quinta-feira, dezembro 29, 2005

Remate

Estavam os dois em casa, sós, a ceia na mesa e os presentes debaixo da árvore. Tinham passado a noite a beber e estavam já um pouco embriagados. Palavras que começaram por ser gracejos passaram rapidamente a insultos. E das palavras passaram aos actos. Mais tarde arrependeram-se os dois. (...)
Repare-se no balanço galopante das palavras em direcção a um desfecho inevitável. Que o leitor não sabe. Mas que o Luís remata assim: >

Ah, velho Churchill

A coluna de João Pereira Coutinho na Folha de S. Paulo é uma das minhas preferidas. Quem o lê sabe que JPC é um rapazinho (só tem 29 anos) às direitas, mas é um leitor inveterado e um colunista moderníssimo, enquanto crítico inteligente e divulgador culto. Manter os inimigos perto de nós, é um excelente conselho do velho Churchill. Por isso leia a última coluna de Coutinho: "Dicionário 2005".

Amigos

Para ler, com suavidade, a poesia quente do meu amigo Luís Filipe Natal Marques. Ali ao lado, nos Blogues, na Rotação dos tempos.

Condomínios

Na 2ª feira participei na reunião anual do condomínio. É claro que só me lembrei dela no momento em que li o belíssimo texto do Tiago Cavaco sobre a sua própria. Leia aqui.

O Guião

- Sim, claro que Cavaco Silva tem um guião!, respondia, há pouco, Pacheco Pereira a Carlos Duarte na "Quadratura do Círculo". Pacheco Pereira como intelectual competente sabe que esse guião está à mostra, demasiado descoberto, e que dificilmente irá resistir aos ventos frios de Janeiro.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Indispensável

ler os vários balanços na Origem das Espécies.

Últimas chuvas

Para perceber como a ideologia de Cavaco é um monumento de "construções" sucessivas da representação da imagética popular, montada por marketeers da Católica e que se desfaz às primeiras chuvas do Natal, é ler a sua entrevista ao «Jornal de Notícias».

Lusíadas

Vi, há pouco no programa de Jô Soares, o actor brasileiro José Vasconcellos fazer a rábula dos "Lusíadas", um texto em que representa - com aquela voz de trovão, apesar de gaiato - a primeira estrofe do Canto I. Vasconcellos dramatiza a récita de vários personagens representativos da geografia humana da Europa e da América Latina (aqui o velho rival Argentina), que declamam a estrofe perdendo-se em fait-divers e voyeurismos risíveis. E conta a história de quando representou esta rábula na Universidade de Lisboa, antes do 25 de Abril, numa altura em que a mesma estava proibida pela Pide, com a qual ele gozou. De rir às lágrimas.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Obrigatório ler

Os Evangelhos de Boliqueime: a Anunciação. No Franco Atirador.

A rir meus amigos

Excelente a entrevista de Ricardo Araújo Pereira a Ana Sousa Dias, ainda há pouco na 2:. Os dois prometiam um bom argumento e não desmereceram. Divinal, mesmo, foi quando RAP passou de entrevistado a actor e disse para ASD:
-Pois, gosto mais deste seu programa. Porque no outro estão a enganá-la. Tem que falar com a produção. É que põem-lhe o mesmo convidado todas as semanas.
Hilariante! ASD engoliu um pouco em seco e lá respondeu que isso fazia parte do contrato. Estava escrito.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

BI

Sim, sim, aduladores e detractores, o «Bilhete de Identidade» está agora na cabeceira. O primeiro capítulo (o do pai) já lá foi.

.com

Ah, mas os gabinetes jurídicos das candidaturas têm tanto trabalho com as brincadeiras daquela casa de apostas cujo nome não vou escrever! Brincadeira, como diz Louçã.

domingo, dezembro 25, 2005

Contrasenso convida:

Como anteriormente referi esta é (foi) a última coluna “Contrasenso” na Voz de Loulé.
Aqui estive a escrever desde 1 de Maio de 2003, em formatos diferentes e nos últimos tempos com o convite aos amigos Luís Guerreiro, Maria Amália Cabrita, Luís Ene e Joaquim Mealha Costa, os quais asseguraram esta coluna nos últimos meses, por impedimentos académicos da minha parte. A este projecto seguir-se-ia outro, com início no primeiro trimestre de 2006, que envolveria os amigos aqui referidos. Imponderavelmente, A Voz de Loulé vai suspender a publicação a partir do número de 15 de Dezembro 05. Por este motivo resta-me agradecer: em primeiro lugar aos leitores e amigos que são a seiva da imprensa escrita; aos amigos que aqui escreveram de forma brilhante; e ao director do jornal, José Maria da Piedade Barros, sua esposa e administradora da publicação e a toda a restante equipa.
Por agora fica a coluna escrita por Luís Guerreiro. Até qualquer dia.

