terça-feira, julho 29, 2008

A história da loira

Através do serviço de busca local de blogues do Sapo, lá descobri esta pérola do JJS (link). Como o conheço, sei que fala verdade e não faz história. Bom, a história, essa é a de um concurso para uma chefia de divisão na Câmara de Loulé. Atentos, atentos...

segunda-feira, julho 28, 2008

Casas ilegais na Ria?

É claro que não estranho a notícia de um novo levantamento das casas a demolir ou a requalificar na Ria Formosa. Já aqui tinha dito, e defendido, que os sucessivas governos nunca teriam coragem de concretizar o plano de limpeza da ilegalidade, nas dunas e ilhas-barreira da costa algarvia. Há uns dois anos referi o choradinho do governador civil da altura (e hoje presidente da Região de Turismo) que não queria ver destruída a casa construída pelo seu avô, de forma ilegal. Mas leia, leia a notícia (link).

quinta-feira, julho 24, 2008

Lourenço Marques

O trabalho na Universidade não me deixa postar tanto quanto queria, ou era meu hábito. Bolonha, ali tão perto, trouxe mais tarefas e burocracia, enquanto Lisboa, vai deixando precariedade e insegurança. Enfim, à noite há sempre uns minutos para ler. Por agora na "Cabeceira"*, o romance de Francisco José Viegas, «Lourenço Marques», sobre as memórias românticas de África, uma terra que poderia não ter sido nem imperial, nem miserável.
* [No Livro de Cabeceira pode aceder a uma pequena recensão]

quarta-feira, julho 23, 2008

Treinador de bancada

EM NOME DA PRÁTICA DESPORTIVA AMADORA

Deixo, para o próximo número, a abordagem da opinião sobre as competências organizativas da Suíça, como país promotor do Euro 2008 em futebol porque, hoje, gostaria de falar de outra modalidade desportiva. Em geral, quando não falamos de futebol, lá estamos nós com a tendência para considerar as outras como modalidades amadoras, como se o termo justificasse amadorismo, sinal de mau desempenho, desobrigação, ou outra qualquer forma de desinteresse pela prática desportiva ou cultural. Falemos, então, de práticas desportivas, e por inteira justiça de práticas sociais e culturais que não beneficiam dos sacos azuis do futebol.

Estou aqui, de portátil ao colo, a assistir ao “31º Kokusai Shitoryu Koshukai-Portugal 2008”, estágio internacional de karate que a Federação Mundial de Karate Shitoryu organiza, em Portugal, todos os anos no final da época de prática da modalidade no Algarve. Melhor dizendo, nos concelhos de Loulé e Albufeira. Pouco se dá por este trabalho, quase secreto, vivido entre horas e horas semanais de treinos e práticas competitivas durante semanas a fio, e muitos fins-de-semana em pequenos torneios na região. A imprensa, apenas a local, vai dando notícia dos pergaminhos alcançados pelos atletas a nível nacional e, por vezes, no quadro internacional. A prática vive muito do espírito de dedicação de professores, alunos e pais, aliás, como todas as modalidades que vão construindo o corpus sócio-cultural das urbes e sociedades modernas, por esse mundo fora. Fácil será entender que quando se trata de futebol as coisas piam mais alto. Basta ver as capas quotidianas dos três jornais diários desportivos nacionais ou, sem qualquer prurido, perceber como o futebol também enxameia as páginas da imprensa local. Com muito desplante, diga-se.

Ao olhar para o que tenho em frente – cerca de uma centena de praticantes de karate de diversas graduações e de diversas proveniências territoriais e culturais – pode entender-se como se vão construindo as aprendizagens humanas e sociais de muitas crianças e adolescentes, no seu percurso de vida.

Há alguns anos não era assim. Lembro-me, bem, quando a prática do karate se iniciou em Portimão, terra onde nasci e vivia na altura, quando tinha cerca de 15 ou 16 anos. A modalidade foi-se instalando, como sempre, a partir do entusiasmo de um mestre recente que chega a um local e dispõe do interesse e motivação de alguns futuros discípulos. Eu ia ver muitos dos treinos porque, na altura, a prática era apenas conhecida das sessões de cinema dos grupos de jovens na “febre de sábado à noite”, nos cinemas da cidade. Sobretudo pela beleza das performances do actor sino-americano Bruce Lee e do seu celebrado kung fu. Nos treinos do novel karate, juntava-se mais gente a ver do que a praticar. Fazê-lo, nem pensar, porque o preço estava muito, mas muito longe das bolsas da classe operária da terra e, como a modalidade estava em divulgação, mais valia aproveitar os pequenos momentos de treino dos poucos atletas da altura. Quase todos eles eram jovens que já trabalhavam, em oficinas ou no pequeno comércio, depois de terem terminado o ciclo preparatório ou frequentado a escola comercial ou industrial, o que lhes permitia uns trocos para a prática da modalidade. Claro que, ao tempo, eu praticava outras modalidades, não pagas como se entenderá: o “vernacular” futebol de onze, as modalidades dos torneios quadrangulares de verão e, mais tarde, com fervor e paixão, o badmington.

