sexta-feira, outubro 27, 2006

Lobo Antunes

Vi ontem a entrevista de Judite de Sousa a Lobo Antunes. Poderia dizer ouvi, porque o autor pensa e filtra muito bem o que diz. Expressa-se como se estivesse a escrever, muito lhe deve vir do hábito, da rotina, da memória física. Mas a mim sempre me parece tudo demasiado plástico, uma humildade fabricada. E aquela modéstia, parece-me sempre falsa. Por tudo isto nunca o li. Confesso que já tentei, mas lembro-me sempre de uma frase sua dos primeiros romances, uma das metáforas exageradas em que era exímio (quase sempre metáforas médicas), que não refiro por pudor de leitor, pudor que o autor, ontem, tanto prezou.
Adenda às 15.51h: ver a entrevista de Lobo Antunes como um reles panfleto anti-comunista parece-me desonesto e pouco abonatório.

O Norte

Já vos falei aqui de António de Sousa Homem. Ele escreve todas as semanas na revista "Notícias de Sábado" do DN. É das poucas coisas que leio. Em geral leio-o online, no seu blogue, que pode ser acessado ali em cima. É uma escrita conservadora, que circula entre os invernos de Ponte de Lima e os verões da praia de Moledo. Mas é também um bom naco da história do Norte, vista pelo olhar de uma certa elite rural - não tanto intelectual do Douro (lembrem-se de Camilo, pois) - onde se pode incluir também Agustina (a tal que sabe separar muito bem os maricas dos gays).

quarta-feira, outubro 25, 2006

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Os árbitros, chefes de família

«Por trás daquele senhor que anda com um apito na boca ao fim de semana e que nós chamamos árbitro, está um cidadão, está um ser humano, um pai de filhos, um chefe de família...». Vitor Pereira, responsável da arbitragem na Liga de Clubes.
É por esta e por outras que as mulheres deveriam apitar na liga profissional de futebol. Só assim o Código Civil entraria definitivamente na cabeça de muita gente.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Sol à chuva

«Portanto, o "Sol" não é um jornal sério. De mim não voltará a ter a mínima cooperação.»
Mais uma baixa que o Sol faz em dia de chuva!

domingo, outubro 22, 2006

Norte

Em dia de chuva e com buracos no asfalto do Porto, Filipe Menezes diz que o PSD tem de deixar as férias e o fim-de-semana prolongado. Entretanto, também a norte, a voz sibilina de Agustina acha que os "maricas" são o lumpen-proletariado da homossexualidade. O Sol deve estar a dar-lhe cabo da cabeça. Para que o dia acabe bem só falta o Liedson mostrar a vara da tolerância cá do sul.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Indispensável ler

O meu apelo a que no referendo da descriminalização do aborto não votem os homens e os senhores padres deve incluir as mulheres que confundem a post menopausa com a post modernidade.
Ler tudo aqui.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Editando a Wikipedia

Estive nestes dias à volta da Wikipedia, a editar elementos sobre Casimiro de Brito. Para além de completar os dados do poeta - sobretudo em momentos pouco conhecidos da sua adolescência poética em Loulé - acabei por editar outros dados que me parecem importantes desse período e que constituem entradas novas na plataforma: a página literária "Prisma de Cristal"; a colecção de poesia «A Palavra»; referências da revista efémera Poesia 61; e uma entrada sobre o poeta Candeias Nunes. Espero, em breve, editar uma entrada sobre Maria Rosa Colaço. Todas as entradas referidas podem ser acedidas internamente na página de Casimiro de Brito, clicando ali acima no nome sublinhado.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Candeias Nunes

Já que estamos em tempos de memórias do nascimento da página literária "Prisma de Cristal" em «A Voz de Loulé» e dos 82 anos de Ramos Rosa, deixo aqui outro poeta - Candeias Nunes de Portimão -, editado em1964 na colecção «A Palavra», dirigida por Casimiro de Brito. Estávamos na ressaca dos Cadernos do Meio-Dia, proibidos pela censura e do movimento Poesia 61.

Quando

Quando palavra
das sílabas exactas
o grito medonho
por fora da pele
calor de medronho
batuque de latas
e eu dentro dele

Quando ribeiro
ora manso ora bravo
e seixos no centro
libertas o escravo
que dentro tenho

terça-feira, outubro 17, 2006

Ramos Rosa

O António homenageia-o e eu também. No dia do aniversário do poeta António Ramos Rosa, deixo aqui um poema que ele publicou na página literária de «A Voz de Loulé», “Prisma de Cristal”, nº 24, dirigida por Casimiro de Brito, no dia 3 de Agosto de 1958:

Os dias, sem matéria,
caem na eternidade,
na vaga eternidade
de cada vida humana.

Num calendário, as datas
falam dos mesmos dias?
E em cada mesma vida,
acaso os dias passam?

Acaso eles existem?

Não haverá apenas
um só dia que vemos
e que nunca vivemos
por falta de coragem?