O Centenário do Carnaval de Loulé


Por força da roda do tempo a edição de 2006 do Carnaval de Loulé corresponde ao seu Centenário. Foi justamente há cem anos que um grupo de louletanos liderados por Ventura Sousa Barbosa, o verdadeiro «pai» do Carnaval de Loulé, decidiu organizar os primeiros festejos carnavalescos desta terra, com a denominação de Carnaval Civilizado e subordinado ao lema Paz, Amor e Caridade.
Estes epítetos têm razão de ser: os festejos do carnaval até 1906 eram extremamente agressivos, sujos, sem graça, monótonos e sensaborões, segundo os relatos da época. Era preciso alterar-lhe a feição, civilizá-lo, torná-lo mais asseado e elegante. Por outro lado, nesta época, existiam muitos pobres, mendigos e miséria por todo o lado. Era preciso conferir uma dimensão humanitária a esta festa de excessos e abusos passíveis de condenação, dando-lhe um ar de alegria e de civismo, onde toda a sociedade louletana participasse e simultaneamente servisse para aliviar o sofrimento e a fome daqueles que efectivamente mais precisavam.
Do programa, amplamente divulgado por todo o concelho, constava nesta primeira edição uma Matinée no “Teatro Louletano”, Batalha de Flores e um Bodo aos Pobres. A primeira Batalha de Flores, que constituiu um êxito assinalável não só pela presença de milhares de pessoas e pela forma ordeira como tudo se passou mas também pela beleza e bom gosto dos carros alegóricos, desenrolou-se na Rua da Praça, entre o Largo dos Inocentes (actual Largo Gago Coutinho) e as Bicas Novas (actual Largo Bernardo Lopes). Abrilhantaram os festejos três filarmónicas: «Artistas de Minerva», «Marçal Pacheco» e «Progresso Louletano».
As primeiras edições do Carnaval de Loulé tiveram mais ou menos este figurino. Batalha de Flores com o percurso por vezes estendido até à Rua dos Grilos (actual Av. Marçal Pacheco), espectáculos teatrais e Bodo aos Pobres. Este Bodo aos Pobres durou pouco tempo, dizem que a sua extinção se terá ficado a dever às cenas tristes que esta cerimónia despertava e também pelo facto de ter surgido em Loulé uma Associação que tinha por objectivo principal a assistência à mendicidade.
A partir de 1926 o Carnaval de Loulé assume uma nova fase, passando a Santa Casa de Misericórdia a organizar os festejos e as receitas a serem orientadas integralmente para o funcionamento e melhoramento do Hospital de Loulé.
Foram tempos áureos do nosso Hospital, ao ponto de ser um dos melhores equipamentos de saúde do Algarve, em grande medida devido às avultadas receitas que os festejos, cada vez mais populares por esse país fora, iam gerando, mas também ao profissionalismo e competência do seu corpo clínico, com destaque para o Dr. Bernardo Lopes. Cada vez há mais gente de outras terras a querer ver o nosso Carnaval, pela fama que vai adquirindo, o que naturalmente acarreta problemas logísticos variados. Desde logo carência de alojamentos, transportes e pouca restauração. Depois é a própria natureza dos festejos que se começa a aperfeiçoar, conferindo maior profissionalismo à organização através das Comissões criadas para o efeito, o aumento dos carros alegóricos com a presença das freguesias, instituições e carros-reclame. É evidente que no meio de tudo isto, também houve problemas de crescimento, crises insuperáveis e transtornos inesperados. Sem querer entrar muito por esta área, recordo o célebre ano de 1941, em que só por um triz e influência de gente importante é que houve Carnaval de Loulé. O mundo estava em guerra, Portugal apesar do seu estatuto neutral, sofria as consequências do conflito, adoptando o racionamento de muitos bens essenciais e para cúmulo do azar, em Fevereiro desse ano, dá-se em Portugal um violento ciclone que provocou mais de uma centena de mortes e avultados prejuízos. Salazar proibiu os festejos de rua. Sem entrar em grandes pormenores o Carnaval de Loulé foi excepcionalmente autorizado, atendendo a fins de beneficência que tinha.
Até a Câmara de Loulé começar a organizar o Carnaval em 1977, os festejos assumiram sempre esta característica dupla: o aspecto artístico aliado aos fins de beneficência.
A partir desta data o Carnaval passou a ser um cartaz turístico de época baixa, um espectáculo de cor e alegria a que milhares de pessoas assistem através de um ingresso na Av. José da Costa Mealha e, supostamente, um motor da economia local e regional.
Perdeu-se com este figurino a participação activa da população que a pouco e pouco deixou de estar envolvida na sua organização pois todos os serviços passaram a ser profissionalizados (entenda-se remunerados) e deixou de haver o tal objectivo filantrópico que mercê de acções bem concertadas desse tempo apelavam à generosidade e à participação voluntária de centenas de pessoas. Os tempos não param, passaram cem anos sobre a festa memorável que foi o primeiro Carnaval Civilizado de Loulé, muita coisa mudou na nossa terra, no país e no mundo e quer queiramos quer não, as coisas evoluíram e não podemos mais voltar atrás numa lógica de saudosismo ou revivalismo. Podemos melhorar, aperfeiçoar, fazer diferente e nesse sentido penso que este Centenário, para além das comemorações inevitáveis, até porque é a festividade mais conhecida além-fronteiras de Loulé, deve servir também para reflectirmos e debatermos o futuro deste valioso património que nos foi legado por uma geração de louletanos ilustres.

