domingo, fevereiro 26, 2006

O Entrudo e o Carnaval [1]

Em época de festejos carnavalescos - e no ano em que o carnaval dito "civilizado" de Loulé comemora o seu 100º aniversário - repesco um texto que escrevi sobre o assunto e que publiquei em A Voz de Loulé de 1 de Março de 2004. Por cada dia dos três dias de Carnaval editarei aqui uma parte dessa crónica. A primeira parte:
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O Entrudo e o Carnaval [1]

O Carnaval de Loulé costuma ser separado entre o carnaval dito “civilizado” e o outro que não o seria. São pouco conhecidos os epítetos sob os quais seriam designadas as práticas dos carnavais anteriores a 1906 - data em que a comissão de festejos, decide fazer do carnaval um recurso financeiro para a Misericórdia local – mas Freitas (1991: 166, 176) dá-nos muitas respostas. Expressões como “a brutalidade do velho carnaval”; “a machadada de morte no velho «Momo»”; “se jogava agressiva e grosseiramente ao indecoroso Entrudo”, são exemplos da transformação do Entrudo no chamado Carnaval civilizado. Esse mecanismo de transformação, assumiu desde sempre a ideologia da normalidade, da hierarquia, da disciplina, da contenção, como princípios da monarquia e, mais tarde, do Estado Novo. A própria expressão de carnaval, é de origem erudita e importada dos festejos urbanos de países centrais da Europa.Aqui a civilidade matou o Entrudo, enquanto expressão da manifestação cíclica do mundo agrário, denotativo do ciclo da germinação – das sementeiras, e das correspondentes coesões sociais, indispensáveis à sobrevivência agrícola e comunitária (...)
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[continua]