sábado, junho 28, 2008

Para fugir do futebol, em Loulé

A partir de terça, dia 1 de Julho, a Fundação Manuel Viegas Guerreiro vai organizar um curso livre de História Contemporânea denominado “O Algarve no contexto da 1.ª República”.
Esta iniciativa pretende contribuir para um conhecimento mais aprofundado e abrangente do agitado período da 1.ª República no Algarve, traçando um retrato de época ao nível dos quadrantes social, económico, político, mental e cultural, isto na senda da política de (in)formação e difusão de conteúdos relativos à história contemporânea algarvia que a Fundação tem vindo a seguir nos últimos anos.
São treze sessões temáticas, durante o mês de Julho, entre as 18.30 e as 20.30 horas, na sala de leitura do novo Arquivo Municipal de Loulé.
Dia 1 destaco a conferência do historiador Rui Ramos (cronista do Público) sobre "A República e o seu tempo". A não perder. Os interessados podem inscrever-se neste curso através dos números de telefone 289422607 ou 916990465.

Scolari

O homem que tinha vindo unir a pátria da futebolândia é, agora, o escarrador público da arenga nacional (link para fuga ao fisco). Há muito que nós explicámos. Há muito mais tempo que não somos entendidos.

quinta-feira, junho 26, 2008

Final

Confesso que uma final Alemanha-Espanha agrada-me. Quer ganhe uma ou outra equipa provar-se-á que a patridiotice*, enquanto nacionalismo saloio criado por Scolari em Portugal, não vinga em países desenvolvidos e modernos. A selecção de futebol do país vai pagar, por muitos e bons anos, este populismo castrista/caravaggiano.

[* termo devido a Vale de Almeida]

quinta-feira, junho 19, 2008

Patridiotas

Ah sim, "eu estou tranquilo, mais do que tranquilo". A patridiotice acabou na altura certa e agora só falta retirar as bandeirinhas da 1ª república das janelinhas coitadinhas. Scolari deu o pum do Ipiranga e eu agradeço, pois já não tenho que aturar as idiotices dos patriotas da bola. Agora a sério: a equipa da Alemanha fez a síntese hegeliana. Não percebem? Vão estudar!

quarta-feira, junho 18, 2008

Treinador de bancada

RESTRIÇÕES À JUSTIÇA DESPORTIVA

Bom, deixarei para a próxima crónica a propalada questão do “multiculturalismo” da selecção de futebol de Portugal, que parece aproximar uma certa intelectualidade das manifestações nacionalistas do velho império. Por agora, abordarei as demarches da justiça desportiva, que têm sido mais actividade desportiva de juízes do que justiça sobre o desporto.

Já se torna claro que os tempos dos comportamentos trogloditas de dirigentes nos estádios, das ameaças de grunhos do norte contra o sul e vice-versa – que a comunicação expandiu e ampliou –, deixaram de fazer qualquer sentido. Tirando os apaniguados do costume, já ninguém lhes liga. Os tempos são outros e o fair-play não serve só para ostentar nas camisolas. A luta pelo poder trava-se agora noutros campos.

Tudo indica que o FC Porto vai ser impedido de disputar a Liga dos Campeões, pelo facto de estar a ser investigado num processo sobre corrupção desportiva. O facto de ser tricampeão em Portugal não conta para nada, nem deve servir para recurso. Até porque o processo discorre exactamente sobre esses períodos. Por isso, tudo indica que a UEFA não vai voltar atrás com a primeira decisão. Quando esta crónica for lida, já terá reunido a Comissão de Apelação da organização do futebol europeu e já se saberá a deliberação final. Eu aposto no impedimento. Entretanto, se isto se confirmar, o SL Benfica é um dos clubes beneficiados. Tento não usar o meu subconsciente clubístico: o Benfica não deveria necessitar de aproveitar este mecanismo tribunalício para integrar as provas europeias. Foi um mau clube esta época, mas a justiça tem destas coisas; em todas as matérias. Agora dizer (como faz Miguel Sousa Tavares), que o Benfica faz pressão na UEFA a favor de uma decisão favorável, é confundir os leitores. Se a justiça desportiva precisa de provas, as afirmações que se fazem, também.