[Luís Guerreiro]

sexta-feira, dezembro 23, 2005

A ética do jornalista

O caso da jornalista do DN no Algarve, Paula Martinheira, relatado hoje no jornal barlavento, recorda-me o que escrevi sobre o assunto aqui.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

As razões do espia de balneário

Nunca escondi que alguma vez achasse este homem competente. Escrevi várias vezes sobre o perfil militarista e patridiota (como lhe chama Vale de Almeida) que ele impôs à selecção de futebol e sobre o populismo nacionalista das bandeirinhas chinesas que levou a pátria dos outros a erguer nas janelas. É claro que em tempo de vacas magras e valores enlameados há sempre lugar para o messianismo do “rigor, da competência e da autoridade”. A presente campanha presidencial é disso excelente paradigma.
Agora vir dizer que Baía e João Pinto não são convocados por “razões de balneário”, prova o que sempre dissémos. E não adianta pensar que estas reacções, de quem acha que Scolari deveria deixar o cargo de seleccionador, é xenófoba, só porque é brasileiro (a propósito experimentem propor Mourinho para o lugar de Parreira). Muita gente que andava satisfeita com os resultados do Euro/04 já deu a mão à palmatória e já percebeu que o homem não tem qualquer cultura democrática. A sua presença na selecção portuguesa é de mero interesse comercial. Agora também era bom que os responsáveis pela sua presença deixassem o lugar de meros amanuenses.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Os poemas da "Máquina"

A RIA FORMOSA

Na tarde, notavam-se as ausências no lago.
Onde estavam os flamingos rosa,
dormindo o dia nos aquilinos bicos?
E as correrias dos velhos galeirões,
mostrando quão perene é o nosso tempo?
Patos reais, porfírios azuis, nem as garças brancas
denunciam a vida, junto das sapeiras e das dunas,
nas águas salobras.
Talvez um apelo longínquo das gaivotas,
atentas ao desenrolar das estações,
ou o incómodo da primavera dos homens,
sempre dispostos a perturbar a serenidade
dos belos mundos
que desconhece.
*
Este e outros dois poemas meus podem ser lidos na Máquina do Mundo, revista brasileira de poesia, no número de Dezembro 05.

sábado, dezembro 17, 2005

Novidades

Muitas alterações no template: para marear a navegação dos leitores; para corresponder aos desígnios das minhas leituras.
Ora vejam ali no lado direito:
1. Abri uma secção para as minhas crónicas no jornal "barlavento" (as que estão online; as outras podem ser encontradas no arquivo do Lobo das Estepes);
2. Coloquei online o conto que publiquei na revista "bestiário";
3. Abri outra secção, com os livros que estou a ler neste momento, a qual será actualizada de acordo com as leituras (os livros do mestrado não contam);
4. Outra nova secção contém a imprensa que leio online;
5. Ainda outra secção contém as revistas que leio online;
6. Finalmente, actualizei a lista de blogues que leio desde sempre (ainda faltam alguns, claro).
*
Até já!

