terça-feira, abril 29, 2008

[Pub]

Aqui mesmo ao nosso lado, a única livraria da cidade de Loulé (Caravana) tem um espólio de livros a preços de ocasião. Quase todos do catálogo da distribuidora Sodilivros, conhecida pela venda em feiras e livrarias de retalho, lá estão dezenas de livros entre 1 e 7 euros: banda desenhada, romance, ensaio, técnicos. Não resisti ao «Belos Cavalos» do Cormac McCarthy, da Teorema e a dois ensaios de prestígio, um sobre Os Ciganos e outro sobre a história de vida do Chefe Sioux, Alce Negro, ambos da editora Antígona. Aliás queria chamar a atenção para o excelente conjunto de livros desta editora, à disposição dos leitores. Não lê mesmo, quem não quer...

segunda-feira, abril 28, 2008

A ler

E já agora queria aconselhar a leitura do romance blogosférico do José Carlos Barros, "O Fio do Norte", no seu blogue Casa de Cacela (link).

domingo, abril 27, 2008

Abril, há tanto tempo...

Apesar de atrasado (a vida não pára e prefiro isso ao foguetório memorialista das comemorações), aconselho a leitura do conto que escrevi há uns anos sobre o 25 de Abril de há 34 anos. Está ali ao lado, publicado na revista de contos «Bestiário» e chama-se "Trinta anos depois" (link).

sábado, abril 19, 2008

Edital

Novidades no sidebar: mais revistas online e imprensa no ecrã.

Escândalo

A Câmara Municipal de Portimão (CMP) já tinha revelado muito desleixo, em relação ao problema da classificação da Ria de Alvor como património ambiental. E continuou a fazê-lo, quando permitiu arroteamentos sucessivos de terras nas margens da Ria, na base de interesses turísticos. Agora, o choque é maior. Depois de ter apoiado estudos arqueológicos e promoção patrimonial no povoado pré-histórico de Alcalar, a CMP permite o escândalo do entulhamento de sítios de interesse arqueológico evidente, na periferia do povoado. Muito grave, quando a Câmara tem vereadores e técnicos que se dizem conhecedores e amantes da problemática. Ver no barlavento online (link).

sexta-feira, abril 18, 2008

Cronistas

Uma excelente novidade: os textos dos cronistas do Público estão em linha aberta e disponíveis à leitura (link),

quinta-feira, abril 17, 2008

Treinador de bancada

UMA CHAMA QUE SE APAGA,
OUTRA QUE SE ACENDE

Pois é, a chama olímpica que percorre os vários países até aportar a Pequim, sede dos Jogos Olímpicos de 2008, vai-se apagando de vez em quando, por pressão do povo tibetano. Como aconteceu em França, país ainda símbolo da democracia moderna e da multiculturalidade, cujo governo prevê o boicote às olimpíadas. Ora, esta situação não é nova, e convém lembrar que nos Jogos Olímpicos de 1976, 1980 e 1984 se produziram boicotes nos jogos de Montreal, Moscovo e Los Angeles. Portanto, são ridículas muitas afirmações de espanto e indignação, perante a indignação do povo tibetano e de muitos milhares de pessoas por esse mundo fora.

O mediatismo dos jogos e, sobretudo, a sua conotação com a paz e os direitos humanos no mundo, são uma oportunidade única para a afirmação do protesto tibetano pela independência do país. Convém lembrar que a invasão do Tibete se processou em 1950, um ano após a revolução chinesa, e que já produziu nada mais nada menos do que 90.000 mortos só em Lhasa (capital do país) em 1959, proibição de visitas a estrangeiros, leis marciais no país, e exílio do governo e das organizações democráticas tibetanas. Mesmo agora, com a aproximação dos Jogos, o governo chinês proíbe as visitas de jornalistas estrangeiros ao Tibete e encerra o acesso aos picos mais altos do Everest, pela sua fronteira, obrigando o Nepal a fazer o mesmo na sua entrada de acesso à montanha mais alta.

É claro que os protestos do povo tibetano – quer sejam pela independência (como propugna o Congresso da Juventude Tibetana) quer seja pela via da autonomia da língua e da cultura tibetana (como defende o Dalai Lama) – não se fundamentam apenas na invasão e ocupação do seu território. A China é acusada de violar muitas vertentes dos direitos humanos no seu país e é evidente que toda a gente se lembra do massacre dos tanques na praça de Tian Han Men, em Pequim. E é por estas razões, que milhares de tibetanos no mundo são acompanhados por muitos milhares, de outros povos.

