segunda-feira, abril 30, 2007

Reler em intriga

Já acompanhava as crónicas, e outros textos, de Eduardo Pitta, na velha Ler, dirigida por Francisco José Viegas. Desde que a voz de Pitta surgiu na blogosfera, ela é uma das que leio com muita regularidade. Sobretudo pelo seu desassombro. Dois anos depois, aí está o livro, que compila muitos desses textos.

sábado, abril 28, 2007

Fragmentos de Babel

1.
Os fragmentos da minha vida são tijolos invisíveis - pó ambicioso -
para a casa que vou escrevendo, outro pó.

(Casimiro de Brito, Fragmentos de Babel seguido de Arte Poética,
lançado hoje na Biblioteca Municipal de Loulé)

Adenda de 30 Abril: o meu amigo Baeta escreveu, de forma conhecedora, sobre o tema. O meu amigo José Neves, também escreveu.

sexta-feira, abril 27, 2007

Do mar é um pouco vago...

Veja com atenção e delicie-se, para perceber que a história confirma sempre as piores previsões. Até no mar. Quem vos faz lembrar a dicção de Portas?



[Descoberto aqui]

segunda-feira, abril 23, 2007

domingo, abril 22, 2007

Ouvido no café

-Então, a santa não sai?
-Não, hoje parece que não quer saír da igreja!
Não há nada mais prosaico, do que a religião.
[a propósito da romaria da Mãe Soberana, em Loulé, manhã de domingo, 22 de Abril]

sábado, abril 21, 2007

Um país aos nossos pés

O suplemento "Fugas", do Público dos sábados, traz sempre uma entrevista recolhida a uma personalidade, a qual discorre sobre os lugares da sua vida. Em geral, têm interesse. De entre as últimas lembro-me da de Baptista-Bastos, por exemplo. A de hoje é feita pela Viviane, ex-vocalista do grupo pop Entre Aspas e actualmente com uma carreira a solo na área da música de fusão. Mas o interessante na leitura do depoimento é o facto de Viviane, tendo nascido em França e conhecendo outros pontos do mundo, escolher o seu país para falar. Lembra as águas frias, mas limpas do Gerês, os pirilampos da serra de Sintra, as ameijoas da Fajã de Santo Cristo, na ilha de S. Jorge, nos Açores (a mais bela, digo eu) e a sua serra do Caldeirão, na base da qual habita. A ler, sem dúvida.

quinta-feira, abril 19, 2007

Tempo de Timor VI

Tenho vindo a falar-vos da iniciativa de apoio a Timor, que se realizou em Loulé, em 1992. Uma das actividades desse dia foi um concerto de solidariedade, no qual esteve presente o grupo pop algarvio Entre Aspas, com uma formação extremamente ecléctica, com o Henrique nas teclas e o Tiago Bartilloti no baixo, para além da Viviane, do Tó Mané na guitarra e do Janaca na bateria.

quarta-feira, abril 18, 2007

Castanho terra

Ler os outros

Da promulgação e do veto

O modus operandi deste Presidente da República é o oposto do modus operandi das mulheres por quem me apaixono. Ele promulga, embora discorde. Elas concordam, mas vetam. [aqui]

terça-feira, abril 17, 2007

Tempo dos outros

é sempre tão difícil decidir
entre salvar a alma
ou ter numa noite fria de inverno
a lareira acesa
[integral aqui]
*
Ancient Stones
*
Anos mais tarde, muito mais tarde, voltei lá, não à discoteca, mas a Amares e a Caldelas [HFR. Novidades].

sábado, abril 14, 2007

Vozes antigas ©

[Cantores de Vales de Pera, Pera, Silves, Agosto de 1985 - foto de HFR]

sexta-feira, abril 13, 2007

quinta-feira, abril 12, 2007

DN, o novo Correio da Manhã

Afinal, a purga dos cronistas do Diário de Notícias não pára. Para além do que disse abaixo, o nóvel director do jornal continua a fazer uma limpeza à esquerda, nunca vista com outros directores.
Ler aqui.

quarta-feira, abril 11, 2007

Medeiros Ferreira fora do DN

Apesar de ser "em bons termos", José Medeiros Ferreira foi corrido do Diário de Notícias, onde cronicava há cerca de 15 anos (20 com interrupções). Eu já desconfiava disto, depois do que aconteceu a Mário Mesquita, ou a José António Barreiros. Com João Marcelino à frente do jornal, vamos ter um remake do Correio da Manhã. Ali abaixo, eu disse o que disse, também por isto.