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Tragam cá o Vitorino

O que se pode perguntar - e é justo que o façamos - é: qual o estofo moral de António Vitorino e já agora de Jorge Coelho e de António Costa (altos dirigentes do PS) para exigir aos candidatos de esquerda que desistam em favor de Soares?
Respostas óbvias: nenhum deles se candidatou (apesar do putativo Vitorino) e tiraram Soares da cartola; as sondagens amedrontam-nos cada dia que passa ( e hoje no debate com Louçã vai tudo piorar); o PS de Sócrates quer que a direita ganhe e é por isso que apresenta dois candidatos.

BD da casa


A exposição das vinhetas (em tamanho grande) de José Carlos Fernandes, que deram origem ao livro acima, são uma benção sobre a sociedade pós-moderna: pequenos clichés sobre a tecnologia, os medos urbanos, a manipulação da televisão, a desafectividade humana. Está lá tudo. Lembro que em primeira mão tivemos oportunidade de publicar alguns destes desenhos no suplemento cultural da Voz de Loulé. A edição em livro veio a ser premiada com o melhor argumento no Festival de BD da Amadora.
Mas na galeria da Marina de Albufeira (até 22 de Janeiro) estão também os desenhos da série do Diário de Notícias "Geração de 70": uma capacidade de síntese cultural e política que é de sublinhar. E como ganham os desenhos vistos na sua dimensão original, longe da perecidade do papel de jornal!

Competências

O problema central nos bastidores do que aconteceu à menina abusada e violada (Fátima Letícia) é apenas e quase só um: a falta de competência técnica e científica dos membros das Comissões de Protecção de Jovens e Menores em Risco. E desculpem, mas eu sei do que falo!
*
nota: ler também a coluna de João Miguel Tavares no DN de hoje.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

O quadrado

Pois é. Alegre recebeu uma lição de presidencialismo. É cada vez mais visível a sua dificuldade política (e poética também) para falar claro e seguro sobre os problemas do país. Muito tempo de caça, touradas e poesia, colocam-no num papel aristocrático que não se coaduna bem com o ar de candidato da esquerda. Está cada vez mais encerrado no seu quadrado. Cada debate que passa aguenta menos segundos antes de ir ao tapete. Ora jogue lá este jogo para ver se não tenho razão.
*
nota: post inspirado no de ZMS.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Blog de Ajuda

«"Ajuda" e "partilha" são as palavras chave. Qualquer experiência poderá ser partilhada , qualquer pedido de ajuda poderá ser feito. Na base estará sempre um problema , ou a sua superação, e a convicção que partilhar é parte da solução».
Também me apetece divulgar o novíssimo projecto do Luís Ene.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Um filósofo no seu "palácio de cristal"

A propósito deste post, em que o filósofo Paulo Tunhas afirma desconhecer os mandatários para a juventude de Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, convém educá-lo:
Ó Paulo Tunhas: eu compreendo que andar a escrever sobre cultura na "Atlântico" não deixa tempo para algumas vulgaridades culturais como ouvir por exemplo os Blind Zero ou mesmo ler a coluna «Periférico» no "Público". Porque falo destas coisas michurucas? Bom, simplesmente porque em ambos os casos está presente Miguel Guedes, o mandatário da juventude da candidatura de Francisco Louçã. Cumprimentos. HFR.

sábado, dezembro 10, 2005

A ler

«E depois, a fechar o debate, limitou-se a exibir um sorriso forçado e uma nota de optimismo bacoco, namorando pela enésima vez os jovens, os jovens, os jovens, ao melhor estilo IPJ.»
José Mário Silva no Aspirina B
*
DEBATE, 3
Eduardo Pitta no da literatura

Os pobres vistos pelos ricos

Um dos argumentos da direita, para explicar as incompetências e desconhecimentos de Cavaco Silva, assenta os fundamentos culturais e sociais na "ascendência pobre" do candidato presidencial. Sobre isto só diria duas coisas: a primeira é que na verdade os seus apoiantes – designadamente a sua Comissão de campanha – são ignorantes sobre a verdadeira história do seu ídolo; a segunda é que este é um argumento a contrario senso, quer dizer, um argumento populista para conquistar votos no “povo”, entidade abstracta que como muito bem se sabe não nasceu toda filha de um empresário abastado.

