sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Investigando

Quase 40 anos antes de cair da cadeira e prenunciar a sua morte, este estafermo já andava a dar quedas desastrosas [fonte: Folha de Alte, 1 Junho 1929].

sábado, fevereiro 23, 2008

Arbeit


Trabalho, muito trabalho, por estes dias de sol, de vento sueste, de chuva e de cheias. Os resultados do trabalho com os meus alunos vão deixando sinais nas páginas da Voz de Loulé (link), na Rádio Universitária do Algarve (link) e nos caminhos da Tôr: fotos e vídeos.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Sismo no Algarve?

Segundo o Observatório do Algarve, de hoje (link), um sismo no Algarve com a magnitude do de 1755, causaria cerca de 3000 mortos. No Correio da Manhã de ontem, falava-se em 12.000 mortos potenciais. Dia após dia as contas descem. Não é bom, nem é mau sinal. Mas devíamos entender-nos, não?

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Eclipse da lua


Eclipse da lua, em Loulé, na madrugada de hoje
(fotos Deanna Raimundo)

Manifesto Comunista

Sim, também eu o li e aprendi por ele, as explicações do mundo. Faz, hoje, 160 anos, que foi publicado pela primeira vez, da autoria de Marx e Engels, o «Manifesto do Partido Comunista» (link).

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Auto-retrato

Há precisamente 4 anos iniciava uma nova forma de escrita. Tinha lido alguns blogs, que me interessaram enquanto veículo de expressão. Na altura, escrevia a crónica "Contrasenso", no jornal A Voz de Loulé, e este factor fez-me avançar para a criação de um blogue com o mesmo nome. Aliás, a primeira postagem, de 19 de Fevereiro de 2004, foi uma nota sobre as crónicas que estava publicando no jornal. Abri o blogue no servidor do Sapo, pois desconhecia ainda a plataforma Blogger, para a qual vim a mudar por ineficácia daquele, e na qual ainda me mantenho hoje em dia, inclusive com os meus restantes blogues.
Inicio, assim, o 5º ano na blogosfera. Por isso, substituo a minha caricatura feita pelo amigo Adão Contreiras, por outra desenhada pelo Vicente de Brito, médico e pintor, na altura da iniciativa de homenagem a Timor, realizada em Loulé, em 1992. Vicente de Brito que, por estes dias, mostra uma exposição na Galeria de Arte da cidade.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Chuva, mais

Quando escrevi o post abaixo, estava apenas a construir memória social. Depois dos acontecimentos da madrugada e manhã do dia de hoje, no distrito de Lisboa sobretudo, verificámos que a história se repete sempre, de forma circular. E, provavelmente, de forma catastrófica também.

Chuva

Na RTP1 discutem-se as cheias de 1967, nas quais morreram milhares de pessoas, nos concelhos à volta de Lisboa. Tinha 10 anos na altura, mas lembro-me dos comentários sobre as desgraças, muito próximas das nossas, ali junto do leito argiloso e arenoso do Rio Arade. Se foi um motivo para os estudantes de Lisboa iniciarem um caminho de busca ideológica, pela prática da vida, para mim serviu-me, sempre, para amar a chuva, a água derramada fresca dos céus. País pobre, onde as pessoas morriam nas cheias, país de fé, que armava romarias a pedir água de Deus, país triste que censurava os números da catástrofe. Ontem, de madrugada, choveu. Agora, madrugada de segunda, chove ainda.

domingo, fevereiro 17, 2008

sábado, fevereiro 16, 2008

Visto da minha janela

[Molas coloridas na transversalidade dos pinheiros, em São Miguel/Odemira]

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Treinador de Bancada #2

A minha coluna no jornal:

O RALI LISBOA-ALCOCHETE

Confesso que nunca fui muito de me deslumbrar por desportos motorizados. Tirando, claro, a curiosidade adolescente das primeiras mostras de carros, em que íamos mais para ver as miúdas do que para olhar as viaturas pintalgadas de cores berrantes e estampadas de reclamos baratos de marcas de tintas e bebidas. Apesar de ter licenças para conduzir automóveis, velocípedes com motor e até embarcações de 12 metros, recuso a velocidade gratuita e sobranceira dos automóveis nas estradas. Dos camiões e das motas, também.

Vem isto a propósito do cancelamento do rali Lisboa-Dakar, 2008, de que quero falar. Como se sabe, foi uma ameaça das células argelinas da Al-Qaeda que desencadeou o cancelamento da prova pela Amaury Sports Organisation, e que pôs a chorar organizadores e patrocinadores da prova. Os autarcas de Portimão e de Alcochete exigiram recompensas monetárias pelos prejuízos e João Lagos prometeu fazer a prova sozinho, montado num camelo (como aparece na capa da revista Única, do Expresso, de 26 de Janeiro passado).