Se há algo que constitui um evidente padrão de mudança na sociedade portuguesa, este é o índice de prática desportiva dos seus jovens. E não falamos da prática desportiva no sistema e período escolar – que excelentes professores sempre souberam aproveitar em tempos de ditadura – mas da prática à disposição, nos vários clubes e associações desportivas do país, a preços módicos e acessíveis a qualquer jovem. Melhores e mais equipamentos desportivos, construídos pelas autarquias com o orçamento dos contribuintes, vestuário e calçado desportivos ao alcance de qualquer bolsa média, permitiram uma expansão maciça das diversas práticas desportivas. Algo que não estava à nossa disposição, antes do 25 de Abril de 1974.

Se é claro que este movimento se enquadra nos tempos contemporâneos da defesa da saúde e da promoção de práticas desportivas hedonistas e atomistas, ele não deixa de ser representativo da democracia desportiva e da descoberta de uma cidadania mais activa. Porque a prática desportiva sempre foi um dos parâmetros para medir os índices de desenvolvimento das sociedades humanas.

(A Voz de Loulé, 15 Julho 2008)

sexta-feira, julho 04, 2008

Treinador de bancada

MULTICULTURAL, SÓ QUANDO INTERESSA

Tinha prometido, nesta crónica, abordar a tão propalada questão do “multiculturalismo” da selecção de futebol de Portugal. E fá-lo-ei, apesar de me apetecer, confesso, ablar un ratito sobre el fútbol castellano.

A questão da multiculturalidade merece umas linhas, já que parece ir conquistando, aos poucos, uma certa intelectualidade bem pensante dos jornais e da televisão. A ideia central deste princípio é que o nosso país dá excelentes exemplos de integração de pessoas de outras etnias e culturas, promovendo uma inclusão de imigrantes oriundos de países externos.

Há dias, um dos habituais comentadores de futebol da RTP Norte, Rui Moreira (conhecido como adepto do FC Porto e presidente da Associação Comercial do Porto), referia que a selecção de futebol, no Euro 2008, era um bom exemplo de multiculturalidade, pois integrava jogadores oriundos do Brasil e de outros países lusófonos.

A questão parece simples, mas não é. Parece simples porque, por estes dias, o futebol foi mostrando, no Euro, como as selecções se constroem a partir da entrega da nacionalidade a jogadores de outros países que trabalham (praticam futebol) nos seus clubes. Alemanha, Espanha, França, Portugal, Turquia, entre outros, são exemplos do que digo. Teríamos assim equipas nacionais multiculturais. Ora bem, não seriam nem uma coisa nem outra. Aliás, como sabemos, esse mecanismo é uma forma estratégica de reforçar as selecções de vários países no quadro competitivo mundial, ou de permitir a determinados jogadores ascender a selecções externas, quando nunca teriam hipóteses nas suas. Na verdade isto não parece uma coisa má. Mas então, se é assim, há que repensar o conceito de “nacional”. Por isso é que, por detrás desta aparente simplicidade, se esconde algo mais complexo.

Exemplifiquemos, de duas formas.

Primeira: a defesa da multiculturalidade só se acentua quando se fala de futebol. Pouca gente sabe mas, por exemplo, a selecção nacional de andebol feminino não pôde contar com a presença, na sua equipa, de jogadoras exímias dos clubes de bairro da periferia de Lisboa. Razões? Só porque não detinham a nacionalidade portuguesa, apesar de terem nascido em países africanos de língua oficial portuguesa ou, tendo nascido cá, não a tinham ainda obtido. Como se sabe, o futebol de Scolari, com a conivência da Federação e do governo, foi mais lesto e expedito.

Segunda: a bandeira nacional multicultural só se alvoroça quando se trata dos ícones de topo do orgulho nacional. Muitos anos de salazarismo deram nisto. O que nos leva a sustentar, que somos um povo exemplar na multiculturalidade espelhada no brilho da selecção, mas esquecendo a exclusão que fazemos, todos os dias, a pessoas imigrantes dos antigos países da Europa de Leste, do Brasil, da China, ou mais próximos de nós, ali das antigas colónias de Angola, Moçambique, Cabo Verde ou Guiné.

Não sendo de nenhuma destas nacionalidades, mas apesar de tudo oriundo de uma certa cultura africana, Francis Obikwelo é um paradigma do que acabo de dizer. Porquê? A resposta é simples. Enquanto imigrante nigeriano, Francis era apenas mais um negro a trabalhar nas obras de algumas empreitadas do Algarve. Depois, foi o que sabemos: enquanto velocista de mérito, Francis seria um digno representante da bandeira multicultural de Portugal nos Jogos Olímpicos.

Pergunta-se: então, afinal, quem é que é multicultural? Resposta: o melhor é não abrir a boca, porque pode entrar mosca ou sair asneira.

(A Voz de Loulé, 1 Julho 2008)