Novas

Como este é o meu principal blogue, resolvi organizá-lo como uma espécie de índice. Assim, ali à direita coloquei duas novas secções: a 1ª com os meus outros blogues; e a 2ª com os blogues em que colaboro. Também na secção "Leituras" retirei os blogues que estavam há muito inactivos e coloquei um novo.
Até já!

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Personna

Finalmente a máscara de Cavaco começa a cair. Muito por culpa da argúcia e inteligência de Louçã que obrigou a que o debate fosse isso mesmo.
Ficámos a saber que Cavaco é contra a entrada de emigrantes, com medo que os mesmos dominem os 10 milhões de nacionais; que há coisas mais importantes que os direitos constitucionais de determinados cidadãos a constituir família; que o problema do desemprego se resolve com mais liberalização de despedimentos; que o aumento da idade da reforma é a solução para o colapso da segurança social.
Depois mostra não estar preparado, não conhecer estudos e relatórios (como no caso do estudo sobre a segurança social). Até no combate económico perde. Como disse Louçã, é um político pequeno.
É todo um programa neo-liberal que cai por terra, juntamente com a máscara do candidato dito suprapartidário. Agora faltam as máscaras seguintes, até que a verdadeira face de direita apareça clara aos olhos de todos.

Crucifixos

Há um ano e meio atrás – quando a Escola do 1º ciclo do ensino básico do Serradinho, em Loulé, decidiu passar a chamar-se “Mãe Soberana” – vim a público no jornal A Voz de Loulé defender a laicidade do ensino e a utilização de nomes religiosos apenas onde eles fazem sentido. Mais tarde divulguei o estudo da Associação República e Laicidade contra a presença de símbolos e práticas religiosas do catolicismo nas escolas de ensino público. Por estes dias e após a indicação do Ministério da Educação de retirar crucifixos da escolas, o debate alarga-se pelo país, desperto para a necessária liberdade do laicismo, num sentido que nos agrada discutir. Brevemente abordarei o assunto em crónica jornalística.
Entretanto pode ler o que escrevi em Junho 2004, clicando aqui.

Cassetes

No debate Soares-Jerónimo este tentou fugir da cassete paradigmática do discurso dos comunistas. Quase sempre obrigado por Soares, que o lembrou das reviravoltas e dos sapos engolidos. Mais jovem que Jerónimo, Bernardino Soares foi um inexcedível leitor de cassetes no debate com Ivan Nunes (representante da candidatura de Soares): passou todo o tempo disponível a dizer que a candidatura do seu secretário geral era a única que defendia a aplicação da Constituição. Preparava, assim, o seu eleitorado para os votos em Soares na segunda volta.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

O catenaccio dos debates

O debate Cavaco-Alegre foi a imagem da antecipação de um país presidido por homens de que o país não precisa. Cavaco – depois de impor que os candidatos ficassem lado a lado e não olhos nos olhos – lá arrastava uma carantonha triste e deprimida, mas não escondendo um vício professoral ao jogar o rabo do olho de complacência ao outro candidato. Alegre foi apenas triste, incerto, sem rasgo, um poeta despido de palavras homéricas.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Tenham medo, muito medo

Como se esperava, e eu tinha avisado há meses, Alegre vai escorregando sucessivamente para um populismo cada vez mais evidente: dizer agora que nos partidos é tudo conspiração e que a democracia está sobretudo na sociedade civil é manipulador e perigosamente antidemocrático. Alegre deve referir-se ao seu partido, à tentativa de o exorcizar na forca do confronto com Soares. Mas o que esperaria ele, se age com os provendos da sua militância no PS ( do qual é vice-presidente na Assembleia da República) e ao mesmo tempo quer estar por fora, a criticar?
Mas o povo desconfia de quem tem rabos de palha. Esperemos é que muita gente - sobretudo alguma intelectualidade da poetry - que se quer ver reconhecida em Alegre nas eleições, veja isso. A coerência do homem já foi chão que deu uvas.

sábado, dezembro 03, 2005

Autofagia

Como é que um homem que tem como paradigma de resposta a sua autobiografia política pode vir a ser presidente da república? Seria um caso de autofagia escolástica!
Este homem nem sequer é do passado.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

a rede

Já sabíamos que a rede tecia tantos nós, como as sinapses da nossa memória mais profunda e antiga. Agora que nos trouxesse velhos e desencontrados amigos de escola mais de trinta anos depois...