Ao contrário dos choros, eu ri-me à gargalhada. Não porque achasse que o governo francês, que ordenou o cancelamento, se estivesse a submeter ao fundamentalismo de grupos terroristas. Ou porque ficasse com muita pena da “Total”, patrocinadora estatal do combustível, agora desarredada da exploração do petróleo da Mauritânia. Antes, porque seria uma oportunidade para criar uma alternativa: a do rali Lisboa-Alcochete (sabem, um deserto ali na margem sul do Tejo). Bom, é claro que me ri por outras razões: por exemplo, por ver a partida de dois motociclistas, com bandeirinha e tudo. Ou por ver, na televisão, aquela comitiva bucólica de jipes de Portimão que foram em romaria pelo percurso do Dakar.

Certo, certo é que, a minha opinião, não andará muito longe do que irá suceder em 2009. Primeiro, a organização apostou na ideia Lisboa-qualquer coisa na Polónia (o país mais importante dos novos membros europeus de Leste) e, por estes dias, fala-se da América Latina, Brasil, Chile, Argentina, por aí. Como já se percebeu, os motoristas de carros, motas e camiões gostam mesmo é de desertos, quer sejam os do Kahalaari ou da Patagónia. O que não deixa de ser sintomático, para perceber o carácter neo-colonialista da prova.

Porque se insiste tanto em África? Simples. Porque a melhor forma de desenvolver a solidariedade com os países africanos, é fazer roncar os motores por aquelas aldeias pobres e por terras tão rústicas, derramando milhares de litros de combustível, entre os olhos esbugalhados de meia dúzia de tuareges, convidados à publicidade do ocidente europeu.

Lembram-se de Rommel, o marechal nazi dos panzers alemães? À sua maneira, ele também queria pacificar aquelas terras. Se muitos países europeus colonizaram África, porque não voltar lá a toda a hora, mostrando a habitual sobranceria europeia dum rali cor-de-rosa. É que, na verdade, eu nunca percebi para que é que aquilo serve. Que raio de desporto é aquele? Talvez o leitor me possa elucidar e explicar que a estética está no romantismo das casas de adobe e das palmeiras verdejantes. Ou que a ética está no consumo do petróleo e nos inolvidáveis percursos nas dunas gigantes. Como se sabe, a comitiva do Dakar estabelece imensos laços de afecto e grandiosos momentos de convívio fraterno entre os povos, sobretudo com as crianças.

Coloquemo-nos, então, do lado de lá. Do lado daqueles imigrantes marroquinos, ansiosos por experimentar esse paraíso terreal do ocidente, que a publicidade do Dakar vende nos media globalizados. Sim, esses, por exemplo aqueles que navegaram à bolina no “cayuco” de 25 cavalos e aportaram ali na Ilha da Culatra, estão, hoje, quase todos nas choldras de Casablanca, entre criminosos comuns. E que conste, eles talvez viessem apenas ver a partida do rali Lisboa-Dakar, em Portimão. Mas se o Dakar teve honras de noticiário a toda a hora, os imigrantes marroquinos viajaram com toda a discrição, a pedido do seu governo e com a mãozinha do nosso.

Enfim, acho que, por agora, nos deveríamos contentar com umas fotos registadas ali no Terreiro do Paço, junto de um monte de areia e de um camelo trazidos de Alcochete. E, se possível, com os pés numa bacia de água morna. E se um banco, uma seguradora, ou uma operadora telefónica nos pagasse, seria a cereja em cima do bolo.

(15 Fevereiro 2008)

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Socializar por aí

Foi com entusiasmo que ouvi a 1ª emissão do programa Socializar por aí, que produzi, com a colaboração de uma equipa de docentes e alunos, para a Rádio Universitária do Algarve (Rua Fm). Engraçado que o nome do programa, que foi escolhido pela equipa, repesca o nome do blogue que mantenho desde há quase 4 anos para o meu trabalho académico. A edição vai para o ar todas as 5ªs, das 19 às 20h em 102.7 Mhz: entrevistas, música, crónicas, testemunhos, agendas e outras novidades. A ouvir, meus amigos (link).