O abate de árvores em Loulé

António Almeida fala, no seu blogue, do abate de árvores na avenida José da Costa Mealha, em Loulé. Lá deixei um comentário, a propósito de outro abate, o que se efectuou na R. Sacadura Cabral, aquando do início das obras do Arquivo Municipal.










Como um dos comentários refere este abate, e solicita fotografias a propósito, deixo aqui duas imagens que colhi na altura, pouco tempo depois das árvores terem sido cortadas rente, como se vê na imagem da direita. À esquerda, mostram-se seis cepos resultantes do corte. No lado direito da rua, podem somar-se mais seis. Doze árvores abatidas sem que ninguém tivesse discutido isto (refiro-me, claro, a ouvir pareceres de responsáveis - autarquias e associações, por exemplo).
*
(clicar nas fotos para expandir)

Antecipar a entrevista

Também vi e ouvi o debate sobre o tabu de Sócrates. João Marcelino, director do DN e antes director do Correio da Manhã, estava cheio de incómodos por estar no jornal de referência conotado com o governo. Os directores do Público e da Renascença mostraram-se preocupados com a reforma da administração pública. É que isto é tudo uma chatice. Se Sócrates se demite então é que não há reforma nenhuma. Que pena! Louçã foi citado algumas vezes. Parece ter sido o único dirigente da oposição a pôr as coisas a claro: saber se Sócrates favoreceu ou foi favorecido pela Universidade Independente. Pois claro. PS, PSD, CDS e PC estão calados, à espera do repasto de mais logo à noite.

terça-feira, abril 10, 2007

Tempo de Timor V

O médico e artista plástico Vicente de Brito foi um dos pintores convidados para a iniciativa que estou a recordar há uns dias [ver este post]. No fim da manhã, depois de pintores, escultores e performers terem desenvolvido os seus trabalhos - de que se dará conta em próximas entradas - fomos todos almoçar ao restaurante Flor da Praça, local habitual de comida e tertúlias do pessoal da Câmara. Aliás, julgo que foi a autarquia que custeou as refeições, pois claro. Durante o almoço o Vicente de Brito desenhou-me de perfil, ainda com o boné vermelho da CIN, a empresa que nos ofereceu todas as tintas e pincéis, necessários ao evento.

Um possível retrato de Portugal

É claro que se podem fazer muitos retratos de Portugal. Uma das formas de abordar o país, do ponto de vista sociológico, é colocarmo-nos também do ponto de vista de uma classe social. Daquela a que pertencemos, por exemplo. O programa de António Barreto faz isso. Já no segundo episódio fez isso (não vi o primeiro). Falar do trabalho e dos sectores económicos, sem tocar nas políticas de desenvolvimento para as várias áreas, é fazer um documento descomprometido, como se isso fosse possível. Como se o ponto de vista do autor fosse asséptico e descomprometido com o poder simbólico, de quem lê o problema. Aliás, recordo que António Barreto foi o ministro da agricultura do tempo da reforma agrária, lembram-se? Seria uma oportunidade para desenvolver uma 'reflexividade' sobre o tema. Mas a oportunidade foi perdida, de forma propositada.
Hoje, no terceiro episódio, o problema colocou-se de novo. A certa altura diz o autor, em voz off: "Será difícil para nós pensarmos o tempo dos nossos avós, de candeeiro a petróleo...". Para muitos de nós, para mim também, apenas preciso de retornar à geração dos meus pais, à minha infância, para lembrar a luz que me alumiava quando lia. Para o autor, esse tempo foi há muito mais tempo. Um ponto de vista de classe, portanto, a fazer de estudo sociológico.

segunda-feira, abril 09, 2007

Tempo de Timor IV



Foi esta a canção que serviu de base à performance do artista Afonso Rocha, na iniciativa de apoio a Timor, que fizémos em Loulé, em 1992, uma história que vos estou a contar há alguns dias. Tive que repetir a mesma música, na cassete (Ah, velhos tempos), imensas vezes. Só assim o Afonso poderia acompanhar, com música, as pinceladas doidas que esbatia na prancha de aglomerado de madeira, colocada no passeio da avenida José da Costa Mealha nessa manhã de sábado, 8 de Fevereiro. Depois das pinceladas a vermelho e negro, o Tó Zé, um amigo nosso, simulava uns disparos contra uns estudantes que tinham vindo da Escola Secundária (gente boa, esta), os quais caíam para dentro de um caixão. O caixão foi o tour de force do Afonso, que nos obrigou a arranjá-lo. Foi o Albano que o conseguiu, em Loulé, pedido estranho a que a funerária depressa aludiu. Sem tal peça, ele (artista sempre exigente) nada faria. Mas a malta lá providenciou o caixão e a música "Timor", dos Trovante, que aqui se dá a ouvir para acompanhar esta memorialística.
*
[nota às 9.49h de 3ª: parece que Ramos Horta lidera a contagem de votos nas eleições para a presidência de Timor]

