quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Crónica

A Feira da Microsoft
Estou a escrever este texto num processador de texto Word, do Office da Microsoft. Também estou ligado à rede através de um telefone fixo, da PT, que tive de instalar para usufruir do acesso ADSL do Sapo. Nada mais simples. Só que a simplicidade é enganadora. É que talvez não seja tão simples assim. Talvez eu pudesse usar outro programa de processamento, outra ligação telefónica, outro acesso à rede!? O problema não está na falta de concorrência. O problema, simplesmente, decorre da visão tecnocrática do estado de impor a sua lógica de mercado aos cidadãos. E essa lógica, para não desmerecer, é a lógica do seu negócio. De um negócio centralizador e autárcico, que privilegia as suas empresas e os seus ex-governantes.
Perceba-se a feira da Microsoft nesta lógica. Cinco ministros de peso assinam os acordos. Mil pessoas vão ser formadas pela empresa de Gates. Este mete ao ombro a Ordem do Infante. Mas isto são ninharias de publicidade, comparado com o fecho da coisa.
Bill Gates em entrevista a Judite de Sousa na RTP1: 30 minutos de publicidade à Microsoft, à hora do jantar. Percebendo as deixas, o homem não perdeu uma única oportunidade para levar todas as respostas para a panaceia das crises do mundo: a tecnologia informática e a sua multinacional. Na ajuda aos pobres do mundo, claro. Ora com a Fundação, ora com a empresa. Mas foi Judite de Sousa que lhe estendeu o tapete vermelho. Que organizou uma conferência de imprensa para Bill Gates explicar a sua relação empresarial com o governo de Sócrates. Excelente serviço público da TV do Estado. Para encerrar a feira em beleza.
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