Apanhar o que cai

Um texto portentoso do João Ventura:
Eis onde Flaubert não acertou. É que, se bem antecipou o triunfo do aborrecimento no apogeu da primeira modernidade, não poderia imaginar que o hedonismo indiferente que se vai espalhando por aí é determinado pela natureza pulverizadora do nihilismo pós-moderno, incoincidente com a noção de tédio geradora de opções transgressoras de vida ou de revolta social que marcou a experiência de vida no século passado.
A ler com devoção -->

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Boas novas

Em várias reuniões de pais e encarregados de educação, tenho sugerido que se use com maior eficácia as plataformas tecnológicas hoje à disposição das escolas. É uma forma de manter a comunidade escolar melhor e mais rapidamente informada dos vários aspectos relativos à educação dos filhos. Estão neste caso, materiais como a legislação sobre os alunos ou regulamentos de avaliação de escolas, para além de informações já mais vulgarizadas na net, como os horários das turmas, avaliações e informações educativas. Por tudo o que tenho defendido, fico contente quando recebo informação do conselho executivo do Agrupamento de Escolas Duarte Pacheco, sobre a disponibilidade, em linha, das novas alterações ao estatuto do aluno do ensino não superior. E a informação está lá para quem a quiser consultar (link).
A informação cibernética é fundamental para a aproximação dos pais à escola, em vez de os afastar. E, em particular, contribui para uma participação mais conhecedora e educadora.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Novas de Timor

Pois, pois, começamos a perceber os contornos da tentativa de assassinatos em Timor-Leste. Os atrasos da intervenção das tropas da ONU, ou dos milhares de homens da Austrália, deixam-nos perante muitas interrogações. O comandante do exército timorense, Matan Ruak, vem dizer isso mesmo, que as forças australianas são mais problema que solução (link). Estranho, muito estranho: como é que os bandoleiros se acercam da área presidencial na cidade de Dili, com vista a decapitar o estado timorense, e entram num tiroteio de mais de uma hora sem qualquer impedimento?
Quanto à informação em Portugal, é de bradar aos céus. Atrasada, com informações erradas e sem qualquer leitura política. Salva-se a Sic, que tem lá a qualidade do jornalista Pedro Rosa Mendes (link).

Visto da minha janela

Pomar de amendoeiras rasgando o céu em Vale de Éguas, Loulé.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Ai Timor...

Uma tentativa de golpe, (ou vingança) em Timor Leste, colocou o presidente Ramos Horta em coma e assustou o primeiro ministro Xanana Gusmão. O major Reinado, foragido há muito, comandou o ataque e foi morto no mesmo. Entretanto Alkatiri, ex-primeiro-ministro, afirma que a força da ONU reagiu apenas 30 minutos depois e só após a GNR ter tomado a iniciativa. Ler -->

domingo, fevereiro 10, 2008

Quem mente, afinal?

Isilda Pegado, que todos conhecem da Federação Portuguesa pela Vida (vulgo movimento anti-aborto), foi a convidada da Sic Notícias para comentar a imprensa do dia. Qual a notícia principal que escolheu? O aumento dos índices do aborto em Portugal. Depois, foi só afirmar que a lei, aprovada há um ano, sobre a interrupção voluntária da gravidez assentou sobre uma mentira. Acontece que é Isilda quem mente. Porquê? Simplesmente, porque as estatísticas apresentam os dados da IVG em Portugal, contabilizando os dados registados, ou seja, os dados do aborto legal. E esses aumentaram, e ainda bem. Porque o aumento desses números deve-se simplesmente ao facto de a maioria das IVG serem agora realizadas em hospitais, retirando-as dos vãos de escada do aborto clandestino.

Arrumando a casa

Organizando as pesquisas na net:
1. Os meus ensaios sobre o Algarve (link) e sobre tradições musicais (link), com a colaboração do Daniel Vieira.
2. E as edições das minhas recolhas musicais, em parte também com o Daniel Vieira:
i) As Moçoilas (link)
ii) Cantares de Querença (link)
iii) Velhos da Torre (link)
iv) Outras músicas (link)
*
[Em breve em permanência ali na barra do lado]

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Violência em Vilamoura

Como referi num post abaixo (link), a criação de espaços monopolizadores de turismo cria atracção de violência, roubo e outras marginalidades. Os acontecimentos noticiados pelos media de hoje, trazem um exemplo infeliz ao que afirmei: violência num bar de Vilamoura origina um morto. Os acontecimentos dão-se numa empresa privada e turística, guardada por seguranças exemplares, claro.

Fotobiografia de Manuel Gomes Guerreiro

Vim agora da apresentação do livro sobre Manuel Gomes Guerreiro, da autoria do arquitecto Fernando Pessoa, bem conhecido nas áreas da ecologia e do ordenamento do território. O livro foi lançada pela Fundação Manuel Viegas Guerreiro, de Querença, terra de onde era natural o biografado. De Gomes Guerreiro, lembro os inícios da construção da Universidade do Algarve, quando a comissão instaladora me pediu opinião (como representante de um partido político) e mais tarde das leituras dos seus trabalhos, pioneiros, críticos e poéticos sobre a ecologia do Algarve e o ambiente.

