstrui-la, Gomes enche-lhe as mamas de várias formas. Magnífico.