Mas a China é também o grande suporte económico do Ocidente, através da sua economia de exploração de recursos e de mão-de-obra barata. E conta com o apoio dos Estados Unidos que, recentemente, a retiraram da lista de países dos piores violadores de direitos humanos, no mundo. E também não foi por acaso que a China ganhou, em 2001, a disputa, contra o Canadá, para a organização dos Jogos deste ano.

A decisão do Comité Olímpico Internacional também tem adeptos em Portugal. As declarações de Vicente Moura, presidente do Comité Olímpico Português, vão no mesmo sentido, quando afirma que o boicote só prejudicaria os jogos e, por inerência, os atletas que se preparam há anos para as suas “performances” desportivas. Espero que ele tenha falado por si só. Porque, fazer dos atletas assépticos praticantes de modalidades desportivas é uma ofensa, para todos aqueles que fazem do desporto uma demonstração da prática desportiva como exemplo de solidariedade e de cooperação humanista no mundo.

Talvez percebendo que muitos atletas irão manifestar o seu protesto, durante as provas, a China já prevê a possibilidade de transmissão dos Jogos em diferido, desrespeitando a vertente de fraternidade universal do acontecimento. E contra isto devemos todos protestar. Porque se a China proíbe a liberdade de expressão dos seus artistas, criadores ou simples internautas, não pode agora armar-se em consciência política da Europa e do mundo. Talvez fosse bom a União Europeia e a Organização das Nações Unidas, não se preocuparem só com o Sudão (país a quem a China vende armas que servem para massacrar o povo de Darfur), mas começarem a olhar para o Tibete, enviando ao país observadores independentes. E, já agora, exercerem pressão para que a China permita a entrada no Tibete de organizações insuspeitas como a Cruz Vermelha e a Human Rights Watch. Se a China nada tem a esconder…

(A Voz de Loulé, 15 Abril 2008)

terça-feira, abril 15, 2008

Imperdível

Depois de ter deixado a editora Devir, onde publicou várias obras, José Carlos Fernandes, nosso conterrâneo e um dos maiores argumentistas e ilustradores de BD em Portugal, publica algum material antigo na sua nova editora, a Tinta da China:

Entretanto, as suas traduções da obra maior, A Pior Banda do Mundo, saem agora em polaco e euskara:

Com a sua verve humorística, e sempre inteligente, o Zé Carlos, apresenta-nos as duas traduções:
Diz-se correntemente que a música é uma linguagem universal - já é menos frequente admitir-se que a má música também é uma linguagem universal, como se vê pelo exemplo em anexo.
A título de curiosidade envio-vos a pg.3 do 1º vol. de A Pior Banda do Mundo, em euskara (em publicação na revista Nabarra, de Pamplona) e polaco (publicada em livro pela Taurus Media)

sábado, abril 12, 2008

História Devida

UM CHALÉ NA PRAIA DA ROCHA

O campeonato do mundo de futebol, em Inglaterra, já lá ia há muito. Todos se lembravam do jogo contra a Coreia, que Portugal tinha ganho por cinco a três, depois de estar a perder por três bolas a zero. E do Eusébio, que marcava os golos e imediatamente retirava a bola do fundo das redes. A televisão era a preto e branco nessa altura. E o país também, muito mais preto do que branco. Para eles, que eram todos jovens, brancura, só mesmo no Natal: nas geadas da manhã, quando acordavam, nas neves de que ouviam falar aos seus amigos serrenhos de Monchique e nos algodões alvos, das decorações do presépio. Sim, neste tempo o Pai Natal não existia, ainda não tinha sido inventado pelo comércio das bugigangas dos centros comerciais. Só o Menino Jesus tinha o direito de vaguear pelos sonhos dos meninos e, esse, só descia pelas chaminés noite dentro, na madrugada de 25 de Dezembro. Era pouco o que deixava. Um copo de plástico e uma laranja foi o que o Zezé ganhou, nesse ano. Às vezes, lá deixava uns bombons da Regina, umas peúgas de lã ou um prato de filhós de batata-doce e chocolate.
Nessa noite, saíram em grupo, do bairro industrial sujo e frio, alagado em água salgada e marismas, onde viviam desde que nasceram, ali perto da fábrica de conservas. Em bando, e esfriados, percorreram os poucos quilómetros que os separavam da Praia da Rocha, paraíso da alta burguesia da cidade.
Estavam agasalhados com blusas de lã, refeitas de outras velhas blusas já usadas e casacos coçados dos pais, que lhes cobriam as pernas. Entre as poucas ruas da urbe, tentavam orientar-se timidamente, junto dos chalés de telha preta e janelas de veneziana. A algumas casas era difícil aceder, pois estavam rodeadas de gradeamentos de ferro encimados por espigões, ou guardadas por cães esquisitos, desenhados nas fronteiras das entradas.
Nunca nenhum deles tinha feito semelhante coisa. Não tinham experiência alguma, mas a leveza do prato de caldo verde no estômago, a curiosidade e o advento de uma adolescência presumivelmente escura e sinuosa, levou-os a decidir. Escolheram uma casa de dois andares e pátio de fácil acesso. A porta era de cor castanha e de aspecto pesado e tinha no centro um batente circular, de ferro. Olharam à volta, a noite de Janeiro estava escura, não se via vivalma e, sem barulho, avançaram todos para a porta. A calma era convidativa e o breu da noite ofuscava deliberadamente os seus rostos. De repente, no silêncio ressonante da noite, surge uma melopeia sentida e tristonha, como que vinda do além:

Esta noite é de Janeiras
É de grande merecimento
Por ser a noite primeira
É que Deus passou tormento.

Ensaiada e límpida, a voz do ponto viu-se acompanhada, de imediato, por todo o coro: putos de mãos nos bolsos e boinas de feltro na cabeça, que contavam a história de Cristo, menino como eles, e que rogavam pedidos complacentes aos donos da casa:

Senhora que estais lá dentro
Deixe-se estar que está bem
Mande-nos dar a esmola
Por essa filha que aí tem.

Janeiras cantadas, nervosismo aliviado, a resposta da casa, desta vez, tardou. De dentro do chalé fino não surgia qualquer indício de presença humana, nem luz nem vozes. Poderiam estar a dormir, mas era ainda cedo na noite de sono. Mas, se havia um batente de ferro, o melhor seria retinir um som suave na porta da casa. O barulho do ferro a malhar ecoou na noite escura e silenciosa. E ninguém respondeu. Tudo ficou na mesma e o desalento, pela experiência frustrada, começava a ensombrar os rostos dos putos. E foi nesse momento que um dos amigos reparou. Sobre o batente, bem ao meio da larga porta, estava pendurado um arranjo de azevinho e papel de lustro, em formato de coroa. Ausentes de casa, os donos não quiseram deixar de felicitar e de agradecer aos visitantes, em noite tão sagrada e solitária.
Os miúdos desconheciam a mensagem do arranjo de Natal na porta. No seu bairro, nunca tal tinham visto. Até que um deles chamou a atenção para uma eventual morte. E pensando que tinha morrido alguém em noite tão adventícia, fugiram amedrontados, para bem longe da casa assombrada. Refugiaram-se o resto da noite no seu bairro. Até um dia, em que um lençol de areia cobriu o antigo espaço das casas, transformando o bairro em porto comercial da cidade.
Hoje, esta história deve ser uma das suas boas memórias desses tempos de infância.

Loulé/Algarve
Dezembro 1991/Dezembro 2007
Helder F. Raimundo.

sexta-feira, abril 11, 2008

Para ler

Aconselho as leituras de: uma apreciação crítica à peça de Sófocles - "Antígona" - por José Neves (link); e o post de FJ Viegas sobre a "eterna juventude" (link). Para pensar.

quarta-feira, abril 09, 2008

História devida

A minha história "Um Chalé na Praia da Rocha", lida hoje aos microfones da Antena 1 por Miguel Guilherme, já está disponível em podcast e pode ser ouvida aqui (link).

domingo, abril 06, 2008

Em breve...