Um folhetim online

José Carlos Barros está a publicar um excelente folhetim, no seu blogue, sobre a descoberta da sexualidade. Chama-se Aline e o prazer e já vai no capítulo IV. A ler meus amigos-->

Big Brother

A Assembleia Municipal de Loulé aprovou voto de protesto contra as forças de segurança, por estas não protegerem o concelho e, em particular, a área turística de Vilamoura. Li no Correio da Manhã. Tudo devido à importância que Vilamoura, cite-se o voto de protesto, “assume no turismo e o seu impacto na economia local e regional”. Ora, é exactamente por este factor que a insegurança aumenta. A sociologia diz-nos isso: o desenvolvimento de megalópoles e de locais de monopólio turístico, tendem a atrair focos de insegurança, pela atracção da economia subterrânea, do roubo e da violência. Enquanto a autarquia se preocupa com “a incapacidade das forças de segurança” e afirma que o “problema tem solução permanentemente adiada”, melhor seria perceber que é a ausência de soluções municipais para a migração, o desemprego e a exclusão social, que originam esta anomia social. Durkheim, disse-o há muito. E só o ler e entendê-lo.

A propósito, parece que a Câmara pensa criar um sistema de vídeo-vigilância na freguesia de Quarteira. Espero que o não coloquem no café onde habitualmente leio os jornais, ou trabalho pela manhã. Seria indiscreto da parte da autarquia observar as minhas fontes. Ou as minhas companhias matinais.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Edital

1. Por mero acaso, quando estava a recolher dados para a construção da agenda da 1ª emissão do Socializar, por aí, programa de rádio de Educação Social na Rua Fm, descobri uma síntese do meu post sobre o Entrudo e o Carnaval, linkado na rede local do Sapo. Muito interessante (link).
2. Ali no post abaixo, com o vídeo promocional do grupo de música Al-driça, coloquei o vídeo final já disponível no you tube. É só ir lá abaixo ver.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

O Entrudo e o Carnaval

Agora que , finalmente, se questiona o figurino do chamado carnaval (ver editorial de Luís Guerreiro na Voz de Loulé de 1 Fevereiro), ou se propõem novos formatos de comemoração ritual das tradições populares do entrudo, acho importante repescar o meu pequeno ensaio publicado na coluna Contrasenso, em A Voz de Loulé, de 1 de Março de 2004. Quatro anos depois, fico contente por ver que se discutem estas questões.

O Entrudo e o Carnaval
O Carnaval de Loulé costuma ser separado entre o carnaval dito “civilizado” e o outro que não o seria. São pouco conhecidos os epítetos sob os quais seriam designadas as práticas dos carnavais anteriores a 1906 – data em que a comissão de festejos, decide fazer do carnaval um recurso financeiro para a Misericórdia local – mas Freitas (1991: 166, 176) dá-nos muitas respostas. Expressões como “a brutalidade do velho carnaval”; “a machadada de morte no velho «Momo»”; “se jogava agressiva e grosseiramente ao indecoroso Entrudo”, são exemplos da transformação do Entrudo no chamado Carnaval civilizado. Esse mecanismo de transformação, assumiu desde sempre a ideologia da normalidade, da hierarquia, da disciplina, da contenção, como princípios da monarquia e, mais tarde, do Estado Novo. A própria expressão de carnaval, é de origem erudita e importada dos festejos urbanos de países centrais da Europa.


Ler ensaio integral-->

domingo, fevereiro 03, 2008

A identidade da freguesia

Um post do Almeida, sobre a abertura de uma loja gratuita da Net em pleno Largo de S. Sebastião, na nossa freguesia, desbravou uma troca de comentários sobre as reivindicações dos fregueses, em busca de comparações e simetrias culturais. Interessante acompanhar, para perceber o jogo político da construção cultural que é a identidade, sobretudo a territorial.

