sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Zeca

Éramos putos e estávamos todos em frenesim à espera do Zeca, no "Glória ou Morte", em Portimão. Eu tinha ouvido, à socapa em casa de amigos, algumas baladas do José Afonso (os primeiros singles dele era assim que o tratavam). O Zé Luís, um carpinteiro mais culto que muitos dos meus professores, tinha-me emprestado um livro de poemas do cantor, editado pela Livraria Paisagem, do Porto, em 1972, onde fiquei a conhecê-lo melhor. Assim, nessa noite, espreitando a Pide à paisana no bar da sociedade recreativa, preparada para o momento de protesto cantatório e olhando os poucos carros que iam chegando, chegou o Zeca, camisola de manga curta azul, cabelos encaracolados já desgrenhados das noites mal dormidas, viola às costas, disposto a limitar-se a cantar, como disse a Viale Moutinho. A malta mais velha, preparou uma peça de Teixeira Gomes, portimonense das letras e da presidência, para compôr o ramalhete e enganar os incultos da censura.
A partir daí cantei muitas vezes, em muitos sítios, as canções do Zeca: Vejam bem/Os vampiros/Canção de embalar/Cantar alentejano/Cantigas do Maio/Canto jovem/Grândola, vila morena/Menino do bairro negro/A morte saíu à rua/Menino d'oiro/Vamos cantar as janeiras/Traz outro amigo também...E aqui continuamos a madrugada do Zeca...
*
[escrito na madrugada de 24 de Fevereiro de 2004 e publicado no velho contrasenso]