Apontando, agora, a agulha para outros territórios do desporto e da justiça. A RP da China aprovou um pacote de 57 restrições ao aficionado dos Jogos Olímpicos de Pequim. Como sabem, até a liberdade tem limitações. Foi o que a Revolução Francesa nos legou. O New York Times dá a história toda. Querem conhecer algumas dessas restrições? Aqui vão: i) a concessão de vistos a visitantes será controlada nome a nome; ii) todo o activismo, em nome dos direitos humanos, será punido; esperemos que não a esmagamento de canhão; iii) portadores de doenças sexualmente transmissíveis ou do foro psíquico não terão entrada; por isso veja lá bem; iv) imagens e textos atentatórios da política, economia, ou moral chinesas serão proibidos; de acordo com a cartilha chinesa, claro. A lista é grande e ficaremos por aqui. Provavelmente ela aumentará à medida que os Jogos se aproximam. Como o respeitinho é muito bonito, o Comité Olímpico Internacional nada diz. Ora, ora, quem cala consente.

A China, mais uma vez, mostra que tem o poder discriminatório de impor limitações à liberdade, até agora inauditas noutro qualquer país organizador. Até Hitler foi mais estúpido. Ainda longe do carácter assassino dos anos da guerra, deixou que em 1936, em Berlim, o velocista Jesse Owen lhe mandasse à cara o que significava esse conceito de “raça ariana”. A China é mais polida. Publica, antecipadamente, restrições ao contágio da causa da democracia capitalista de pés de aço, que norteia a sua gestão nos últimos tempos. Uma nova revolução cultural, talvez seja o que nos espera.

(A Voz de Loulé, 15 Junho 2008)

sexta-feira, junho 13, 2008

Restrições nos Jogos Olímpicos

A RP da China aprovou um pacote de 57 restrições ao aficionado dos Jogos Olímpicos de Pequim. Como sabem, até a liberdade tem limitações. Foi o que a Revolução Francesa nos legou. O New York Times dá a história toda. Querem conhecer algumas dessas restrições? Aqui vão: i) a concessão de vistos a visitantes será controlada nome a nome; ii) todo o activismo, em nome dos direitos humanos, será punido; esperemos que não a esmagamento de canhão; iii) portadores de doenças sexualmente transmissíveis ou do foro psíquico não terão entrada; por isso veja lá bem; iv) imagens e textos atentatórios da política, economia, ou moral chinesas serão proibidos; de acordo com a cartilha chinesa, claro. A lista é grande e ficaremos por aqui. Provavelmente ela aumentará à medida que os Jogos se aproximam. Como o respeitinho é muito bonito, o Comité Olímpico Internacional nada diz. Ora, ora, quem cala consente.

quarta-feira, junho 11, 2008

Justiça desportiva

Tudo indica que o FC Porto vai ser impedido de disputar a Liga dos Campeões, pelo facto de estar a ser investigado num processo sobre corrupção desportiva. O facto de ser tricampeão em Portugal não conta para nada, nem deve servir para recurso. Até porque o processo discorre exactamente sobre esses períodos. Por isso, tudo indica que a UEFA não vai voltar atrás com a primeira decisão. Entretanto, se isto se confirmar, o SL Benfica é um dos clubes beneficiados. Tento não usar o meu subconsciente clubístico: o Benfica não deveria necessitar de aproveitar este mecanismo tribunalício para integrar as provas europeias. Foi um mau clube esta época, mas a justiça tem destas coisas; em todas as matérias. Agora dizer (como faz Miguel Sousa Tavares), que o Benfica faz pressão na UEFA a favor de uma decisão favorável, é confundir os leitores. Se a justiça desportiva precisa de provas, as afirmações que se fazem, também.

quarta-feira, junho 04, 2008

Em espera...

Amanhã (ou depois) escreverei sobre dois assuntos próximos do que recentemente abordei na minha coluna Treinador de Bancada, em A Voz de Loulé: a deliberação da UEFA que retira o FC Porto da Liga dos Campeões e as 57 restrições da RP da China aos visitantes dos Jogos Olímpicos de Pequim. Material que pega fogo.

terça-feira, junho 03, 2008

Treinador de Bancada


Apitemos, então!