A coragem enorme
para dizermos: hoje!

segunda-feira, outubro 16, 2006

"Prisma de Cristal"

[desenho de José Batista (Jobat)]

Há 50 anos, a 16 de Outubro de 1956, «A Voz de Loulé» iniciava uma página cultural, mais tarde designada página literária, com o título "Prisma de Cristal". A página, que durou 26 números e foi publicada até 15 de Fevereiro de 1959, era organizada pelo poeta louletano Casimiro de Brito. Sobre este tema já escrevi algumas vezes e, por estes dias, sairá na revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, «al~ulyã», um artigo meu sobre o assunto.


Os grandes portugueses

A RTP iniciou hoje o passatempo - como lhe chamou Maria Elisa - "Os grandes portugueses". Depois do programa, antecedido pelas notas de Marcelo, a televisão pública passou um filme sobre Churchill, interpretado brilhantemente por Albert Finney. Sabemos que Winston Curchill, primeiro-ministro inglês durante a 2ª grande guerra, foi o vencedor de um programa do género em Inglaterra. A RTP só pode querer duas coisas com isto: mostrar que Salazar, ao tempo presidente do conselho de ministros em Portugal, ombreava com Churchill; ou então que Salazar nem serviria para lhe engraxar as botas; e, por isso, nem deveria figurar num passatempo democrático.
Ou então, foi apenas uma escolha de programação. O que acha?

sábado, outubro 14, 2006

A factura da água

Volto a falar dos media, sobretudo dos meios televisivos, porque parece que os jornalistas aprendem cada vez mais numa cartilha paupérrima sobre o que é a sua profissão. Esclareço. Em reportagem da Sic sobre as facturas de consumo de água, a jornalista tenta entender o que pensam os consumidores sobre o detalhe técnico das mesmas. Há teorias de desconstrução: "uma factura divide-se em três partes, a primeira com um gráfico, blá, blá, blá". Eu tenho aqui à minha frente uma factura da água e para que raio quero eu saber, a partir da primeira vez concedo, o que significam esses hieróglifos? Pago e pronto. A peça até me mostrou que pago menos do que a água custa ao M3 (metro cúbico, bem se vê). Mas o mais engraçado, e é para isso que levo o leitor, a jornalista queria saber à força porque não trazia a factura notas sobre a qualidade da água. Reparem: dava a resposta na pergunta. Crime de qualquer pesquisa, digo eu aos meus alunos de investigação. Pergunto-vos, agora: e quem sabe o que é o Ph e como se medem os coliformes fecais e totais? Já estou como o jovem no ER: "já estou a sentir a toxina a subir ao coração".

Nobel da Paz

Aos media daria muito jeito que o Nobel da Paz fosse para Bono ou Geldof. Bem, eu sei quem são estes tipos e na verdade pouco me interessam. Geldof como músico é uma nulidade e é quase opaco a defender causas. Bono vive do prestígio da música apesar de, confesso, gostar dos seus primeiros álbuns. Mas o comité do Nobel tem ouvidos moucos e vistas curtas para a comunicação e deu o prémio ao criador do conceito de microcrédito, Muhammad Yunus. Sobre ele já escrevi, há tempos, a propósito de uma aula para a qual convidei um agente local deste tipo de financiamento popular. Pode ler-se a partir deste link.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Chama-se Eusébio

É verdade, Portugal perdeu, ou quê? (sim, falo de futebol e da selecção!)

Loulé, first

Ontem fiquei a saber que metia nos cofres do fisco, 617 euros todos os anos. E fiz as contas: se a minha mulher põe outro tanto, dá 1234 euros anuais (em IRS e IMV). Segundo o CM estou a pagar os défices das outras regiões do país, do norte sobretudo, lá onde estão o Loureiro, a Felgueiras, o Pinto da Costa, etc e tal. Aliás, somos nós, algarvios, que parece que estamos a dar a maior contribuição: Lagos, Albufeira, os pobres de Vila do Bispo, por aí. Loulé, claro, está em primeiro lugar. O presidente da Câmara apressou-se a esclarecer que é devido ao facto de o concelho ter muita segunda habitação. Eu sei que vivo aqui e não tenho mais casa nenhuma.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Rio Arade

Portimão ainda tem esgotos a escorrer para o Rio Arade. É verdade que isso não importa nada. Não é verdade que o rio é o esgoto da cidade? Mesmo que as piscinas de água salgada da marina utilizem a mesma água, é e será sempre água salgada e não a caca que sai das casas da cidade. O presidente diz que a fiscalização detectou muitas casas com esgotos ligados às redes pluviais. Certo! E de quem é a culpa? Não é muito melhor reordenar a Praia da Rocha do que colocar uma rede de esgotos, em 2006?

quarta-feira, outubro 11, 2006

Luis Buñuel

"Quatro dos filmes do mais importante realizador espanhol de todos os tempos – Pedro Almodóvar – vão estar em destaque no Cine-Teatro Louletano, ao longo do mês de Outubro, num ciclo de cinema dedicado a esta figura que Hollywood aclamou." - no barlavento online.
Oiçam lá, já ouviram falar de Luis Buñuel?

terça-feira, outubro 10, 2006

E não o querem contratar para a campanha da PT?