Na próxima 4ª feira, dia 9, Miguel Guilherme lê, aos microfones da Antena 1, uma história minha intitulada "Um Chalé na Praia da Rocha". Trata-se de uma história seleccionada para ser lida no programa "A História Devida", das Produções Fictícias, que é emitido todos os dias, de 2ª a 6ª, às 17:20h, com repetição às 21:20h e 03:20h. O programa, da autoria de Inês Fonseca Santos e com leituras do actor Miguel Guilherme, pretende divulgar histórias curtas de ouvintes da RDP, não só neste formato, mas também aos domingos na revista "Pública" e em formato livro (link). Portanto, está convidado para ouvir o meu conto na 4ª, dia 9, pelas 17.20h, na Antena 1*. Pode ouvir online (link). Nesse dia postarei o conto completo e explicarei como foi construído.
* [Frequências para ouvir: Faro (97.6), Monchique (88.9) e Alcoutim (88.9)]

quarta-feira, abril 02, 2008

Treinador de bancada

DO EURO 2004 À LUSITANEA

A derrota da equipa profissional (convém que se diga, não?) de futebol de Portugal contra a Grécia, na passada quarta-feira, recorda-me o Euro 2004. Na altura, a equipa de Portugal perdeu também os dois jogos que disputou contra a equipa de Katsouranis, o carrasco do último jogo. Como se percebe, Scolari tem, na Grécia, uma espada de Dâmocles eterna sobre a sua cabeça. O problema talvez se explique pela distância cultural de Scolari: vindo de um país colonizado 300 anos por Portugal, o treinador de Madaíl apenas solta o seu grito de Ipiranga, mas não chega à civilização de Sócrates e Platão.

Mas o jogo de Dusseldorf poderia ter sido jogado no estádio Algarve, aproveitando as férias da Páscoa e a recente enchente do estádio, na final da Taça da Liga, de nome Calsberg. Já sabem que Páscoa e Algarve são sinónimos, mesmo que a dita seja em Março e chova a cântaros como deve de ser. Isso não impediu o estádio (que representa uma caravela encalhada em seco) encher-se de espectadores, mesmo que muitos com bilhetes oferecidos ou a preços de uva mijona. Como, aliás, deveriam ser sempre os preços. O nome da Taça fez-lhe jus. Como a cerveja Carlsberg já quase não se encontra, que melhor nome para uma prova que teve cerca de 3500 espectadores em média por jogo. Um “número de sucesso” como referiu o presidente da Liga, Hermínio Loureiro.

Também o estádio Algarve é fruto desta estratégia megalómana da visão desportiva do país. Lembro a reportagem do jornal «Público», de Fevereiro de 2006, sobre os estádios do Euro 2004. Nessa peça, da autoria de Manuel Mendes, o estádio do Algarve é referido como um dos “elefantes brancos”: 320.000 euros de receita anual contra 3.200.000 euros de despesas anuais com encargos financeiros e de manutenção. Fazendo as contas, 10 vezes mais despesas do que receitas. Tudo “a cargo” da Associação de Municípios de Faro/Loulé. Explicando: tudo “a cargo” das Câmaras de Faro e de Loulé e, portanto, do erário dos munícipes. Mas nada disso é problema, porque esta visão estratégica vai para além do estádio e suporta um projecto inexistente chamado Parque das Cidades.

O problema é que este problema não está só. Abre-se a caixa de Pandora do Euro 2004 e uma desgraça nunca vem só. O jornal «Expresso», do passado dia 15 de Março, mostra como a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) da região Centro, em conúbio com uma associação público-privada e com o apoio das câmaras da região e respectivas regiões de turismo, obteve financiamento de Bruxelas para promover no exterior a imagem do Centro. Tudo sob o belo nome de “Lusitanea”. Uma auditoria, às contas da campanha de 2004, mostra 2,7 milhões de euros de facturas irregulares, 1,9 milhões de euros de débito a Bruxelas e, finalmente, uma notificação das Finanças no valor de 1,6 milhões de euros que ninguém paga. Como calculam, isto são só números. Custa-me tanto escrevê-los aqui como vós, leitores, a lê-los. Simplesmente, trata-se de dinheiros públicos que o Organismo Europeu de Luta Anti-Fraude não consegue recuperar. Como foi isto possível? Fácil. Bastou que Paulo Pereira Coelho fosse à altura (2004) o presidente da CCDR Centro e se nomeasse, também, presidente da Associação para o Desenvolvimento do Turismo da Região Centro, para gerir a campanha que prometeu mundos e fundos. Depois, foi só sair dos dois organismos e integrar o ex-governo de Santana Lopes na Secretaria de Estado da Administração Interna, deixando os fundos e partindo para novos mundos. Agora, os actuais presidentes que paguem as favas.

E nós, satisfeitos com a bola, que é redonda e nunca pára.

(A Voz de Loulé, 1 Abril 2008)

Just one year

Para a Verdocas, os parabéns, cá da casa, pelo 1º aniversário.