Não, não me esqueci do Apito Final. Só que a selecção de futebol tem ocupado tanto os nossos olhos e ouvidos que ninguém tem paciência para nos ler. Eu próprio vou confirmando o papel manipulador dos media, na sua profusão de futebolândia em todos os meios: rádios, jornais, televisão, web. No meu bairro, já começaram a aparecer as bandeiras, com timidez é certo, até porque este ano o que está a dar é ser sócio da selecção, uma invenção mais consonante com a desgraçada classe média que temos e ao nível do programa da Liga dos Últimos, um momento de culto do futebol nacional.

Entretanto, alguém vai ter que ir tocando o país para a frente. De vez em quando uma noticiazinha, lá no fim do jornal da noite, ou nas páginas a preto e banco dos jornais desportivos, vai informando o povo do processo do Apito Final. Sabemos que Pinto da Costa já não manda penhorar a casa de banho do estádio do dragão, que Valentim Loureiro já não manda passear a procuradora Maria José Morgado, que Pimenta Machado e João Loureiro estão fora das direcções dos clubes que dirigiram a seu bel-prazer. De Avelino Torres não vale a pena falar, de tão rasteira que a coisa é.

Quando escrevi aqui, na minha antiga coluna, em 15 de Março de 2004 (em plena euforia da 1ª futebolândia nacional) sobre as ligações entre futebol, construção civil e branqueamento de capitais, caiu o Carmo e a Trindade. Melhor, caiu o Largo de S. Francisco e o pórtico da Graça. Mas eu recordo, agora que parece que o povinho do futebol já aprendeu alguma coisa:

(…) O dirigismo no futebol é tirocínio obrigatório para quem quer ascender a cargos políticos de referência. Em qualquer currículo que se preste a provas eleitorais, lá vai a referência à gestão da direcção do clube da aldeola, ou à prática desta ou daquela actividade amadora. Em tempos, era raro o presidente de Câmara que não tivesse lugar cativo na presidência de uma qualquer assembleia-geral de um qualquer clube. Do anonimato para a associação, desta para o clube de futebol da terra, e deste para o cargo político, este era o caminho certo para o poder (…)
A sociologia há muito tempo que estuda o assunto. E é por isso que se pode ler o futuro. A corrupção no futebol é algo evidente que, mais tarde ou mais cedo, se vai provando aos poucos, e a tendência é que desça dos grandes para os pequenos. E sabem porquê? Não? Eu digo-vos: é que o caminho da futebolândia constrói-se a partir de uma rede de favores e benevolências minúsculas e invisíveis, que estruturam a fidelidade de apaniguados, empregados, funcionários e autoridades. Só assim é possível, a quem detém o poder, mobilizar em sua defesa todos aqueles que dependem dessa rede diáfana da solidariedade corrupta. Para contrariar esta rede, é só alguém meter um pauzinho na engrenagem e já está.

Ora, o que é interessante nos dias que correm é a premente necessidade de identificação com os clubes, em particular com o futebol, que muita gente vai assumindo. Esse proselitismo saloio tem várias funções: o futebol é a sua pátria e ao seu serviço até vão combater na guerra do Iraque; eles são os únicos patriotas, erguem todas as bandeiras contra o inimigo, sobretudo quando os detractores estão nos blogues e nas colunas de jornal; eles formaram-se nas escolas dos clubes e o seu bilhete de identidade dá-lhes o direito de maltratar os adversários.

Talvez se possa aconselhar algum remédio a esta gente. Quando forem à bola, quer seja na caravela em seco, vulgo pomposo estádio do Algarve, quer seja no pelado do treino do filho, levem um livrinho e leiam algumas páginas. Aconselho dois: Contra o Fanatismo, de Amos Oz e El Fútbol a Sol y Sombra, de Eduardo Galeano. Perguntam-me do que falam os livros? É melhor lerem, verão que assim perceberão melhor o futebol e claro, a cidadania…

A Voz de Loulé, 1 de Junho 2008