"O governo é dirigido por uma cambada de loucos..." - Alberto João Jardim, presidente do Governo Regional da Madeira, à frente de barricas de vinho.

Prémio La Palisse

"Se arriscarmos, vamos correr mais riscos..." - José Couceiro, treinador dos sub-21 em futebol.

domingo, outubro 08, 2006

Madeira

Já vimos muitas vezes o homem iritado. O troglodita da Madeira, agora, esbraceja e vomita contra o «colapso social que aí vem, por culpa do Sócrates». Agora que a teta está a fechar-se vamos ver quanto tempo dura no poder. Não percebo é como o PS só agora percebeu a maneira de o alijar do governo.

Três a zero

Na verdade esqueci-me que Portugal jogava com o Azerbeijão, uma equipa assim equiparada ao Clube Desportivo de Freixo de Espada à Cinta (sem ofensa). Três a zero é muito pouco para esta diferença cultural!

sábado, outubro 07, 2006

Câmara Clara

Querem uma boa discussão e um programa sério sobre cultura? Penso que conhecem a «Câmara Clara», sextas às 22.30h na 2:

Liedson

Há horas, Portugal apanhou uma batatada de 4-1 com a Rússia nos sub-21. Mais logo, a vingança deve vir gelada: Costinha e Maniche sabem bem do assunto. O declíneo do futebolês está a acentuar-se. Está na altura de Liedson se naturalizar português.

sexta-feira, outubro 06, 2006

american way of live


Sem tempo e paciência para ler jornais e revistas, sou viciado compulsivo em colunas e crónicas: em papel, em linha, onde for. Uma das hipóteses mais interessantes é a compilação de textos de velhas colunas de jornais, em livro. Como poderia resistir à compra de Notas sobre um país grande, do Bill Bryson?

Carnivàle

Ainda não tinha lido, nem visto nada sobre Carnivàle, a série da HBO. Um mail do amigo António, recorda-me que a Sic Radical, pelas 23 horas, iniciava a I série de 12 episódios desta mágica e lúgubre história, "uma espécie de mistura de As Vinhas da Ira com TwinPeaks". Esperemos.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Um burro da infância

Quando o pai dele morreu, levei-o silencioso. Andámos sem destino, mas a estranheza da morte levou-me a caminhar para a mata, uma pequena floresta de eucaliptos, onde lembro de ter disposto alguns sacos pretos com sementes. Ali, sentia-me protegido das desgraças inapercebidas do mundo. Parando junto a um eucalipto, já muito alto e magro, o meu amigo chorou. Teríamos nove, dez anos? Não me lembro bem. Mas sei que depois de termos olhado o rio, ali mesmo à nossa frente, ele voltou a lembrar-se de como era a vida. Só muito mais tarde compreenderia o seu regresso. A noite passada tinha dormido debaixo do mesmo tecto, perto de um pai morto. A mãe, mantivera-se acordada ao lado do pai morto, sem apelar aos vizinhos a dor da alma; e ele cumprira o prometido: só chorar no dia seguinte.
*

O caso de Setúbal e as TVs

No caso do sequestrador da delegação do BES em Setúbal, não se viram as televisões a toda a hora a cheirar o cú do caso. A polícia também não deu muito fogo à palha. Várias vezes procurei saber o que se passava e só o conseguia nas publicações em linha. Satisfeito.

Praxes

No julgamento da aluna do Piaget, que apresentou queixa por causa de praxes violentas, lá estavam os seus ex-colegas. Faziam fila à frente do tribunal com faixas pretas aos pés que diziam: "Pisem-nos, mas não acabem connosco!". Confuso, hem? Eu pisava-os.

Moledos

Se há prosa boa na revista "NS" do DN dos Sábados, são as crónicas de António Sousa Homem. A prosa parece saída dos baús pós-românticos; é quase uma ficção de moral adulta, para ler sempre madrugada adentro. Estão na blogosfera há muito e vale mesmo a pena ir .

quarta-feira, outubro 04, 2006

Humberto Delgado

«Afirmo, aqui, que estarei disposto a morrer pela liberdade» (1958, no Liceu Camões, em Lisboa). E morreu. Pior, foi assassinado pela Pide. Humberto Delgado faria hoje 100 anos.

Ler

terça-feira, outubro 03, 2006

Passado-Presente

Mais um interessante projecto a acompanhar. Desta vez sobre as problemáticas da memória social, algo que me é caro na investigação. Com direcção de Rui Bebiano, precursor de revistas culturais na Net, este projecto aborda questões como a tradição, a memória, a folclorização e a patrimonialização, numa perspectiva da história e da antropologia. Clicar na imagem para ver.