La mujer gorda

Hernán Casciari fez o melhor blog do mundo “A mulher gorda”. Agora, no seu diário de bordo, continua com as melhores histórias.

A ler

«Acham que políticos se importam em serem atacados em colunas na página dois? Claro que não – ninguém se importaria. Eu sei que eu adoraria. Não, não – jogue todos para uma notinha no último caderno. Isso sim seria subversivo.». Nova coluna de ASS no Semana 3.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Contrasenso convida


Aqui está a coluna Contrasenso, na Voz de Loulé. Desta vez com a Maria Amália Cabrita:
*
O Estrangeiro

Durante o mês de Novembro, o estrangeiro tornou-se a figura central em França. O estrangeiro desconhecido, bem entendido, tal como o soldado que os poderes dominantes transformaram em estátuas depois da I Guerra Mundial era desconhecido. Em ambos os casos, há qualquer coisa de póstumo: foi depois de muitos deles - pessoas com nomes e vontades próprias se terem manifestado - , uns de uma forma, outros simplesmente morrendo, que a ordem constituída se lembrou de lhes conceder o estatuto de potência anónima.
Isto, claro, por parte da imprensa, porque durante a fase em que se desenrolam os acontecimentos os estados maiores têm habitualmente designações mais operacionais e menos metafísicas. Por exemplo, em 25 de Outubro último, um ministro francês achou que “racaille” (escumalha, em tradução livre) seria mais prático. E agora, alguns factos esclarecedores. A França tem uma taxa de desemprego de 10%, que no caso da população imigrante é superior a 17%. No caso dos filhos de magrebinos, entre os 19-29 anos é de...40%. A partir daqui é facil deduzir que existe uma geração com um potencial criativo praticamente perdido porque se a estes números juntarmos as taxas do insucesso escolar e da escolaridade interrompida, que se concentra também nestes grupos, facilmente se percebe como a sociedade se prepara para perder por inteiro o seu contributo.
Agora, eles são estrangeiros relativamente a quem e a quê? Não à região parisiense e à França, visto que nasceram lá. Não às instituições administrativas, escolares, eleitorais, policiais, que os registaram por mais de uma vez e sempre que foi necessário. Não à publicidade que lhes fez entrar pelo ecrã dos seus televisores as amostras do que faz o resto da sociedade, às grandes superficies onde vão gastar os seus subsídios estatais (se e quando o recebem) e às agências de trabalho temporário que os chamam ocasionalmente. Assim, eles são nacionais para todos esses efeitos e apenas estrangeiros quanto ao seu futuro como trabalhadores franceses.
Pode a seguir perguntar-se quanto tempo levará a sociedade francesa – e já agora, alemã, inglesa, belga ou...portuguesa – a fabricar mais estrangeiros destes. Há várias projecções que apontam que daqui por 2 ou 3 gerações, a taxa de desemprego europeia vai estar próximo do que está hoje neste grupo dos jovens filhos de magrebinos em França: acima dos 30%, próximo dos 40%.
Nessa altura, vamos ser todos de Grigny-la-Grande Borne: registados em tudo quanto é repartição, estrangeiros a tudo quanto é emprego e perspectivas de futuro. Vamos ser todos “escumalha”? Provavelmente não, porque seremos nessa altura uma maioria (não um grupo “visível”) e visto que continuaremos a votar, não se dizem tais coisas do eleitorado. Mas se vivermos, ainda que anafados e com problemas de colesterol, em belos bairros periféricos, se estudarmos em escolas públicas degradadas o máximo de tempo possível (não para aprender grande coisa mas para pesarmos o mais tarde possível nas estatísticas do desemprego) e se não tivermos nunca como perspectiva de trabalho senão os 15 dias de substituição que a agência de “recursos humanos” nos enviar em cada seis meses, atenção.
Para citar um outro francês, mais polido do que Sarkozy (ele próprio um emigrado, só que do tempo das vacas gordas), De te fabula narratur. É de nós que se fala nesta história dos estrangeiros.

[Maria Amália Cabrita]
*
Quase no fim o projecto "Contrasenso" na Voz de Loulé. A próxima coluna será a última.