Desenhos de viagem (C)


[desenho de Adão Contreiras, Minas de S. Domingos, Mértola]

domingo, abril 08, 2007

Tempo de Timor III

(clicar na imagem para ver em tamanho maior)

A iniciativa de solidariedade com Timor, de que tenho vindo a falar, mobilizou um vasto conjunto de artistas plásticos (pintores e escultores), de poetas, músicos e performers, que fizeram do sábado, dia 8 de Fevereiro de 1992, um dia realmente excepcional em Loulé. No grupo da instalação escultórica, participou ainda Afonso Rocha, que nos obrigou a arranjar um caixão para uma performance na avenida José da Costa Mealha, e a tocar vezes sem conta o tema "Ai Timor", dos Trovante. Mas isso é uma história que contarei mais tarde.
Lembro-me de ter reunido com o Vitor Picanço, o Adão Contreiras e o Hermínio Pinto da Silva, na Galeria Margem, já um prestigiado espaço cultural de Faro, dirigido pelo meu amigo Adão. A conversa girou mais à volta dos materiais a utilizar, porque eu queria materiais diferentes (madeira, pedra, ferro), mas eles foram mais do que solidários comigo. Quanto ao Afonso Matos, fui encontrar-me com ele no bar de um amigo meu, o Morbidus, ali na rua do crime, em Faro, ainda nessa noite e com umas cervejas a ajudar. A história das instalações, muito activas, destes meus amigos será contada em breve. Sei que o Adão pode começar por dar o pontapé de saída.
*
[Adenda: o Adão deu início à sua história]

sábado, abril 07, 2007

Tempo de Timor II

Ali abaixo, falava do cartaz da iniciativa de solidariedade com Timor-Leste, realizada em Loulé, em Fevereiro de 1992. Que me lembre, foi das primeiras manifestações de solidariedade que aconteceram no país. E a sua origem foi tão prosaica quanto uma conversa a uma esquina pode ser. A ideia foi fabricada ali perto da rotunda da Praça da República, em Loulé, mesmo debaixo da entrada da CGD, por mim, pelo Joaquim Mealha, meu colega do Gabinete de Desenvolvimento Rural da Câmara de Loulé e pelo José Teiga, à época julgo que presidente da Casa da Cultura de Loulé e encenador do seu Teatro Análise de Loulé. O cartaz, de que vos queria falar, foi desenhado pela Erundina, por sugestão julgo que do Daniel Vieira, também professor e artista plástico, que me acompanhou a casa da artista ali para os fins da avenida José da Costa Mealha. As recusas foram quase inexcedíveis. Aquilo que os artistas dizem sempre: não têm tempo, julgam-se incompetentes, o desafio é muito exigente. Acho que a convenci quando disse que Timor é que não tinha tempo e que por isso muitos artistas iriam colaborar, o que foi mesmo verdade. E a Erundina cumpriu o prometido: fez o cartaz a tempo e horas que o Guanito, da Gráfica Comercial, imprimiu (bem como o programa). Ainda por cima um excelente cartaz.

Onde vou, muitas vezes


Esta história lembra-me o que aconteceu na Ria de Alvor, no concelho de Portimão, o ano passado. A mesma devastação feita por patos bravos do turismo, a ausência de controlo das autarquias, o silêncio demorado dos responsáveis do ambiente. No caso da imagem acima, o Público, de hoje, referia a contra-ordenação que o ICN (Instituto de Conservação da Natureza) já tinha accionado. Mas multas é o que menos custa a esta gentinha. As plantas e os arbustos endémicos da região é que se foram, provavelmente, de vez.

sexta-feira, abril 06, 2007

Tempo de Timor

Em tempo de eleições democráticas em Timor, ocorre-me a memória deste cartaz e do trabalho que me deu, convencer a artista plástica, Erundina, a desenhá-lo. Amanhã conto-vos a história.

terça-feira, abril 03, 2007

Retrato-episódio 2

O povo unido

Ramos Rosa premiado


Poema dum Funcionário Cansado

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só

[mais]