Al-Driça

São amigos meus. E excelentes músicos:

sábado, fevereiro 02, 2008

Treinador de Bancada #1

A partir de 1 de Fevereiro, e com a regularidade do quinzenário,
mantenho, na secção de Desporto, uma coluna intitulada
Treinador de Bancada
.
Deixo abaixo a minha primeira contribuição:

A Voz de Loulé, 1 Fevereiro 2008
(Clicar na imagem para expandir)
*
Para os leitores que preferem ler em post e não em formato jpeg:


A MALDIÇÃO DO LAGOA


Iniciámos, neste número, uma coluna sobre desporto. Qualquer que seja esse entendimento antropológico do dito, pois se Miguel Sousa Tavares, Ricardo Araújo Pereira, Eduardo Barroso, Rui Santos, e outros, têm páginas à sua disposição, porque não nós? Treinadores de bancada há muitos e eu pretendo representá-los, sobretudo aqueles que estão mesmo no banco, fumando o cigarro da dissonância cognitiva, ou pontapeando garrafas de água sem marca, para os relvados. Por outro lado, já repararam que estas duas páginas estavam entregues ao amigo António Montes? Sozinho! E há muito tempo. Começava a ser discriminatório, ele estar aqui sem qualquer contraditório. Por isso já sabem, a partir de hoje, e todas as quinzenas, treinarei alguma coisa. E não pensem que só de futebol vive o nosso espanto.
A propósito disso, é melhor começar a primeira crónica por falar de futebol, não? O desporto-rei, pois claro. No último fim-de-semana jogou-se Taça. Com letra grande, pois. Então não é habitual, os jornais escreverem “aconteceu Taça”, quando o Salirense ganha ao Freixo de Espada à Cinta?
A Taça de Portugal é uma espécie de rebuçadinho dado aos pobres do futebol e foi inventada para isso mesmo. Por exemplo, para o Grupo Desportivo de Lagoa pensar que chega aos calcanhares do Sporting Club de Portugal. Na verdade, a Taça só serve para legitimar os privilégios dos grandes, que só existem se houver pobres, percebem onde quero chegar!? Foi o que se viu, na derradeira jornada. O Lagoa apanhou quatro bolas a zero, sem espinha, e deu ao Sporting a sua primeira vitória este ano. Portanto, o Lagoa cumpriu o seu papel de vassalo na Taça: deu ao adversário a possibilidade de se afirmar entre os grandes e continuar na Taça até sucumbir. Com outro dos grandes, claro. Mas os lagoenses, que foram em peso até Lisboa (parece que pararam no caminho para merendar, escondendo-se dos media que os esperavam de microfone aberto), não têm culpa nenhuma disso. Eles foram apenas para se divertir. Sair um sábado de manhã, com sandocas e cerveja a bordo, é o melhor que se pode ter depois de uma semana de trabalho no turismo. Porque a mística do futebol é feita disto. De claques que levam o nome da terra a todo o lado. Regionalismo chamar-lhe-ia António Ferro.
Por falar em mística, ao Lagoa é que eu nunca perdoarei. Melhor, ao guarda-redes do Lagoa. Explico. Jogava eu no Silves Futebol Clube, quando defrontámos o Lagoa no seu campo. Lembro-me bem que o campo (pelado, claro), estava mais enlameado que um chiqueiro, as botas enterravam-se até aos artelhos (bela palavra) e o frio de Janeiro era de rachar. Eu jogava a extremo-esquerdo (acho que, agora, o Luís Freitas Lobo designa-os como alas esquerdos), pois apesar de ser dextro, só eu chutava bem à esquerda (esta mania esquerdista), dizia o treinador. Sei que, nessa manhã, o Henrique me passou a bola no enfiamento da linha de meio campo para a frente. Dei-lhe um toque, só para a aconchegar no mau terreno de jogo, e marimbei-me para a transição defesa-ataque. O que fiz foi aplicar-lhe toda a força com a parte de dentro do pé direito, com o maior sentido de efeito possível (o contrário da trivela, percebem, que parece que inventaram agora). Como eu esperava, a bola descreveu um arco em meia-lua e se parecia sair pela linha de fundo, dirigiu-se mesmo para o ângulo superior esquerdo do Marreiros (não sei se este era o nome dele, mas para a história tanto faz). Eu não me desloquei mais, do terreno encharcado. Nem podia, a olhar enternecido para aquele arco de volta e meia, que levava a bola para golo. Surpresa, meus amigos. O Marreiros, não sei como, apesar de estar pegado ao chão, voou até à bola e agarrou-a, como se fosse um docinho de côco. Nunca vi defesa assim. Talvez mesmo só do Damas, que por acaso jogou no Sporting, o tal clube que deu quatro ao Lagoa, na passada jornada. Mas nesta crónica eu queria era falar do Marreiros, que me roubou um golo, e que se jogasse agora não deixaria o Moutinho (que nasceu na mesma cidade que eu) fazer-lhe aquele chapéu, como fez ao coitado do Botelho.
Moral da história: a história nunca se repete. Sobretudo na Taça.